O que os escritores clássicos russos pensavam sobre o verão?

Legion Media
Púchkin amava e odiava ao mesmo tempo a época mais quente do ano. “Oh, verão vermelho! Eu te amaria, se não fosse o calor, a poeira, os mosquitos, as moscas”, escreveu ele no poema ‘Outono’. Muitas observações relacionadas ao verão podem ser encontradas nos diários e cartas de escritores russos. Selecionamos as mais emblemáticas.

Humor preguiçoso

Kornei Tchukóvski

Quando o tempo está bom lá fora, nada melhor do que curtir o tempo ao ar livre. Os escritores ficavam felizes com o verão e tristes por não poderem desistir de trabalhar em seu próximo livro. Mas a tentação estava rodando. “De repente, chegou o verão e me sinto afastado dos livros, dos pensamentos, do trabalho no jardim. Isso é muito desagradável e quero pelo menos me amarrar à mesa e não desistir”, admitiu Kornei Tchukóvski.

“Agora é verão e um lindo verão e estou, como sempre, tomado pela alegria da vida carnal, e esqueço meu trabalho. Este ano lutei muito, mas a beleza do mundo me derrotou”, escreveu Lev Tolstói.

Planos de férias

Fiódor Dostoiévski

Para muitos, o verão estava associado, é claro, a viagens e ao mar. Eles sonhavam com a despreocupação das férias e queriam pegar a estrada o mais rápido possível com o início do calor. Fiódor Dostoiévski escreveu: “Minha saúde está terrivelmente abalada; estou doente de nervosismo e tenho medo da febre. Não consigo viver decentemente, sou tão dissoluto. Se não posso nadar no mar no verão, então é um desastre!”

Mikhail Saltikov-Schedrin ficava preocupado se teria férias de verão. “As minhas férias, ao que parece, não vão acontecer; se não me for dada esta viagem de negócios, sobre a qual te escrevi, então, no verão, será decisivamente impossível para mim ir à aldeia, porque todos os negócios devem ser feitos sobretudo no verão; se não tiver nenhuma missão especial, certamente pedirei licença”, escreveu.

Retrato de Saltikov-Schedrin, por Nikolai Iarochenko.

Tchukóvski fazia planos: “Até junho aprenderemos a ler livros em inglês, pegaremos um barco. Maio no barco, junho e verão, em geral, em algum lugar nas profundezas do Cáucaso, gostaria de juntar algum dinheiro e ir para lá! E, para conseguir dinheiro, é preciso trabalhar. Como, onde, não sei”.

Nikolai Gógol insistia para que as pessoas deixassem a cidade no verão. “Sinto muito se você passa o verão em Moscou. Uma mudança é necessária para você, assim como para qualquer pessoa que passou o inverno em Moscou. Sinto muito se você não tem uma datcha, um lago com peixes, uma floresta e estradas para incentivá-lo a caminhar. Pelo amor de Deus, faça com que o seu verão não pareça inverno”, escreveu.

Retrato de Nikolai Gógol por Fiódor Moller.

Pensamentos sobre mudar de lugar também pairavam sobre a mente de Anton Tchekhov: “Sabe de uma coisa? Vamos escrever um romance neste verão! Vamos pegar muito dinheiro e ir para algum lugar”.

Estação frustrada

Mikhail Bulgákov

No entanto, o verão nem sempre trazia bom tempo. Chuvas prolongadas e temperaturas baixas não contribuíam para o bom humor. Bulgákov, por exemplo, compartilhou suas observações sobre isso: “O verão de 1923 em Moscou foi excepcional. Não passa um dia sem chuva, às vezes várias vezes. Em junho, houve duas chuvas torrenciais famosas, quando a calçada da [rua] Neglinny desabou e as calçadas ficaram inundadas. Hoje, houve algo semelhante — uma chuva torrencial com granizo grande. A vida continua caótica, rápida e um pesadelo”.

“Tivemos um verão desagradável. Raramente passava um dia sem chuva. Lembro-me de apenas uma semana quente, mas, no resto do tempo, tive que usar um casaco de outono e dormir sob um cobertor”, reclamou Tchekhov.

Anton Tchekhov

“O clima está sombrio. Receio que não possamos dizer adeus ao verão, assim como não fomos capazes de dizer olá a ele”, comentou Tchukóvski.

Mesmo ir para o exterior não resolvia sempre o problema do clima. Ao se encontrar em Baden-Baden, Saltikov-Schedrin ficou desagradavelmente surpreso: “O clima aqui está como em São Petersburgo durante todo o verão e agora segue fora de controle. Chuva caindo sem parar por três dias, nenhum raio de sol e o frio é puramente de outono. Não posso botar meu nariz na rua. Realmente, algum tipo de azar está me assombrando e persisto na ideia de que ter ficado na Rússia até setembro seria melhor e mais lucrativo”.

A melhor época do ano

Lev Tolstói

“À noite, no fim do mês, antes do amanhecer em julho. Está fresco, está úmido. Estou saindo para um encontro em um recanto. Tenho 17 anos. Há uma peculiaridade encantadora nas noites orvalhadas de julho. O sol é obscurecido por nuvens compridas, após um dia insuportavelmente quente", escreveu Lev Tolstói sobre as noites de verão em seus diários.

Konstantin Paustovski

Konstantin Paustovski estava preocupado que a estação estivesse acabando: “O verão está passando — o tempo enlouqueceu, as semanas estão passando como horas. Qual é o problema? Não entendo”.

Ivan Búnin

A mesma impressão foi compartilhada por Ivan Búnin: “Todo verão é uma traição cruel. Quantas esperanças, planos! E antes que você perceba, já se foi! E quantos deles eu tenho, esses anos? É de estremecer quão poucos. Quão recente foi, por exemplo, o que foi há sete anos! E há outros sete, bem, 14 — e o fim! Mas uma pessoa não consegue acreditar”.

Marina Tsvetáeva

Já Marina Tsvetáeva descreveu um incidente engraçado: “Este verão, eu estava sentada na tristeza depois de nadar. Um enorme cachorro branco e peludo veio e sentou ao meu lado. E então, Nadia: ‘É estranho olhar para você, senhora: por um lado, tem muita coisa, e, por outro, está faltando algo.”

LEIA TAMBÉM: O verão no olhar de artistas russos

O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies