Surpresa na Rússia: como Richard Gere quis interpretar Púchkin, mas perdeu para Michael Jackson

Visita mais recente de Gere à Rússia aconteceu em novembro passado

Visita mais recente de Gere à Rússia aconteceu em novembro passado

Reuters
O astro de “Uma Linda Mulher” queria fazer um filme sobre o poeta Aleksandr Púchkin. Porém, em vez de Gere no papel principal, os executivos de Hollywood queriam que Michael Jackson interpretasse o escritor do século 19.

Richard Gere esteve pela primeira vez na Rússia durante a perestroika, no final da década de 1980, e sua visita mais recente, aconteceu em novembro passado, quando viajou a Moscou para apresentar os indicados na premiação musical BraVo(novo prêmio dedicado exclusivamente a música clássica e popular russa).

Desta última vez, Gere estava acompanhado da veterana do cinema italiano, Sophia Loren, e dos músicos Duran Duran e Natalia Imbruglia. Em seu discurso, ele mostrou esperança no futuro da premiação e citou sua primeira visita à Rússia, em 1989.

Projeto Púchkin abortado

Em 1989, Gere chegou à URSS a convite do Festival Internacional de Cinema de Moscou e aproveitou para viajar a Leningrado (atual São Petersburgo). Lá visitou o apartamento onde o poeta Aleksandr Púchkin morava quando morreu, em 1837. A história do poeta que, no auge de sua glória, foi assassinado em um duelo para proteger a honra de sua mulher, deixou o ator americano completamente fascinado.

Depois de voltar para os EUA, Gere escreveu ao diretor Serguêi Soloviov, que havia conhecido no festival, expressando o interesse em fazer um filme sobre Púchkin. Gere teria dito que não conseguia tirar da cabeça a história da vida do poeta. “Vamos fazer isso, apesar das chances”, disse Gere a Soloviov, convidando-o para ir a Hollywood.

O plano era rodar o filme nos EUA com Gere no papel principal, e Soloviov como diretor. Graças à sua popularidade depois de “Uma Linda Mulher”, Gere tinha influência para se aproximar dos chefes de vários grandes estúdios cinematográficos.

Gere (centro) presidiu júri no 19º Festival Internacional de Cinema de Moscou, composto também pelo diretor e amigo Serguêi Soloviov (à esq.)

“Um chefão de Hollywood disse a Gere: ‘Por que você está tão obcecado por Púchkin? Claro, ele é um grande poeta russo. Mas, antes de começar essa ofensiva psicológica sobre nós, você poderia ter pesquisado sobre Púchkin. Ele era negro [na verdade, um dos bisavós de Púchkin era do norte da África], e você não é… Nós pensamos sobre isso e vamos fazer o projeto, mas Michael Jackson irá interpretar Púchkin’”, relembrou, mais tarde, Soloviov, que ficou chocado com a ideia. E, desse modo, o projeto Gere-Púchkin morreu naquele exato momento.

Vários anos depois, em 1995, Gere voltou a participar do Festival de Cinema de Moscou, desta vez como presidente do júri. Havia tanta agitação acerca do ator que ele mal podia andar alguns metros até a coletiva de imprensa no prédio ao lado do hotel. Os organizadores insistiram em pedir uma limusine, e Gere teve que passar 40 minutos até chegar ao destino. Gere, por sua vez, acabou se mostrando um jurado exigente; naquele ano, ninguém recebeu o principal prêmio do festival.

Dos ícones ao álcool

Púchkin não foi a única lenda russa que impressionou o ator norte-americano – o pintor medieval de ícones Andrêi Rublev também causou o mesmo impacto. Durante a visita de Gere a Moscou em 1990, acompanhado da então namorada Cindy Crawford, o ator queria entender a essência dos ícones russos e, por isso, levou a parceira para um passeio pelo museu de arte da Rússia antiga. 

Ícones de Rublev e Teófanes, o Grego também impressionaram o ator

“Mais uma vez, assim como aconteceu com Púchkin, Gere enlouqueceu, com os ícones russos. Ele ficou impressionado com Rublev e Teófanes, o Grego. E, claro, [o ícone mais famoso de Rublev] ‘Trindade’ alimentou sua imaginação”, disse Soloviov.

Há boatos de que, durante essa viagem à Rússia, Gere queria definir sua situação com Crawford – e, seja como for, os dois se casaram pouco depois.

Outro momento de euforia se deu quando Gere descobriu como os russos compravam álcool à noite, quando as lojas já estavam fechadas. Juntamente com Soloviov, o ator foi a uma das estações de trem de Moscou às 2 da manhã. Um homem encontrou os dois e os escoltou até as escadas para a casa das caldeiras. Ali, o astro de Hollywood e o diretor russo receberam duas garrafas de vodca gelada e três pedaços de frango grelhados recém-tirados de uma das caldeiras. Comprar comida e bebida na casa das caldeiras de uma estação de trem o impressionou tanto quanto os ícones de Rublev. 

Para a decepção dos paparazzi

Seguidor do budismo, Gere também é conhecido por ser um bom fotógrafo. Em meados dos anos 2000, levou a Moscou sua exposição de fotografias dedicadas ao Tibete. Mas esta visita não teve episódios memoráveis como as de uma década antes.

Em 2004, Richard Gere apresentou em Moscou uma exposição com fotografias de suas viagens ao Tibete

Ao apresentar suas fotos, Gere só falou sobre o budismo, deixando os jornalistas decepcionados, uma vez que, na vida real, ele não correspondia à imagem do milionário, enraizada na cabeça das pessoas desde “Uma Linda Mulher”. O ator se mostrou muito mais interessado em conversas filosóficas.

Em 2004, a imprensa informou que Gere queria se encontrar com o presidente Vladimir Putin para discutir a situação das pessoas infectadas com o vírus HIV, mas a reunião jamais ocorreu.

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