O Russia Beyond recomenda: ‘O Don Tranquilo’, de Mikhail Chólokhov’

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Este romance épico retrata a vida cossaca em um dos tempos mais turbulentos da Rússia — a Revolução e a Guerra Civil, que romperam com a velha ordem mundial.

Um cossaco do Don sobrevive à Primeira Guerra Mundial, à Revolução e à Guerra Civil. Nesse tempo todo, ele não consegue decidir de que lado permanece, hesitando entre os vermelhos e depois os brancos e lutando por ambos. Com o tempo, ele se dá conta de que jamais entenderá qual o lado certo e acaba infeliz por ter perdido a mulher amada.

Grigóri Melekhov é um cossaco que vive em uma vila à beira do rio Don. Ele se apaixona por Aksínia, uma mulher casada. Enquanto o marido dela sai a negócios, eles têm um caso. Os rumores se espalham rapidamente, causando um grande escândalo. O marido então espanca Aksínia até quase morte, e o pai de Grigóri o força a se casar com Natália, uma mulher que ele não ama.

No entanto, a paixão dispara novamente e Grigóri começa a se envolver com Aksínia novamente. Por causa da condenação social, eles têm que fugir de suas casas e da vila. Eles então encontram um local de trabalho com um senhorio. Tempos depois, Aksínia dá à luz sua filha. Já a esposa de Grigóri, Natália, faz uma tentativa frustrada de suicídio.

A Primeira Guerra Mundial começa e Grigóri se junta ao exército. Para ele, é difícil suportar os horrores da guerra e dos assassinatos. Certo dia, ferido em um hospital, ele conhece um comunista e sente simpatia por suas ideias.

Nesse meio tempo, a sua filha morre e Aksínia vira amante do senhorio. Grigóri não perdoa e volta para sua esposa Natália, que deu à luz gêmeos.

É então que a Revolução Bolchevique de 1917 irrompe. Grigóri se junta aos vermelhos (ou bolcheviques, que eram parte do Exército Vermelho formado por Lênin), apesar da maioria dos cossacos estarem do lado dos brancos (forças opostas aos vermelhos, dispostas a restaurar a monarquia tsarista). Acontece que Grigóri vê o quão cruéis os vermelhos também são e retorna aos cossacos mais uma vez, juntando-se à revolta contra os bolcheviques.

Grigóri e Aksínia se reencontram mais uma vez, e a esposa Natália tenta outro suicídio — desta vez, porém, ela acaba morrendo.

O Exército Vermelho reprime a rebelião cossaca, e Grigóri tem que fugir. Depois de um tempo disperso, ele se junta ao Exército Vermelho de novo.

Percebendo que Grigóri não é muito leal, os bolcheviques o dispensam do exército. O irmão de Natália, um bolchevique, quer vingança e a prisão de Grigóri, por isso ele tem que fugir mais uma vez.

Após algum tempo, Aksínia é morta e Grigóri acaba sozinho — e o único que resta para amar é seu filho de Natália.

O que está por trás do romance?

‘O Don Tranquilo’ é frequentemente citado como um ‘Guerra e Paz’ do século 20. Também tem várias linhas de enredo que intrigam o leitor, além de apresentar dramas pessoais em meio a grandes eventos históricos e tempos turbulentos.

Chólokhov foi premiado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1965 por este romance.

Embora não retratasse nem os vermelhos nem os brancos de forma positiva e não fosse totalmente partidária aos soviéticos, a grande peça épica composta por quatro volumes foi recebida com incrível admiração na União Soviética.

O então jovem Chólokhov imediatamente conquistou prestígio e fama. Escritos entre 1925 e 1940, os volumes foram publicados um por um, de modo que as pessoas mal podiam esperar para descobrir o que aconteceria a seguir.

Os críticos elogiaram o romance e chegaram a duvidar de que, ainda tão novo, Chólokhov pudesse ter sido o autor devido ao alto nível artístico e literário da obra. Havia suspeita de que ele poderia ter plagiado um manuscrito. E ainda hoje há discussões acerca desse assunto, tornando Chólokhov uma espécie de “Shakespeare soviético”.

Independentemente de quem realmente a escreveu, esta é uma peça atemporal sobre a natureza humana e a inutilidade da guerra. 

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