O Russia Beyond recomenda: ‘Doutor Jivago’, de Boris Pasternak

Russia Beyond (Foto: Domínio público; Companhia das Letras, 2017)
Livro tem como pano de fundo o turbulento início do século 20, com suas revoluções, guerra civil e duas guerras mundiais e, ainda mais importante, como esses eventos afetam as vidas das pessoas.

O médico moscovita Iúri Jivago busca se esconder durante a Guerra Civil, mas é capturado pelo Exército Vermelho e forçado a trabalhar como médico em suas fileiras. Ele acaba trocando a mulher e os filhos por Lara, um presente do destino em uma longínqua cidade do interior. Lara, porém, o deixa e vai para um lugar seguro, enquanto Iúri retorna a Moscou, onde cai em uma profunda depressão e morre.

Iúri Jivago fica órfão cedo e é criado pela família de um professor universitário de Moscou. Já adulto, ele se casa com Tonia, filha do professor, mas quando ela dá à luz seu filho, Iúri precisa a se unir à linha de frente da Primeira Guerra Mundial como médico.

Doutor Jivago (1965) com Omar Sharif e Julie Christie.

Depois de voltar da guerra, ele se encontra no meio da Revolução e da Guerra Civil na Rússia. Iúri leva a família embora e foge para uma cidade provincial nos Urais, tentando se esconder dos turbulentos eventos e da violência, do roubo e da fome.

Nessa cidade, ele conhece uma mulher chamada Lara que já havia visto em Moscou. Ela parece uma completa estranha, de vida misteriosa e cheia de drama, cujo marido partiu para a Revolução. Mas, no meio desse pesadelo, os dois se apaixonam, descobrindo serem incrivelmente próximos.

Oleg Menshikov como Jivago na adaptação russa do romance para minissérie.

Iúri sente o peso da consciência ao trair a esposa. Quando está prestes a se confessar para ela, a vida vira de cabeça para baixo novamente: Iúri se separa de Lara e de sua família e é capturado pelo Exército Vermelho. Durante um ano e meio, ele é forçado a trabalhar na Sibéria como médico para os bolcheviques.

Depois de fugir do cativeiro a pé, Iúri volta para os Urais, mas ali só encontra Lara - a esposa e os filhos voltaram para Moscou e lhe enviaram uma carta dizendo terem sido forçados a deixar o país junto com o sogro dele.

Iúri e Lara ficam juntos e, durante todo o inverno, se escondem da Guerra Civil em uma propriedade abandonada e remota. Mas sua vida miserável, porém feliz, é interrompida pelo retorno do marido de Lara, que pede a Jivago para deixá-la ir embora consigo, porque ele pode ajudá-la a emigrar e, assim, salvá-la. Desconfia-se que Lara esteja grávida, então Iúri a deixa ir.

Depois que a Guerra Civil termina e os bolcheviques tomam o poder em todo o país, Iúri volta a Moscou e vive com outra mulher, mas não é feliz. Uma manhã, em 1929, ele morre de um ataque cardíaco em um bonde. Por acidente, Lara comparece ao seu funeral e começa até mesmo a vasculhar as anotações dele, mas, de repente, desaparece. A hipótese mais provável de leitores e críticos é a de que ela teria sido presa e morrido no Gulag.

O que há por trás do romance?

O último capítulo do livro é composto por uma coleção de poemas de Iúri Jivago e representa uma parte muito importante e profunda da história. O autor do livro, Pasternak, era um poeta e também teve uma vida pessoal complicada, pois assim como o protagonista Jivago, também amou duas mulheres e transitava entre as duas. Assim, considera-se que Jivago seja uma personagem semi-biográfica.

"Doutor Jivago" não tinha chances de ser publicado na URSS. Formalmente, o livro trata da Guerra Civil, mas, no fundo, é um romance sobre pessoas, sobre amor e morte, o sentido da vida e o próprio universo – ou seja, absolutamente impossível de ser publicado nos tempos soviéticos, pois não fazia uma figura positiva dos bolcheviques e, em vez disso, mostrava-os como bárbaros que arruinaram muitas vidas.

Omar Sharif como Doutor Jivago na adaptação feita por David Lean.

O romance foi proibido na URSS, mas Pasternak conseguiu enviar o livro para o Ocidente e, em 1957, Doutor Jivago foi publicado na Itália pela editora Feltrinelli. Mais tarde, a CIA revelou os documentos que a agência estava envolvida em trazer o livro à luz. Era outra "arma" de propaganda contra o Estado soviético. 

Em 1958, Pasternak foi anunciado vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. As autoridades soviéticas ficaram ensandecidas com a premiação, recebendo-a como um ataque político contra a União Soviética. Assim se iniciou uma campanha completa contra Pasternak na URSS que envolvia o próprio chefe de Estado, Nikita Khruschov.

Pasternak tornou-se persona non grata e todas as suas obras foram proibidas. "Não li Pasternak, mas o condeno" tornou-se uma expressão idiomática para o absurdo da situação. A campanha de ataques a Pasternak arruinou a saúde do autor. Ele morreu de câncer em 1960. 

O romance foi publicado oficialmente pela primeira vez na URSS em 1988 e hoje faz parte de todas as listas de leitura obrigatória escolar e universitária. Ele é considerado um dos romances mais importantes do século 20.

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