Yul Brynner, o cidadão soviético que virou astro de Hollywood

Yul Brynner e Janice Rule em “Convite a um Pistoleiro” (1964)

Yul Brynner e Janice Rule em “Convite a um Pistoleiro” (1964)

Alamy/Legion Media
Se disséssemos que Ramsés 2º nasceu na Rússia, você pensaria que ficamos loucos. É claro que, quando o faraó viveu, faltavam milhares de anos para o surgimento da URSS. Porém, o ator mais lembrado por interpretá-lo nas telonas nasceu na Vladivostok soviética.

Yul Brynner é o representante mais famoso da família Brynner (em russo, seu sobrenome era escrito com um único “n”) de Vladivostok. Mais tarde, ele ficou conhecido apenas como Yul, mas no início de sua vida ele tinha nome e patronímico russos, Yuli Borisovitch Briner.

A origem

Os estrangeiros tiveram muita influência no desenvolvimento inicial de Vladivostok. Empresários europeus e norte-americanos como as famílias Dattan, Lindholm, Clarkson, Kuester, Cooper, de Vries, Kunst e Albers operavam vários tipos de negócios na cidade. O primeiro Brynner a se estabelecer em Vladivostok foi o avô do ator, Jules (Yuli Ivanovitch) Brynner, natural da Suíça. Jules começou a desenvolver depósitos minerais de chumbo, zinco e prata nos entornos de Tetiukhe (atual Dalnegorsk, 500 km a nordeste de Vladivostok). Os depósitos desses minerais ainda não foram esgotados e diversas empresas de recursos naturais continuam operando em Dalnegorsk.

Jules Brynner morreu em 1920 e foi enterrado no jazigo da família em Sidimi (atual Bezvérkhovo, a 166 km de Vladivostok). O filho de Jules, Boris Brynner, foi nomeado ministro da Indústria e do Comércio da República do Extremo Oriente; os seus contemporâneos chamavam-no de o “último capitalista soviético”. A empresa mineira de Brynner operava conforme os princípios ocidentais — com investimento, mão-de-obra e gestão estrangeiros — até ser nacionalizada em 1931. Quando isso ocorreu, Boris se mudou para o exterior e acabou falecendo em Xangai em 1948. O comunista Mikhail Kokchenov assumiu a gestão das operações em Tetiukhe, mas foi vítima das repressões políticas do final da década de 1930.

A história do nascimento de Yul Brynner está relacionada com o desejo de seu avô de que o filho Boris o sucedesse nos negócios da família. Antes da Revolução de 1917, Boris foi enviado a São Petersburgo para estudar mineração. Lá, conheceu Marussia Blagovídova, filha de um médico russo.

A mansão da família Brynner em Vladivostok.

Eles se casaram e se mudaram para a mansão da família Brynner, em Vladivostok; em 1920, nasceu Yuli. Quando adulto, o futuro astro de Hollywood gostava de fingir ser um morador da ilha de Sacalina, um mongol ou mesmo um cigano, entre outros “papéis”.

O rei de Sião

Pouco depois do nascimento do filho, Boris Brynner abandonou a família. Anos depois, Marussia mudou-se para Harbin com o filho e a filha. Na época, essa cidade era o centro administrativo da Ferrovia da China Oriental, construída na Rússia, e um importante centro de emigração russa. Yuli viveu ali até 1934, quando se mudou para Paris, onde iniciou a carreira de ator.

Yul Brynner em “O Rei e Eu” (1956).

Yul nunca esqueceu suas raízes russas, e a própria vida também não permitiu que ele as esquecesse. Na capital francesa, o futuro cantor Aliocha Dimitrievitch o ensinou a tocar violão. Graças a ele, Yul aprendeu a tocar violão de sete cordas russo e a cantar músicas russas e ciganas.

Yul Brynner em “Taras Bulba” (1962).

Mais tarde, nos Estados Unidos, ele estudou teatro no estúdio do ator russo Mikhail Tchekhov (que também ensinou Marilyn Monroe e Clint Eastwood). Seus papéis famosos como personagens russos incluem Dmítri Karamazov de “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoiévski, e “Taras Bulba”, da história homônima, de Nikolai Gógol. Seus papéis mais populares, porém, foram como Chris em “Sete Homens e Um Destino” e o rei de Sião em “O Rei e Eu”.

Yul Brynner em “Sete Homens e Um Destino” (1960).

Recordando Yul

Rock Brynner, filho de Yul, visita Vladivostok com frequência e a considera sua segunda casa. Anos atrás, Rock publicou uma biografia do ator intitulada “Yul: The Man Who Would Be King” — um livro sincero, feliz e triste ao mesmo tempo. De acordo com ele, a temporada americana de Yul pode ser brevemente descrita como “sexo, drogas e rock’n’roll”.

As últimas páginas da biografia são comoventes. Rock relata os últimos dias de Yul, quando o ator mal conseguia se mover devido a fortes dores nas pernas e nas costas. Yul sofreu vários traumas na coluna, um derrame e morreu de câncer de pulmão. Chegou também a filmar um vídeo famoso sobre os malefícios do fumo que seria exibido após a sua morte em 1985.

Rock Brynner tirando uma foto do monumento de seu pai.

Hoje em dia, Vladivostok possui uma homenagem em memória de seu nativo famoso. Em 2012, um monumento de granito a Yul Brynner foi instalado próximo à casa onde o ator nasceu. Na obra, feita em pedra pelo escultor Aleksêi Boki, ele aparece caracterizado como seu lendário personagem do rei de Sião. Desde a inauguração do monumento, acontecem no local exibições de filmes ao ar livre anualmente, todo dia 11 de julho, aniversário do ator.

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

LEIA TAMBÉM: Como o assassino de Rasputin fez Hollywood usar sempre um alerta antes dos filmes

O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies