Rússia proíbe importação de carne brasileira

Economia
DMÍTRI GOLUB
Repetida detecção de substâncias proibidas na carne suína e bovina do Brasil, maior fornecedor ao mercado russo, levou a embargo total. Após o anúncio, ministro brasileiro minimizou restrições e prometeu “correções”.

A partir de 1º de dezembro, A Rússia proibirá o fornecimento de carne suína e bovina do Brasil devido à repetida detecção do hormônio ractopamina, declarou a representante do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor), Iúlia Melano, à agência RBC.

A ractopamina é uma substância usada como suplemento alimentar para acelerar o crescimento de animais, sobretudo massa muscular, e reduzir os custos de produção.

De acordo com o Rosselkhoznadzor, a medida segue a legislação russa, que proíbe o uso de ractopamina e outros estimulantes para crescimento e engorda de animais, bem como a importação de produtos que contenham essas substâncias.

“Devido à gravidade da situação, o Rosselkhoznadzor é obrigado a tomar medidas urgentes para proteger os consumidores russos e o mercado interno de alimentos. Assim, a partir de 1º de dezembro deste ano, o Serviço introduzirá restrições temporárias sobre o fornecimento de todos os tipos de carne suína e de carne de gado brasileiras”, lê-se no comunicado da agência responsável.

O Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, declarou, em entrevista coletiva nesta terça (21), que as restrições da Rússia à carne bovina e suína do Brasil se referem apenas a algumas empresas e que essas companhias devem corrigir o problema identificado.

“O mercado não foi fechado, eles citaram três ou quatro empresas. No Brasil e em muitos países, a ractopamina é permitida. A Europa e a Rússia não aceitam. Nós temos um programa no ministério que rastreia isso, e temos a garantia de que o produto que vai à Rússia não tem [a substância]. Se alguma empresa fraudou, deixou passar ou não conseguiu controlar isso, cabe, sim, a eles fazerem as considerações, e nós fazemos as correções aqui”, disse Maggi, citado pelo portal O Globo.

A Rússia permitiu a importação de carne suína e bovina brasileira em 2013 e 2014, respectivamente, após várias negociações com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil. Na ocasião, porém, a pasta brasileira se comprometeu a fornecer produtos de carne que não contivessem ractopamina.

Já no primeiro semestre de 2014, o Brasil se tornou o maior exportador de carne de porco e bovina para a Rússia, ultrapassando os 176,4 mil toneladas.

Quase três anos depois, o Brasil mantém a liderança entre os fornecedores do produto ao mercado russo. De acordo com o Serviço Federal de Alfândega, nos primeiros nove meses de 2017, a Rússia importou 287 mil toneladas de carne brasileira (52,1% do volume total das importações do produto), no valor de US$ 885,8 milhões.

“De acordo com os estudos laboratoriais, a carne brasileira exportada para a Rússia em 2017 contém novamente estimulantes de crescimento de massa muscular de animais. O Serviço não exclui que a incapacidade de cumprir os compromissos anteriores se deve às mudanças estruturais no Brasil, que afetaram o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, lê-se no comunicado do Rosselkhoznadzor.

Consequências para o mercado russo 

Entre janeiro e setembro de 2017, o Brasil foi responsável por mais de 90% do total de importações russas de carne suína, de acordo com dados do diretor da Associação Nacional de Carnes da Rússia, Serguêi Iúchin. 

Segundo ele, o mercado russo não dispõe de alternativas para a carne de porco brasileira, uma vez que os países da União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá, que poderiam suprir grande parte da demanda, são alvo de outro embargo.

Ainda assim, Iúchin acredita que as restrições sobre os produtos brasileiros não deverão causar grandes problemas, já que a Rússia desenvolveu sua própria produção de carne suína e, de acordo com seus dados, a oferta é elevada.

Opinião semelhante é sustentada por Víktor Linnik, que preside de um dos maiores fabricantes de produtos de carne da Rússia, a holding Miratorg. “A produção local de carne suína está crescendo de 300 a 400 mil toneladas ao ano”, disse à agência RBC.

Mais cedo, o Ministério da Agricultura russo já havia anunciado o sucesso do programa de substituição das importações.

Desde a introdução do embargo a produtos dos EUA e UE, em 2013, a fatia das importações no mercado russo caiu de 26% para 8%, no final de 2016.

Além disso, “a carne bovina brasileira pode ser facilmente substituída por importações de outros países da América Latina: Uruguai, Paraguai e Argentina, onde há várias empresas certificadas para exportações ao mercado russo”, diz Linnik.

Como os produtos do Brasil são utilizados principalmente no processamento de carne e, assim, a proibição poderá ainda afetar o custo de salsichas cruas. Mas o presidente da Miratorg descarta a possibilidade de a nova proibição afetar significativamente os preços no mercado russo. “Os preços podem aumentar entre 5 e 10%”, disse.

Teoria alternativa

“A cooperação econômica funciona por meio de mecanismos compreensíveis e simples de equilíbrio do mercado [...] Os brasileiros vendem quase US$ 1 bilhão por ano em carne à Rússia, mas os produtores russos não são autorizados a fornecer seus produtos ao mercado de grãos e de carne [do Brasil]”, disse Linnik à agência RBC.

“Na minha opinião, o Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia deve assumir uma posição forte: se você fornecer ao mercado russo um produto no valor de US$ 1 bilhão, os russos devem ter a mesma oportunidade. Na realidade, as empresas russas não têm nem permissão para entrar no mercado brasileiro”, acrescentou.

Segundo Linnik, o ministro da Agricultura russo Aleksandr Tkatchev já declarou, em negociações com seu homólogo brasileiro, que “isso está errado e deve ser alterado”.