As 6 primeiras escritoras russas

Russia Beyond (Foto: Aleksandr Varnek; Domínio público ; Michael Nicholson/Corbis/Getty Images)
Desde pelo menos o século 18 a Rússia conta com publicações de escritoras em poesia, traduções e ficção. Por exemplo, a irmã de Pedro, o Grande, tsarevna Natália Aleksêievna, escreveu peças para seu próprio teatro, e os talentos de Catarina, a Grande como articulista são amplamente conhecidos do público russo.
  1. Natália Dolgorukova (1717-1771)

A tsarevna (princesa) Natália Dolgorukova, irmã de Pedro, o Grande, é considerada uma das primeiras escritoras da Rússia. Sua biografia teve verdadeiros altos e baixos: desde a aproximação da corte de Pedro até seu marido cair em desgraça, o exílio na Sibéria e sua tonsura como freira.

Suas memórias, intituladas "Notas da Princesa Natália Boríssovna Dolgorukaia, filha do Marechal de Campo Conde Borís Petróvitch Cheremétev" foram elogiadas pelo crítico Dmítri Sviatopolk-Mirski pela "sinceridade da história" e o "magnífico e mais puro uso da língua russa".

  1. Catarina, a Grande (1729-1796)

A imperatriz Catarina, a Grande (que reinou de 1762 a 1796), pregando os ideais de Rousseau, achava que conhecimento do mundo deveria ser adquirido desde a infância pela leitura. Prussiana de nascimento, ela manteve permanente correspondência com filósofos franceses, como Voltaire, que chegou a visitar a corte de São Petersburgo, então capital russa. As "Luzes" da imperatriz foram, porém, mais lenda que realidade em alguns âmbitos: embora ela tenha realizado reformas administrativas importantes, incentivando as universidades de Moscou e São Petersburgo, estimulando as ciências naturais, apoiando a agricultura na Ucrânia e nas margens do Volga, foi implacável com antagonistas políticos e durante seu reinado foi criada a Zona de Assentamento Judeu, que restringia a circulação de pessoas dessa religião no restante do império.

Como escritora, Catarina, a Grande, foi representante do tipo de didática da nobreza que era particularmente característica do século 18 russo. Ela entendia sua escrita como uma ferramenta para popularizar as ideias de Iluminismo absolutista, defendidas por ela no primeiro período, "liberal", de seu reinado. A maioria de suas obras eram sátiras.

Expressando as aspirações de uma grande nobreza aristocrática, Catarina dirige a acidez de sua sátira, de um lado, contra a aristocracia média e mesquinha, ridicularizando a imitação inculta e cega dos franceses, e, de outro, contra as tentativas de uma análise independente das questões sociais que surgem da intelligentsia burguesa.

O conhecimento de Catarina da vida da cidade e da nobreza provincial lhe fora transmitido pelos literatos que a rodeavam, em colaboração com os quais escrevia suas obras. Inicialmente, ela atuou como jornalista e, em 1769, fundou a revista "Qualquer coisa", onde contribuiu com algumas notas (como a "Carta do Patriarca Pravdomislov" etc.).

A partir do ano de 1772 ela escreveu uma série de comédias e, em 1783 ela participou de perto da revista "Mensageiro dos amantes das letras russas" (1783-1784), publicada pela princesa Dachkova "às custas da Academia Imperial de Ciências", na qual Catarina era, na realidade, editora. Ali era publicada uma coluna sua com notas satíricas sobre diversos assuntos, principalmente sobre as maneiras da época, algumas delas dirigidas contra os cortesãos que a cercavam.

Ela também escreveu óperas cômicas, contos de fadas utópicos nos quais apresentava sua opinião sobre os problemas da educação etc. Catarina é considerada pioneira na prosa literária infantojuvenil russa por dois textos: um deles é o Conto do Tsarévitche Cloro, que dedicou aos netos, Alexandre, futuro imperador, e Constantino.

  1. Anna Bunina (1774-1829)

Anna Bunina, cujo parente mais conhecido é, provavelmente, o escritor Ivan Bunin (1870-1953) é considerada a primeira poetisa profissional da Rússia, frequentemente apelidada de “Safo russa”. Ela escreveu odes a feitos heróicos que foram elogiadas por nomes importantes, como os poetas Nikolai Karamzín e Gravriil Derjávin.

Mas seus contemporâneos mais jovens da "Idade de Ouro" da poesia russa consideravam seus poemas antiquados e a chamavam de "cadáver poético". Aleksandr Púchkin, considerado o principal poeta russo até hoje, zombava daquilo que chamava de "disparates" e "poemas bobos" de Bunina.

Konstantin Bátiuchkov também destilava veneno contra a poeta, aludindo ao suicídio de Safo: "Mas, para minha tristeza, / Você não conhece o caminho para o mar."

  1. Nadêjda Durova (1783-1866)

Esta valente senhora da cavalaria que serviu no exército e lutou contra Napoleão preferia ser chamada de Aleksandr Aleksandrov. Sua obra principal, “Notas de uma Donzela da Cavalaria”, foi publicado pela primeira vez por Alexandr Púchkin. Na verdade, foi ele quem revelou sua identidade e seu segredo (de ela ser uma mulher que assumira a identidade masculina) contra sua vontade.

Dúrova ficou indignada com Púchkin, que lhe disse: "Seja corajosa! Entre no campo da literatura com tanta coragem como naquele campo que lhe rendeu fama!”

Durova escreveu sobre sua vida e a terrível e dolorosa posição em que se encontravam as mulheres de seu tempo, nascidas essencialmente "para viver e morrer na escravidão". Ela conta sua firme decisão de se "separar do sexo que pensava ser amaldiçoado por Deus" a todo custo. Ela também descreve como acabou servindo à cavalaria por engano e das primeiras batalhas de que participou.

  1. Ekaterina Avdeieva (1788-1865)

Ao contrário da maioria das escritoras de origem nobre, Avdeeva era proveniente de uma família de comerciantes e não recebeu qualquer tipo de educação formal (nem mesmo com tutores domésticos). Ela viveu em Irkutsk, viajou muito e escreveu um dos primeiros livros etnográficos russos, "Notas e Comentários sobre a Sibéria" (1837). Nele, ela reuniu histórias de vida e dos costumes locais, e incluiu notas sobre o folclore local e velhas canções russas.

Avdeieva escreveu mais tarde livros sobre economia doméstica e medicina popular, um livro de cozinha e livros de canções, além de gravar contos folclóricos para crianças. Mais tarde, folcloristas e colecionadores de contos de fadas aclamaram seu trabalho e o fato de ela ter realizado um registro autêntico diretamente “da boca do povo”. Em 1859, quando foi criado um Fundo Literário para ajudar os escritores da Rússia, Avdeeva passou a receber dele uma pensão, que durou o resto de sua vida.

  1. Sofia Kovaliévskaia (1850-1891)

Kovaliévskaia é conhecida sobretudo como a primeira professora universitária de matemática do mundo. Brilhante em tudo o que fazia, Kovaliévskaia também se dedicou à literatura. Ela escreveu em russo e sueco, passando parte de sua vida na Suécia.

Sua área de interesse era o livre pensamento e a efervescência juvenil dos anos 1860 (de que trata seu romance “A Família Vorontsov”), além do movimento o movimento Narodnik dos anos 1870.

Uma de suas obras mais conhecidas é o romance “O Niilista”, de 1884. Ele é baseado na história verdadeira de Vera Gontcharova, sobrinha de Púchkin, que decidiu se casar com um homem que não conhecia que tinha sido acusado e condenado por ser um revolucionário do movimento Narodnik.

A história foi publicada em sueco e russo, mas foi quase imediatamente proibida na Rússia. Segundo escreveu o censor, isso ocorreu devido à simpatia da obra pelo niilismo e porque ela "pinta com cores horríveis a situação dos criminosos políticos e o endurecimento do governo contra eles".

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