Aleksandr Blok, poema “Os Doze”
O influente poeta lírico Aleksandr Blok acolheu a revolução com entusiasmo. Para ele, tratava-se da oportunidade de construir uma nova vida e de promover mudanças espirituais na sociedade.
Imagem: Iúri Annenkov
Em seu controverso poema “Os Dozes” (1918), Blok retrata a revolução como um apocalipse. Petrogrado, como São Petersburgo era conhecida no período entre 1914 e 1924, havia sido parcialmente destruída; devastação e fome eram cenas comuns nas ruas, assim como roubos e tiroteios. No entanto, Blok dá boas-vindas e justifica o colapso da velha ordem e o triunfo das novas forças revolucionárias no país.
Os “doze” do título são, na verdade, 12 Guardas Vermelhos, representados como os doze apóstolos da nova fé: eles casualmente sacrificam a vida das pessoas no altar da nova era, descrevendo-as como “acorrentadas” e “servis”. Caminhando à frente dos Guardas Vermelhos, “em uma coroa de rosas brancas”, está Jesus Cristo.
Existem diferentes interpretações da imagem de Cristo no poema. Alguns o veem como se estivesse abençoando e até mesmo liderando a revolução, enquanto outros acreditam que os Guardas Vermelhos teriam banido Jesus, destruindo sua fé.
Dentro de pouco tempo, porém, Blok já estava desiludido com a revolução. Ficou profundamente deprimido, parou de escrever poesias e, em agosto de 1921, morreu de insuficiência cardíaca.
Maksim Górki, “O canto do petrel” e outras obras
A relação de Górki com as revoluções russas do início do século 20 passou por estágios distintos. Oriundo de uma família humilde, ele naturalmente escrevia sobre os eventos do ponto de vista dos proletários, e obras como “A velha Izerguíl” (1894), “O canto do falcão” (1899) e “O canto do petrel” (1901) foram apropriados pelo movimento revolucionário. Na verdade, o verso “nascido para rastejar – não pode voar”, extraídos de “O canto do falcão”, era uma mensagem amplamente difundida, e o próprio Lênin escreveu a Górki para elogiar a afinidade do escritor com a revolução.
Górki (esq.) e Lênin Imagem: TASS
Górki fora inspirado pela revolução de 1905, mas sentia que os eventos em outubro de 1917 eram prematuros. Logo no início, descreveu essa segunda revolução como uma experiência perigosa. Mais tarde, porém, revelou todos os seus horrores em uma série de artigos intitulados “Pensamentos prematuros”.
O escritor emigrou para a Europa em 1921, mas voltou à União Soviética em 1932 a convite do governo. Em seu retorno, endossou as políticas de Stálin e escreveu com admiração sobre as realizações do sistema soviético, sem fazer qualquer menção às perseguições do Grande Expurgo. Não é à toa que a vida privada e o trabalho de Górki estão repletos de contradições e ainda provocam intenso debate.
Mikhail Bulgákov, “A Guarda Branca”
Bulgákov nunca foi conquistado pela revolução, permanecendo monárquico até o fim. Muitos de seus trabalhos apresentavam críticas (diretas ou não) da nova ordem social e, por isso, foram proibidos. Mesmo assim, o autor jamais foi exilado da URSS.
Cena da série de TV “A Guarda Branca”, exibida em 2012 Fonte: kinopoisk.ru
Em seu primeiro romance “A Guarda Branca” (1924), retratou sua visão complexa e pessimista da era revolucionária. Nessa obra, vagamente autobiográfica, Bulgákov descreve sua cidade natal, Kiev, sob o domínio da Guerra Civil, de 1918 a 1919, a partir da perspectiva de oficiais da Guarda Branca de uma família culta.
Enquanto tentam preservar seu antigo estilo de vida, o universo familiar se desintegra e eles são apanhados em acontecimentos mais amplos. Bulgákov retrata a morte da cultura cristã e a destruição da classe social instruída à qual o autor e seus personagens pertencem. Em um mundo à beira do abismo, a única coisa que pode salvar é, enfim, o amor: o amor pelo próximo, pela família, pelo lar e pelo país.
Mikhail Chólokhov, “O Pacífico Don”
Chólokhov foi o único escritor a receber o Prêmio Nobel de Literatura com permissão oficial das autoridades soviéticas. O título foi concedido em 1965 por seu romance “O Pacífico Don” (1925 a 1940), visto por alguns como o “Guerra e a Paz” do século 20.
Cena do filme soviético “O Pacífico Don”, de 1957 Fonte: kinopoisk.ru
O escritor, que cresceu em uma fazenda cossaca, descreve as consequências trágicas da revolução e da guerra civil para os cossacos do Don como um todo, assim como para cada família capturada nos “moinhos da história”.
O protagonista, o cossaco Grigôri Melekhov, ama sua fazenda e sonha com uma vida de trabalho pacífica, mas não outra escolha a não ser ir para a guerra. Suas mudanças quanto à lealdade política e romântica refletiam a indecisão e a confusão no país.
Embora tenha acolhido o poder soviético e adotado uma política comunista bastante conservadora, Chólokhov não deixava de mostrar os lados negativos dos anos revolucionários. À medida que ia envelhecendo, dedicava-se cada vez menos ao trabalho literário – até que, enfim, o abandonou de vez.
Boris Pasternak, “Doutor Jivago”
Pasternak recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por seu romance “Doutor Jivago” (1957), mas o livro foi proibido na União Soviética por mais de 30 anos. Por meio do personagem epônimo Dr. Iúri Jivago, Pasternak mostra como a atitude complexa e ambígua da intelligentsia russa quanto à revolução evoluiu ao longo do tempo.
Omar Sharif (centro) como Iúri Jivago em adaptação norte-americana Fonte: kinopoisk.ru
No começo, como muitos, Jivago classifica as mudanças como muito positivas: “Que cirurgia esplêndida! Você pega uma faca e, com um golpe magistral, extrai todas as úlceras fedorentas”. No entanto, o médico fica desiludido ao perceber que não se trata de uma revolução romântica inspirada em Blok, mas sim de uma carnificina sangrenta perpetuada por um soldado desgovernado. Quando se dá conta disso, ele se repreende pela “admiração descuidada” em relação às novas autoridades, à qual ele e o resto da intelligentsia estariam então pagando.
Apesar dos esforços, Jivago se vêm embrenhado na luta, antes de fugir tanto dos vermelhos como dos brancos para escrever poesia e reavaliar todos os acontecimentos mais uma vez. Por meio desse romance rico e multifacetado, Pasternak finalmente chega à conclusão de que a revolução é uma tragédia para a humanidade, e um ato de violência contra a própria vida, a natureza e as leis naturais.
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