As palavras mais populares inventadas por escritores russos

Cultura
IÚLIA AFANASSIENKO
O léxico russo teve enorme influência de seus gênios da literatura, que criaram diversos neologismos — hoje, por vezes, mais conhecidos até que sua própria obra!

1. “Bespristrástnost”, de Vassíli Trediakóvski

Vassíli Trediakóvski (1703 - 1768) foi um escritor e filólogo que fez muito pela literatura russa: ele distinguiu a poesia da prosa e reformou o sistema poético russo. Trediakóvski começou a escrever seus poemas hexâmetros como ditavam as tradições antigas, mas eles já tinham ênfases russas.

O escritor queria simplificar o idioma russo mais e livrá-lo de estrangeirismos. Assim, ele inventou muitas palavras, como, por exemplo, “bespristrástnost” '("imparcialidade"). Além disso, foi ele quem introduziu um equivalente de radical russo para a palavra “arte”: “iskússtvo”. Trediakóvski criou mais de cem palavras, que podem ser encontradas em seu “Telemakhida”, baseado no romance “As Aventuras de Telemachus”, de François Fénelon.

2. “Grádusnik” e “veschestvô”, de Mikhail Lomonossov

Mikhail Lomonossov (1711 - 1765) percorreu um longo caminho na vida: era filho de um pescador e se tornou um incrível cientista pioneiro e o fundador da Universidade Estatal de Moscou (MGU). Seus interesses não tinham fronteiras: estudou física, química, filologia, história, geografia e muito mais. Ele também era um articulista.

Lomonossov também traduziu muitos estudos científicos europeus para o russo, como por exemplo o curso de “Física Experimental” do físico alemão Christian Wolff, que usava muitos termos então desconhecidos na Rússia. Assim, Lomonossov teve que introduzi-los no léxico do país com equivalentes.

Foi assim que surgiram as palavras “grádusnik” (“termômetro”), “veschestvô” (“substância”) e muitos outros. Eles hoje são usadas ​​na linguagem cotidiana russa. Algumas palavras de Lomonossov são calques de línguas estrangeiras, como “periferia” ("periferia"), mas outras têm radicais russos, como, “kislorod” ("oxigênio").

3. “Trógatelni”,  de Nikolai Karamzin

Nikolai Karamzin (1776 - 1826) fez muito pela literatura e história da Rússia. Ele foi um escritor importante e é considerado o pai da ficção sentimentalista russa, na qual o objetivo principal é tocar o leitor. Mas sua obra principal foi o tratado “Istória gossudarstva rossískogo” ("A história do Estado Russo"). Ele foi incumbido de escrevê-la após ser escolhido como historiógrafo real por Alexandre 1°.

Karamzin criou uma palavra russa muito comum na atualidade, “trógatelni”, ou seja, “tocante”. Ela está em sua popular história “Bédnaia Liza” ("Pobre Liza"). Na verdade, Karamzin contribuiu muito para o desenvolvimento da língua russa: ele a presentou com mais de 50 palavras, por exemplo, “vpechatlênie” ("impressão"), promíchlennost (“produção”) e “vliubliônnost” (“afeição”).

4. “Zlopikhátelni”, de Mikhail Saltikov-Schedrin

Mikhail Saltikov-Schedrin (1826-1889) foi famoso tanto entre seus contemporâneos quanto nos dias atuais. Ele trabalhou em revistas literárias como a “Sovremênnik” (“Contemporâneo”) e a “Otiêtchestvennie zápiski” (“Notas Patrióticas”) e escreveu muitos contos e romances satíricos.

Uma de suas obras-primas em neologismos é o adjetivo “zlopikhátelni”, algo como “malévolo”. Esta palavra pode ser encontrada, por exemplo, em seu romance satírico “Istória odnogó góroda” (“História de uma cidade"). Outra palavra popular criada por ele é “miagkotéli”, literalmente “corpo mole”. Outras palavras de Saltikov-Schedrin também são muito inventivas (como “blagoglupost”, algo estúpido feito com boas intenções — mas essa não pegou na língua russa).

5. “Liôtchik”, de Velimir Khlébnikov

Velimir Khlébnikov (1885-1922) foi uma das figuras-chaves do futurismo russo e da poesia de vanguarda baseada na negação das antigas tradições. Ele escreveu muitos poemas que consistiam totalmente de neologismos criados com radicais de palavras eslavas. Essas palavras desafiam as traduções, mas, às vezes, são instintivamente compreensíveis para os russos nativos.

Por exemplo, o futurista inventou um equivalente das palavras “piloto” e “aviador” com base em um radical russo: “liôtchik”. O neologismo surgiu em um poema intitulado “Trizna” ("Banquete fúnebre"). Antes de Khlébnikov, os russos costumavam usar essas duas palavras como estrangeirismos. Além disso, o poeta também criou o adjetivo “iznemojdiónni” (“alguém totalmente exausto”), que também foi incorporado à língua.

6. “Bézdar”, de Igor Severianin

Igor Severianin (1887-1941) foi um poeta futurista. Uma crítica de Lev Tolstói ajudou Severianin a ser descoberto e ganhar fama entre seus contemporâneos. Ele era cultuado e suas excêntricas apresentações ao vivo eram muito populares. Nelas, Severianin percorria o palco com passos largos e recitava seus poemas com voz cantante, parecendo não notar o público.

Igor Severianin gostava de brincar com as palavras e inventar neologismos. Em um poema elogioso dedicado a Valéri Briússov, outro grande poeta, Severianin introduziu a nova palavra “bezdar”, literalmente “sem talento”. Hoje, ela é frequentemente usada no russo falado, mas seu acento mudou da segunda sílaba para a primeira.

Além disso, Severianin alterou o uso da palavra “samoliôt”, literalmente, “algo que voa por si só”. Antes, o termo era empregado apenas em contos de fadas. Foi Severianin quem a transformou na palavra russa para “avião”, que é usada correntemente com esse sentido.

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