“Integrei a tripulação de marinheiros russos transportando gás liquefeito no Ártico”

Alexander Ryumin/TASS
Cerca de 30 homens e mulheres trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, para garantir que carga explosiva de 172 mil metros cúbicos de gás liquefeito, no valor de US$ 62 milhões, seja entregue à Europa a tempo. Não é moleza, não.

Ali estava eu: em uma tarde gelada no início de fevereiro, na Península de Iamal, preparando-me para uma viagem através do gelado Oceano Ártico a bordo de um dos maiores petroleiros do mundo, o “Christophe de Margerie”.

A embarcação estava carregando gás liquefeito da planta de GNL de Iamal em seus tanques aparentemente sem fundo. A fábrica foi construída há alguns anos na aldeia de Sabetta, no Golfo de Ob. A escuridão da noite polar, o emaranhado de canos gigantescos, os holofotes que ofuscavam a vista e o brilho da neve que batia no rosto criaram uma atmosfera enigmática. A prancha de desembarque parecia interminável – para chegar ao navio, que rangia nas águas agitadas, tive que subir quatro andares.

Uma vez a bordo, fui recebido por vários vigias de ombros largos. Eles vestiam macacão acolchoado azul e vermelho, com capuz cobrindo a cabeça para que seus rostos ficassem obscurecidos. O menor deles estendeu uma pequena mão com luva e disse em voz baixa: “Vou levá-lo ao capitão”. Corri atrás dela, uma das quatro mulheres a bordo do navio, tropeçando em anteparos de metal. Uma viagem para a Noruega em um petroleiro carregado com quase 200.000 toneladas de gás para clientes na Europa estava à minha espera. Onde foi que eu me meti?

Uma semana depois

Eu estava passando minha sétima noite na cabine, admirando a noite polar escura através da vigia. Em algum lugar nas entranhas do navio, um motor a diesel fazia um barulho estrondoso, e o feroz vento do norte uivava lá fora.

“Trabalho duro” assume um significado completamente diferente a bordo de um tanque de gás cambaleando pelo Ártico. Imagine -40°C com fortes rajadas de vento, tempestades de neve, visibilidade terrível, turnos de 24 horas e quase nenhum descanso –isso enquanto a embarcação vai se chocando contra o gelo. Acima de tudo, é preciso proteger a carga explosiva (e entregá-la no prazo). A tripulação navega por um clima imprevisível e deve mudar de rumo a qualquer momento, para evitar tempestades. A vida no “Christophe de Margerie” não é, certamente, um mar de rosas.

Navegando pelo gelo

“Christophe de Margerie” é o primeiro navio-tanque de uma série de 15 navios similares (dez já estão operando na Rota do Mar do Norte). Trata-se de um projeto conjunto da Sovcomflot, Yamal LNG e Total, com o apoio de institutos e construtores russos e finlandeses. Possui excelente capacidade de manobra, mesmo em condições difíceis, já que seus motores são tão poderosos quanto os de um quebra-gelo atômico.

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Segundo os responsáveis, o navio é capaz de transportar gás liquefeito suficiente, em seus quatro tanques, para abastecer a Suécia inteira por um mês. O gás é produzido na Península de Iamal, liquefeito na planta local e depois enviado os compradores.

A navegação desse tipo de navio pelo golfo de Ob não é uma tarefa fácil. Não há dificuldade de manobrar a embarcação no porto de Sabetta, onde está localizada a planta de GNL, mas, para entrar no mar de Kara ou retornar ao porto, só é possível usar um canal artificial de 50 km de comprimento (300 metros de largura e 14 metros de profundidade) – o que pode soar como um grande espaço, mas o “Christophe de Margerie” é um enorme navio com um calado enorme. Além do mais, o gelo no canal geralmente está à deriva a um ritmo considerável; por isso, esquivar-se dele, evitando ficar encalhado, requer muita habilidade e concentração.

O capitão não tem margem para erro. Cada movimento dele, cada rotação no sistema Azipod, cada aumento ou redução de velocidade do motor deve ser perfeito. Ele é responsável por um enorme petroleiro, do tamanho de um prédio de dez andares na horizontal, carregado com uma quantidade enorme de gás liquefeito (no valor de US$ 62 milhões). Também responde pelo navio, que vale US$ 330 milhões, e pela vida dos 30 tripulantes a bordo, sem falar da reputação da empresa – e da própria Rússia.

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