“By Troika on Red Square. Old Rus.” Alexander Sokolov. 1960. 23rd Russian Antique Salon in the Central House of Artists in Moscow.
Sergey Pyatakov/RIA Novosti1. “Nossa terra é grande e rica, mas não há ordem nela”
O Convite dos Varegues: Rurik e irmãos chegam a Staraia Ladoga (Foto: Arquivo)
Essas palavras são da “Crônica dos Anos Passados”, mais conhecida também como “Crônica Primária”, e datam do início do século 12.
O documento descreve que as terras do futuro Estado russo eram povoadas por tribos submetidas e que pagavam impostos aos varegues. As tribos eventualmente expulsaram os varegues e tentaram se autogovernar, mas disputas internas teriam dificultado o processo.
Para acabar com as lutas, foi decidido convidar um príncipe estrangeiro, enviando uma embaixada aos varegues com a seguinte mensagem: “Nossa terra é grande e rica, mas não há ordem nela. Venha nos reger e reinar sobre nós”.
A oferta foi aceita por Rurik, que se tornou o fundador da primeira dinastia governamental da Rússia, a Dinastia Rurikovitch ou ruríquida.
Na segunda metade do século 19, a frase começou a ser usado com um toque de sarcasmo – a ideia é, apesar do vasto território da Rússia e da riqueza de seus recursos naturais, ninguém jamais conseguiu estabelecer ordem e prosperidade no país.
2. “Raspe um russo e por baixo achará um tártaro”
Cena de “The Horde” (2012) (Foto: Kinopoisk.ru)
Hoje em dia, essa expressão é geralmente usada como evidência de que os cidadãos russos têm muitas origens misturadas. A frase, que é atribuída a diferentes escritores, chegou à Rússia no século 19 vinda da França.
“Os europeus não quiseram nos reconhecer como um dos seus, nem por qualquer sacrifício, não importa o quê: Grattez, eles diriam, lе russе еt vouz vеrrеz lе tartаrе, e assim continua. Nós nos tornamos parte de um provérbio para eles”, disse Dostoiévski.
Mas não se sabe quem na França foi o primeiro a pronunciar a frase.
Em seu livro “La Russie” (1839), o Marquês de Custine apresenta uma passagem semelhante: “A moral dos russos é cruel e, apesar de todas as pretensões daqueles meio selvagens, assim permanecerão por muito tempo. Ainda não se passou um século desde que eram verdadeiros tártaros, (...) e muitos desses iniciantes da civilização ainda têm pele de urso sob sua elegância atual. Eles só a inverteram de fora para dentro, mas, uma vez que os raspe, a pele ressurge e arrepia-se”.
3. “A Rússia não pode ser entendida apenas com a mente”
Retrato de Fiódor Tiútchev, por S. Aleksandrovski (Imagem: Galeria Tretyakov)
Este é o trecho que abre um poema filosófico escrito por Fiódor Tiútchev em 1866: “A Rússia não pode ser entendida apenas com a mente. Nenhum padrão comum pode abranger sua grandeza: ela se destaca, é única – na Rússia, só se pode acreditar.”
Essa abertura se tornou uma descrição frequente da civilização irracional russa. Ao longo do tempo, a frase “a Rússia não pode ser entendida apenas com a mente” começou a ser usada para explicar qualquer ação ilógica e inesperada tomado pelo país ou seus cidadãos. E a expressão não é utilizado somente por locais.
Em 1939, por exemplo, o estadista britânico Winston Churchill disse a uma rádio: “Não consigo prever as ações da Rússia. [O país] é uma charada, embrulhada em um mistério, dentro de um enigma”.
4. “A Rússia tem apenas dois aliados: o Exército e a Marinha”
Retrato do tsar Aleksandr 3º (Foto: Museu militar e histórico de artilharia, engenharia militar e tropas de comunicação)
Esse aforismo é atribuído ao tsar Aleksander 3º, que muitas vezes dizia a seus ministros: “No mundo inteiro, temos apenas dois aliados leais: nosso Exército e nossa Marinha. Todos os outros, na primeira oportunidade, irão se virar contra nós.”
A frase refletia à desconfiança generalizada do tsar em relação à Europa.
5. “Aqueles que vierem até nós com espada na mão morrerão pela espada”
Cena do filme “Alexander Nevsky”, de Serguêi Eisenstein (Foto: Kinopoisk.ru)
Em 1938, Serguêi Eisenstein lançou um filme sobre o famoso príncipe medieval Alexander Nevsky. No final do longa, Nevsky liberta os cavaleiros teutônicos, dizendo-lhes: “Vão e digam a todos em terras estrangeiras que a Rússia ainda vive! Aqueles que vierem a nós em paz serão recebidos como convidados. Mas aqueles que vierem até nós com espada na mão morrerão pela espada!”.
Na verdade, o governo jamais disse essas palavras. De acordo com o roteiro original, o filme terminaria com a morte de Nevsky. Porém, Stálin ordenou que o longa fosse finalizado antes dessa cena. “Um príncipe assim bom não pode morrer!”, justificou.
Após o lançamento do filme, críticos observaram alguns paralelos entre a fala final de Nevsky e a declaração de Stálin no 17º Congresso do Partido Comunista, em 1934. “Aqueles que querem a paz e buscam laços comerciais conosco sempre encontrarão apoio aqui. Enquanto aqueles que tentam atacar nosso país serão recebidos com um golpe esmagador”, declarou o líder soviético na ocasião.
6. “A Rússia é uma terra vasta, mas não há para onde recuar – Moscou está atrás de nós!”
Memorial aos Vinte e Oito Guardas de Panfilov, no distrito de Volokolamski (Foto: Vladímir Sergueiev/RIA Nôvosti)
Acredita-se que a frase tenha sido pronunciada pelo oficial de propaganda Vassíli Klotchkov, que, em novembro de 1941, liderou a divisão Panfilov.
Durante uma sangrenta batalha, todos os 28 guardas morreram após destruírem 14 tanques inimigos. A morte heroica dos soldados tornou-se amplamente conhecida graças a um artigo no jornal “Krasnaia Zvezda”.
No ano seguinte, o poeta Nikolai Tikhonov escreveu um poema chamado “Cerca de 28 Guardas”, no qual usou a famosa frase de Klotchkov: “A Rússia é uma terra vasta, mas não há lugar para onde recuarmos – Moscou está atrás de nós!”
Mais tarde, descobriu-se que a lendária frase fora escrita pelo próprio editor do jornal; até então, porém, a citação já tinha se disseminada.
7. “A Rússia tem dois males: estradas e tolos”
“Troika na Praça Vermelha. Antiga Rus” (1960), de Aleksandr Sokolov (Foto: Serguêi Piatakov/RIA Nôvosti)
Não se sabe ao certo quem foi o autor dessa máxima, talvez a mais popular das sete aqui citadas. Mas, na maioria das vezes, a frase é atribuída ao escritor Nikolai Gógol.
O ditado, porém, foi introduzido ao grande púbico em uma esquete do comediante Mikhail Zadornov durante os anos da perestroika.
“Nikolai Vassiliévitch Gógol escreveu: ‘A Rússia tem dois males: estradas e tolos’. Nesse sentido, mantemos uma persistência invejável até os dias de hoje”, disse Zadornov.
No entanto, acredita-se que Zadornov tenha utilizado Gógol como referência para evitar a censura na época.
Esta reportagem é uma versão abreviada de um artigo originalmente publicado em russo na “Arzamas”, e redigido por por Stanislav Kuvaldin.
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