Mestre da natureza morta e pintor da Academia Imperial das Artes, Khrutski conhecia as tradições artísticas dos antigos mestres europeus e a sua técnica e estilo eram muito próximos da natureza morta holandesa do século 17.
O artista chamou este quadro de “Convidado fora de hora”, e todo o seu significado reside num pequeno detalhe: um café da manhã muito escasso e modesto, de apenas um pão preto, coberto por um livro. Isto está em grande dissonância com a imagem aristocrática que o jovem tão tenazmente cria.
Um banquede de casamento e unificação de duas famílias boiardas era um evento de extrema importância para a velha elite russa: aos convidados é servido um cisne, símbolo de fertilidade e iguaria tradicional nos casamentos de boiardos.
Durante o período de sua busca artística, o pintor vanguardista Malevich fez experimentos no estilo francês “cloisonné”, em que grandes manchas de cor são encerradas por linhas negras grossas.
Serebriakova é uma das poucas mulheres reconhecidas na pintura russa e fez retratos comoventes de seus filhos, um dos quais retrata um café da manhã de família. Proveniente de uma família boêmia criativa, sua casa mantinha uma dieta europeia incomum à época, com um café da manhã rápido seguido de almoço ao meio-dia.
Amante da pescaria Koróvin voltou-se várias vezes ao tema da “natureza morta com peixes” em seu estilo impressionista predileto. Esta tela, de acordo com o esquema de cores, pertence à chamada natureza morta noturna de Koróvin.
Com a chegada dos bolcheviques ao poder, os anos da classe mercante terminaram. Kustodiev retrata aqui uma senhora suntuosa com uma forte linhagem antiga, rodeada por um samovar, bela louça e deliciosa comida - como uma imagem daquela Rússia que permaneceu apenas nas suas memórias. Naqueles anos, o artista, na penúria e de cama, acometido por uma grave doença, pintou o oposto do que vivia: “Vivemos mal, com frio e fome; todos só falam de comida e pão à nossa volta...”.
Em novembro de 1918 o artista escreveu estas linhas: “Passei muita fome no verão... Você se sente um gado, só dá para pensar em comida”. Elas se referiam a uma natureza morta retratando a dieta da gente simples logo no início do período soviético: um arenque murcho, um pedaço de pão estragado e batatas.
Na década de 1930, a natureza morta voltou ao status de ilusionismo pictórico. Em um contexto em que milhões de pessoas morriam devido à fome em massa na Ucrânia, em Kuban, na Região do Volga e no Cazaquistão, a natureza morta oficial retratava uma verdadeira “utopia” alimentar: massas e padaria de todas as variedades e formas, ou seja, coisas que para muitos só existiam então na imaginação.
As naturezas mortas ascéticas de Sterenberg estavam muito mais próximas da realidade. Sua pequena torta em uma bandeja desproporcionalmente grande era um luxo absoluto nos anos pós-revolucionários.
O escritor Aleksêi Tolstói era convidado de Kontchalóvski, que o pintou diante de uma luxuosa mesa russa com presunto, fatias finas de peixe vermelho, perdizes assadas, pepinos, tomates, limão e várias bebidas. Uma grande festa!
Outro exemplo de natureza morta realista socialista é aquela que traz conservas. Quem as visse nessas representações no final dos anos 1930 acharia aquilo uma grande cornucópia, mas a ideia era que riqueza e saciedade do grandioso país inspirassem quem visse o quadro.
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