“Estou extremamente decepcionada, vocês não podem imaginar. Não tive tempo para pensar em nada durante a luta, só lutei por cada ponto... Eu costumava vencê-la”, disse a campeã de esgrima em 2016, Inna Deriglazova, de 31 anos, que no último dia 25 de julho, conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio.
Inna chegou com facilidade à final, mas acabou perdendo para a norte-americana Lee Kiefer na última disputa, com um placar de 13:15. Sua decepção é, de certo modo, compreensível: seis vezes campeã mundial, quatro vezes campeã europeia e detentora de medalhas em três Olimpíadas, ela não é do tipo que aceita derrotas.
Desde o início, a rival de Inna permaneceu na ofensiva. Ainda assim, diversas vezes, Deriglazova conseguiu manter o placar de igual para igual até enfim ser derrotada por Lee.
Inna nasceu em 10 de março de 1990, na pequena cidade de Kurtchatov, região de Kursk (474 km de Moscou). Quando tinha oito anos, recebeu em sua escola a visita da treinadora Lidia Safiullina, que estava em busca de futuros atletas de destaque.
“Eu estava diante de uma escolha. Eu realmente gostava de ginástica rítmica e patinação artística. Não tinha ideia do que era esgrima nem poderia imaginar [entrar na modalidade], mas foi assim que tudo acabou... Eu até fui até minha mãe e perguntei: ‘Posso, por favor, treinar esgrima?'. Ela ficou surpresa, dizendo que o esporte era adequado sobretudo para meninos, ‘mosqueteiros’. Mas eu fiquei interessada, então me matriculei no curso”, lembra.
No início, Inna e uma amiga estavam simplesmente curiosas e deixavam de ir às aulas ocasionalmente, mas em pouco tempo, ela recebeu seu primeiro florete de verdade e já estava competindo em nível municipal. Foi então que Deriglazova percebeu que havia se apaixonado pelo esporte - após conquistar suas primeiras vitórias em competições.
Aos 12 anos, já estava acostumada a vencer esgrimistas mais experientes de 16 anos. No 10º ano da escola, Inna participava de torneios com cadetes e seu desempenho acadêmico refletia isso: começou a tirar Cs, ao invés dos habituais Bs.
No entanto, depois de terminar a escola, Inna matriculou-se na Universidade Estadual do Sudoeste, em Kursk, e começou a cursar direito. Nem tudo foi fácil, mas Inna se diz grata pelos padrões acadêmicos rígidos pelos quais a instituição é conhecida.
Aos 18 anos, Inna se casou e, no ano seguinte, deu à luz uma filha. Segundo ela, não deixou de treinar durante os meses de gravidez.
“Percebi que o esporte só se tornaria mais difícil com o tempo. Eu não sabia se poderia voltar, mas meu técnico treinou comigo mesmo durante a gravidez - me dava aulas [comigo sentada] em uma cadeira, grávida de oito meses. Claro, voltar depois da gravidez é difícil, mas minha idade muito jovem tornou isso possível”, conta.
Em 2010, a atleta chegou à seleção nacional e, em menos de dois meses, ficou em segundo lugar no Campeonato Russo. Poucos meses depois, a jovem mãe conquistou a medalha de bronze individual e por equipe na Europa, perdendo nas semifinais para a italiana Valentina Vezzali. Em 2011, Deriglazova ganhou seu primeiro ouro por equipe no campeonato mundial.
Dois anos depois, ela participou dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, levando a prata em uma competição por equipes. Em 2016, recebeu medalha de ouro nos individuais no Rio de Janeiro - a única outra russa a conquistar tal feito foi Elena Belova, em 1968.
“Na batalha de personalidades, a bravura sempre vence... Não acredito que ser campeã olímpica tenha me feito chegar ao meu limite. Há quem foi cinco vezes campeão olímpico. Há conquistas muito maiores pelas quais podemos nos empenhar”, comentou após a vitória.
Inna passou a maior parte do tempo se preparando para as Olimpíadas de Tóquio em sua cidade natal, Kurtchatov, onde mora atualmente.
“Para mim, descanso é trabalho e treinamento, mas aqui em Kurchatov. Continuo treinando duas vezes por dia durante a semana inteira aqui também, exceto sábado, mas é muito mais fácil lidar com a intensidade em casa”, afirma.
Deriglazova se divorciou em 2019, mantendo a custódia de sua filha, Diana, que cria com a ajuda de sua mãe. Diana também gosta de esgrima e dança.
Em seu tempo livre, Inna diz gostar de ouvir música romântica, ler e andar de motoneta.
No entanto, Deriglazova não desistiu do ouro e planeja conquistar o prêmio máximo na competição por equipes nas Olimpíadas de Tóquio. Quanto aos Jogos Olímpicos de 2024 em Paris, sua participação ainda é incerta.
“Neste momento, tenho que pensar apenas nas partidas por equipe. As Olimpíadas continuam. Vou relaxar por alguns meses depois e decidir. Eu gostaria de continuar competindo. E eu quero ter sucesso nisso. Mas, para fazê-lo, preciso de grande fonte de força de vontade e saúde. Então, veremos”, declarou Inna, após sua primeira partida.
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