O Russia Beyond recomenda: “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov

Galeria Tretiakov; Editora Lafonte, 2023
“O Jardim das Cerejeiras”, de 1903, é a obra mais popular do autor e uma das peças mais encenadas na história mundial.

Anton Tchekhov é, provavelmente, o único escritor russo que não gosta de drama. Ao contrário de Tolstói e Dostoiévski, ele descreve tudo em um tom de calmaria, escondendo a dramaticidade nas entrelinhas. 

Apresentamos abaixo um resumo deste clássico que descreve a destruição do antigo modo de vida nobre:

Uma viúva nobre vai à falência. Um rico comerciante, filho de um ex-servo, a aconselha a cortar o jardim de cerejeiras em sua propriedade rural e dividir a terra em lotes para alugar. Ela se recusa, porém o comerciante compra a sua propriedade e cumpre o plano proposto.

Alerta de spoiler!

A protagonista Ranêvskaia é uma nobre que vive na França há anos com seu amante. Após gastar todo o seu dinheiro, ela eventualmente vai à falência. Ela então retorna à Rússia acompanhada da filha de 17 anos.

Sua enorme propriedade foi hipotecada, porém Ranêvskaia gastou o empréstimo e não pagou os juros. Com isso, o banco coloca a propriedade, incluindo o enorme jardim de cerejeiras da família, em leilão.

Ranêvskaia fica desesperada. Seu irmão Leonid Gaiev tenta ajudá-la e sugere comprar a sua propriedade, mas não tem dinheiro suficiente para isso.

Um amigo da família chamado Lopakhin faz uma visita. Filho de um ex-servo, ele agora é um rico comerciante e um homem de visões progressistas. Lopakhin sugere que Ranêvskaia corte o enorme jardim de cerejeiras e divida a terra em lotes, para alugá-los separadamente e ganhar dinheiro com isso.

Cena do filme “O Jardim”.

Sendo uma sonhadora distraída, ela recusa o plano. Ranêvskaia diz a Lopakhin que este jardim de cerejeiras é a relíquia de família, que todos os seus ancestrais, ela e seus filhos cresceram nesse jardim e que ela simplesmente não consegue ver sua vida sem ele.

Quando chega o dia do leilão, para surpresa de todos, Lopakhin compra a propriedade com o jardim de cerejeiras. Ranêvskaia retorna a Paris para gastar o dinheiro que a sogra deu à filha dela.

A peça termina ao som de machados cortando cerejeiras.

O que há por trás da peça?

Essa peça incrivelmente popular, escrita em 1903, ou seja, 14 anos antes da revolução bolchevique, fala sobre a destruição do antigo modo de vida nobre.

O autor mostra todas as pessoas nobres como sonhadores que perderam a conexão com a vida real. Enquanto isso, o filho de um ex-servo não é apenas um homem rico e bem-sucedido, mas também uma pessoa realista. Ele fala sobre coisas que ninguém quer ouvir. E, eventualmente, vence.

A nova vida e o progresso triunfam sobre o jardim de cerejeiras que não traz dinheiro, apenas memórias melancólicas.

O som de machados cortando a madeira é, na verdade, um símbolo não só de como a vida antiga está sendo destruída, mas também como os nobres são redundantes nesta nova vida e como o progresso triunfa.

Cena da peça ‘O Jardim de Cerejeiras’ dirigida por Andrei Kontchalovski no Teatro Mossovet. Iúlia Vissótskaia (de vestido branco) como Ranêvskaia.

A peça foi encenada pela primeira vez em 17 de janeiro de 1904 no Teatro de Arte de Moscou em uma produção dirigida por Konstantin Stanislávski. Tchekhov caracterizava a obra como uma comédia com elementos da farsa, mas Stanislávski insistia em dirigi-la como uma tragédia. 

Desde a primeira produção no Teatro de Arte de Moscou, essa peça tem sido traduzida e adaptada para diversas línguas e produzida por todo o mundo, tornando-se um clássico da literatura dramática. Foi interpretada por inúmeros diretores teatrais, entre eles Charles Laughton, Peter Brook, Andrei Serban, Eva Le Gallienne, Jean-Louis Barrault, Tyrone Guthrie, Giorgio Strehler e Ajitesh Bandopadhyay.

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