Como os russos diferem de outras nacionalidades? Perguntamos aos próprios russos!

Legion Media
Eles têm uma ideia toda especial em relação à amizade, mas também tendem a deixar tudo para o último minuto... Conheçam os russos!

Os russos são frios, rudes e não gostam de sorrir: isso é o que as pessoas se acostumaram a ver na TV. Vodca, caviar e chapéus com aba na orelha são os principais símbolos que ajudaram a retratar de forma inequívoca o estereótipo russo em filmes e programas para que o mundo todo os reconhecesse instantaneamente.

No entanto, como já dissemos muitas vezes, muitos desses estereótipos são apenas mitos. E, embora, a "misteriosa alma russa" seja uma ideia que resistiu ao tempo, quem é que sabe o que isso quer dizer?

Para fornecer uma visão mais atualizada sobre a mentalidade russa e suas características exclusivas, decidimos pedir aos próprios russos que compartilhem o que eles acham ser único sobre sua própria psicologia...

“Em primeiro lugar, nós, russos, temos uma ‘grande alma’ e damos tudo a alguém de quem gostamos. Adoramos conversar sobre assuntos pessoais — o que, aos olhos de alguns estrangeiros, pode parecer exagerado. Em segundo lugar, tem o fatalismo russo, ou seja, 'não se pode evitar o próprio destino... e portanto precisamos beber!’. E, em terceiro lugar, tem a preguiça: 'Eu poderia voar para o espaço... mas tem um gato deitado no meu colo'”, diz a comissária de bordo Olga, de São Petersburgo.

“Temos uma abordagem especial em relação à amizade — caso contrário, por que teríamos três categorias diferentes: amigos, companheiros e conhecidos? Se consideramos uma pessoa como amigo, estamos prontos a fazer qualquer coisa para ajudá-lo, dar-lhe a nossa última camisa. Além disso, temos ciúmes — queremos a atenção de nossos amigos e ficamos chateados se eles não telefonam por algum tempo, por exemplo. Também é importante para nós discutir nossa vida pessoal com alguém, de coração para coração. Muitos russos dizem: ‘Por que precisamos de psicólogos se podemos falar com um amigo?’", diz o jornalista moscovita Sasha.

“Nossa ‘alma russa’ se formou depois de 1917. Igualdade era o principal princípio da comunicação na sociedade, portanto, tendo naturalmente o coração aberto, desenvolvemos qualidades intraduzíveis como ‘panibratstvo’ [a qualidade de ser sem-cerimônia]. Simplificando, existe uma distância muito, muito, muito curta entre você e uma pessoa que você vê pela primeira vez na vida. Pergunte-me quantas histórias de amor já tive na minha vida e não hesitarei em contar com sinceridade. Mas, ao mesmo tempo, ficaríamos chocados com a falta de educação estrangeira ao ouvir perguntas sobre nossa renda”, diz Ariana, guia turística de São Petersburgo.

“Continuando a lista: somos os maiores fatalistas do mundo, na minha opinião. Mesmo a genética, acreditamos ser mais um destino que uma ciência. Por isso, muitos estrangeiros que tentam encontrar um parceiro para toda a vida na Rússia não devem ficar chateados se algo der errado: simplesmente não é o seu destino!", completa Ariana.

“É difícil planejarmos nosso trabalho ou vida a longo prazo. Se tivermos um prazo final para o domingo e ainda for segunda-feira, não nos organizaremos para concluir nenhuma parte na terça ou quarta-feira e assim por diante. Não faremos nada além de pensar e nos preocupar com isso. Será só na última noite, de domingo, o dia do prazo, que tudo começará! Sob imensa pressão e terrível estresse, o trabalho finalmente será realizado. É apenas nesses tipos de situações de crise, sob notável pressão externa, que prosperamos, e nossos talentos criativos e gerenciais produzem a maioria dos resultados”, diz Vsevolod, um gerente moscovita.

“Além da incapacidade de planejar com antecedência, somos bastante espontâneos. É comum que de repente decidamos ir a algum lugar no fim de semana ou liguemos para nossos amigos e os convidemos para um encontro no mesmo dia. Eu sei que para alguns estrangeiros isso é algo surpreendente, porque eles planejam esses encontros com três semanas de antecedência. Além disso, notei que muitos russos são dorminhocos. Se, em um dia de fim de semana, você for a uma loja, museu ou parque às 10h, não verá ninguém ali. No Japão, por exemplo, todos passam muito tempo acordados e ocupados fazendo suas tarefas”, diz Natalia, editora moscovita que morou no Japão.

“Acho que os russos são muito inflexíveis. E essa perseverança se apresenta na capacidade deles de atingir seus objetivos. Além disso, há nosso pensamento lógico. Nos últimos cinco anos, venho organizando jogos em uma cidade cosmopolita como Montreal e tenho visto muitas pessoas diferentes e suas abordagens para resolver problemas. Portanto, posso dizer que é fácil identificar os russos devido a seu pensamento lógico. E os russos adoram jogar xadrez!”, diz o empresário moscovita Aleksandr.

“Conheci muitas pessoas de diferentes países e cheguei à conclusão de que não se trata realmente de uma determinada nacionalidade, mas de uma personalidade particular. Todos nós somos muito parecidos. No entanto, na coletividade, eu diria que os russos no exterior tendem a ficar juntos: eles preferem criar seu próprio círculo de amigos russos em vez de aprender mais sobre uma nova cultura e dar o melhor para se integrar. Vi isso muito claramente entre russos e chineses”, diz Viktoria, gerente de projetos de Moscou que viveu e trabalhou nos EUA.

“O povo russo é conhecido por sua coragem, que às vezes pode gerar problemas, mas ainda nos permite superar muitos dos desafios. As crianças aprendem ‘a ser russas’ desde a infância: de frases cativantes a hábitos alimentares, da desconfiança em relação a estranhos a noites memoráveis ​​na cozinha. Temos orgulho de sermos cheios dessa alma. Tocar músicas no violão, fazer churrasco, pular na água gelada durante o invernos... Um russo entende que todas as coisas materiais existem para desfrutá-las, mas só se pode encontrar a verdadeira felicidade em estar com as pessoas, a família e a natureza... Temos a cultura mais extraordinária do planeta porque é só no nosso país que um físico, um mineiro e um empresário podem sentar-se juntos a uma mesa e imediatamente começar a recitar poemas de Púchkin e Maiakóvski”, diz Daniil, empresário de São Petersburgo que reside atualmente no Canadá.

“Acho que os russos em geral não gostam de seguir regras. Assim que precisam fazê-lo, eles começam imediatamente a pensar em maneiras de contornar isso. Além disso, muitos russos não vivem dentro de suas possibilidades. Eles preferem viver o 'aqui e agora' e comprar coisas que não podem pagar, seja para impressionar alguém ou para possuir as mesmas coisas que outras pessoas têm. E eles não têm problema nenhum em pegar empréstimos para tanto. ‘Não temos dinheiro, mas pelo menos vamos aproveitar a vida um pouco e ver no que dá, vamos dar um jeito’, eles pendam. Daí a conclusão de que os russos têm pouca educação financeira e não conseguem planejar seu orçamento. Isso também aponta para um certo traço nacional: ‘Vivemos só uma vez, então precisamos nos divertir’", analisa a editora moscovita Svetoslava.

“Não podemos viver sem lojas 24 horas — e não estamos falando de lojas de comida apenas, mas de azulejos a eletrônicos. Além disso, nos acostumamos rapidamente com os novos serviços digitais. Por exemplo, uma amiga tem um namorado alemão e ele ficou chocado quando soube que ela pode pagar uma multa on-line na Rússia, apenas com um clique, enquanto ele primeiro tem que ir ao correio, depois ao caixa eletrônico e só então pagar a multa em dinheiro, no banco, na Alemanha. Outra amiga me disse que ela e o marido tiveram que cruzar metade dos EUA para encontrar um lugar onde fosse possível comprar algo via Apple Pay - e eles encontraram só um lugar, o Apple Campus”, diz Iúlia, produtora moscovita.

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