As 5 principais obras de Tchékhov que você precisa ler

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
O famoso autor Anton Tchékhov nunca escreveu obras longas, mas publicou mais de 500 contos e 17 peças, que ainda são encenadas em teatros mundo afora. Selecionamos os seus cinco principais trabalhos.

1. “Homem num estojo”

Outro grande escritor russo, Maksim Górki escreveu a Anton Tchékhov (também grafado como Chekhov em português): “Depois de ler sua história mais insignificante, todas as outras [obras de literatura] parecem grosseiras, escritas não com uma pena, mas com um tronco”.

Tchékhov escreveu muitos contos curtos, que, porém, não são inferiores em profundidade e características artísticas do que os grandes romances de grandes escritores russos. “Homem num estojo” é um dos mais conhecidos.

Nele, o autor apresenta um homem solitário que sempre tentava se esconder do mundo “em seu estojo”. Descreve um homem que “era notável por sempre calçar galochas e vestir um casaco quente estofado e carregar um guarda-chuva mesmo no melhor tempo”. E ele tinha estojos especiais para o guarda-chuva, a caneta, a faca e relógios de pulso. Trancava a casa com várias fechaduras e, aparentemente, queria se fechar para o mundo externo. Fazia tudo corretamente e tinha medo de qualquer coisa fora das regras. Quando ele morreu e foi colocado no caixão, seu rosto parecia feliz, como se “estivesse feliz de finalmente ser colocado em um estojo que nunca deixaria”.

Em russo, “homem num estojo” se tornou uma frase comum com uma conotação negativa, que é usada para descrever pessoas que têm medo de se abrir para o mundo e, assim, perdem oportunidades.

2. “Queridinha”

Olga é uma moça gentil e angelical, apelidada pelos amigos de dúchetchka (queridinha). Ela tem uma necessidade vital de sempre amar alguém, e depois de casar com um diretor de teatro, passa a se interessar e se envolver profundamente com a produção teatral. Quando o diretor morre, ela se casa com o gerente de um armazém de madeira e começa a trabalhar com ele, passando a achar que o negócio madeireiro é o mais importante do mundo. Ela se esquece do teatro rapidamente. Mas então seu segundo marido morre e... bem, você entendeu. E assim vai. Ela se sente feliz sempre cuidando de algum homem e se imiscuindo em seu mundo. Ela não apenas se interessa por cada marido, mas se torna uma assistente competente, até o seu vocabulário muda dependendo dos interesses do esposo.

Tolstói adorou esse conto de Tchékhov e ficou encantado com a protagonista. 

3. “Três Irmãs”

“Muitas conversas, pouca ação”, disse o próprio Tchékhov ao descrever esse clássico. Praticamente não tem enredo, mas, apesar de toda a melancolia e da óbvia inação dos personagens, essa peça ainda é encenada em muitos teatros por todo o mundo até hoje, inclusive no Brasil.

Três irmãs e um irmão vivem em uma cidade do interior. O pai deles morreu há um ano, e eles estão pensando no que fazer da vida. A mais velha, Olga, trabalha como professora, a do meio, Macha, é infeliz no casamento, e a mais nova não consegue encontrar um homem ou uma ocupação do seu agrado. Essas garotas inteligentes levam uma vida vazia e inútil, apenas sonhando em voltar a Moscou, onde lembram de ter tido uma infância feliz, e fazendo planos que não estão destinados a se tornar realidade.

4. “O Jardim das Cerejeiras”

“O Jardim das Cerejeiras”, de 1903, é a obra mais popular do autor e uma das peças mais encenadas na história mundial.

A protagonista Ranêvskaia é uma nobre que vive na França há anos com seu amante. Após gastar todo o seu dinheiro, ela eventualmente vai à falência. Ela então retorna à Rússia acompanhada da filha de 17 anos.

Sua enorme propriedade foi hipotecada, porém Ranêvskaia gastou o empréstimo e não pagou os juros. Com isso, o banco coloca a propriedade, incluindo o enorme jardim de cerejeiras da família, em leilão.

Um amigo da família chamado Lopakhin faz uma visita e sugere que Ranêvskaia corte o enorme jardim de cerejeiras e divida a terra em lotes, para alugá-los separadamente e ganhar dinheiro com isso.

Ranêvskaia recusa o plano e diz a Lopakhin que este jardim de cerejeiras é a relíquia de família. Quando chega o dia do leilão, para surpresa de todos, Lopakhin compra a propriedade com o jardim de cerejeiras. A peça termina ao som de machados cortando as árvores.

Explicamos o que está por trás dessa peça mais encenada russa aqui.

5. “Ilha de Sacalina”

Em 1890, Tchékhov, já doente com tuberculose, fez uma viagem impensável para a época, para a Ilha de Sacalina, no Extremo Oriente do Império Russo. A rota levou dois meses e meio, já que o escritor teve que atravessar toda a Sibéria. Naquele tempo, Sacalina era conhecida como uma terra distante onde prisioneiros ficavam exilados, um lugar “pior e mais longe que a Sibéria”.

Tchékhov viveu na ilha por cerca de três meses e estudou a vida dos povos locais e as vidas das pessoas condenadas à prisão perpétua.

Ele chegou a fazer até mesmo uma espécie de censo da população, e redigiu um trabalho de não ficção descrevendo a vida dos habitantes da ilha, que poucos do mundo exterior conheciam anteriormente. Com precisão documental e em estilo seco, ele descreveu tanto o castigo corporal quanto o trabalho infantil pesado.

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