O estúdio Soiuzdetmultfilm, que mais tarde passou a se chamar apenas Soiuzmultfilm, foi inaugurado em 1936 — acredita-se, por decisão do próprio chefe do país, Iôssif Stálin. As primeiras instalações do estúdio em Moscou foram montadas no prédio de uma igreja.
A princípio, os criadores do estúdio soviético imitavam, ainda que involuntariamente, a Disney. Mas eles logo desenvolveram uma linguagem artística própria e muitas inovações técnicas, e criaram animações reconhecidas internacionalmente — e, ainda mais importante, assistidas por adultos e crianças até hoje.
Um lavatório ganha vida e começa a punir um menino por ser porquinho. Ele ameaça chamar seus “soldados” – esponjas e sabão – para dar uma boa esfregada nele.
Os primeiros desenhos animados da URSS foram projetados para educar a nova geração soviética e incutir nela valores, ensiná-la a ser amigável com outras crianças e obedecer aos pais — mas também coisas triviais, como a higiene pessoal, necessária para se manter saudável.
Moidodir (que significa “lavar até fazer buraco”) é baseado em um poema de Kornêi Tchukóvski. A adaptação para as telas de Ivan Ivanov-Vano virou o pavor das crianças.
Um cavalo mágico era frequentemente mencionado nos contos de fadas russos, na maioria das vezes ajudando Ivan, o Louco, o mais novo e azarado de três irmãos.
A versão autoral do conto popular escrito por Piotr Ierchov foi a base para este filme. Ivan, o Louco, conhece o mágico Koniok-Gorbunok (tem português, “Cavalo Corcunda”). Ele pode voar e ajuda Ivan em todas as suas aventuras, chegando até mesmo a salvar sua vida.
O próprio Walt Disney confessou ter gostado deste desenho animado e o mostrou para sua equipe. Em 1950, o filme recebeu um prêmio especial do júri no festival de Cannes. Em 1975, o diretor lançou uma versão atualizada do filme, incluindo cenas que tinham sido cortadas na estreia, em 1947.
Antes de partir para uma longa viagem, um mercador pergunta às filhas o que querem que ele traga na volta. Enquanto as mais velhas pedem presentes caros, a mais nova, Nastenka, pede apenas uma flor vermelha.
Mas, durante uma tempestade, o navio do mercador vai parar em uma ilha distante, onde encontra um terrível monstro que vive em um palácio…
O diretor Lev Atamanov baseou seu filme em “A Flor Vermelha” (1858), de Serguêi Aksakov, que lembra vagamente o enredo folclórico de “A Bela e a Fera”.
A ideia deste desenho animado de longa-metragem era apresentar ao jovem espectador não apenas o conto, mas a antiga Rússia, com suas feiras, kremlins de pedra branca e roupas tradicionais.
Hoje, crianças de todo o mundo são fãs do filme “Frozen” (2013), da Disney. Mas a União Soviética tinha uma adaptação do conto de Hans Christian Andersen já na década de 1950, dirigida por Lev Atamanov.
Nela, um menino chamado Kai e uma menina chamada Guerda são vizinhos e amigos. A avó conta a eles a história de uma malvada Rainha da Neve, mas o zombeteiro Kai diz que, se a encontrar, a colocará no fogão e a derreterá.
A Rainha da Neve decide lhe dar uma lição e quebra o espelho mágico, cujos estilhaços atingem Kai no olho e no coração, e ele se torna frio e malvado.
Em seguida, a Rainha da Neve leva Kai em um trenó para seu palácio, no norte, e a corajosa Guerda sai para resgatá-lo, superando obstáculos incríveis ao longo do caminho.
Um menino soviético chamado Vovka se encontra em um mítico “reino distante” (que dá o nome ao título, que literalmente significa “Vovka em um reino muito distante”). Trata-se de um mundo mágico onde ele conhece personagens de vários de contos folclóricos russos e suas tramas se entrelaçam.
Ele não pode fazer nada sozinho, então pede ajuda ao peixinho mágico que realiza desejos ou à toalha que põe a mesa sozinha. Enquanto isso, Vassilissa, a Sábia, explica a Vovka os exercícios de um livro de matemática soviético.
O desenho animado de Boris Stepantsev deveria mostrar às crianças como é importante estudar e ser independente — e, claro, familiarizar as crianças com os contos folclóricos russos.
Um menino sueco apelidado de Pequeno (“Malich”, em russo) conhece um homem baixinho com uma hélice que faz muitas travessuras. Eles se tornam amigos, mas Malich se mete em problemas por causa das travessuras de Karlson.
Porém, o novo amigo não deixa o menino em apuros — apesar de os pais não acreditarem na existência de Karlson.
O incrível livro infantil “Karlsson no telhado”, da sueca Astrid Lindgren, inspirou este filme e catapultou a artista a tal fama na URSS que ela se tornou a autora favorita das crianças soviéticas.
O diretor Boris Stepantsev presenteou o mundo com um Karlson absolutamente encantador, que voa em um motor e come geleia junto com seu amigo Malich.
Aliás, Karlson foi dublado pelo ator Vassíli Livanov, mais conhecido por seu papel como Sherlock Holmes na década de 1980 — pelo qual recebeu a Ordem do Império Britânico. O crocodilo Guena (do icônico desenho russo “Tcheburachka”) e muitas outras personagens famosas de desenhos animados soviéticos também foram dublados por ele.
Todo mundo conhece a história de Pooh, o bondoso ursinho de pelúcia do conto de Alan Milne. Em russo, a história apareceu em uma versão livre de Boris Zakhoder e um desenho animado soviético baseado nela foi incrivelmente popular — e, sem dúvida, tão bom quanto o da Disney.
No desenho animado de Fiódor Khitruk, não há Tigrão, nem Kanga e nem mesmo Christopher Robin, mas há o próprio Ursinho Pooh, com uma lendária narração do ator Evguêni Leonov.
Três filmes foram feitos sobre as aventuras de Pooh e sua comovente amizade com Leitão: “Ursinho Pooh” (1969), “Vinni-Pukh idet v gosti” (1971) e “Ursinho Pooh e o Dia Chuvoso” (1972). Como muitos desenhos animados soviéticos, eles se tornaram filmes memoráveis e toda criança lembra de suas músicas de cor.
Guena, o crocodilo, trabalha no zoológico como… um crocodilo. Mas, à noite, ele volta para casa e passa noites solitárias. Até que um dia ele decide encontrar amigos.
Assim, Guena acaba encontrando uma criatura desconhecida, com grandes orelhas, em uma caixa cheia de laranjas... é um Tcheburachka! Eles se tornam amigos e juntos enfrentam as malvadezas de uma velhota chamada Chapokliak.
O livro de Eduard Uspenski “O crododilo Guena e seus amigos” (1966) foi adaptado às telas por Roman Katchanov, que acabou fazendo quatro filmes sobre o bichinho orelhudo: “O Crocodilo Guena” (1969), “Tcheburachka” (1972), “Chapokliak” (1974) e “Tcheburachka vai à escola” (1983).
As personagens desses desenhos se tornaram incrivelmente populares e tiveram seus reflexos na cultura popular. Para se ter uma ideia, “Tcheburachka” (2022) foi o filme de maior bilheteria da história do cinema russo, arrecadando mais de 7 trilhões de rublos (aproximadamente US$ 850 milhões).
O público no Japão também gostava muito do bichinho, e lá eles até chegaram a fazer seus próprios remakes: um longa-metragem e um programa de TV.
Este filme, à primeira vista, parece ser um simples conto de fadas sobre um ouriço que vai visitar um amigo, o filhote de urso, mas se perde na névoa e vai parar em um mundo mágico. Seu diretor, Yuri Norstein, adaptou o conto de Serguêi Kozlov para o cinema e esta animação desde então é reconhecida como uma das melhores do mundo, faturando prêmios em diversos festivais renomados.
As personagens falam muito pouco e seus diálogos são bastante simples, parecendo ser feitos para as crianças mais novas. Mas o subtexto filosófico é tão poderoso, que o filme é considerado uma animação para adultos.
Para alcançar uma identidade artística própria, Norstein usou um método próprio: filmar em lentes de vidro. Dessa maneira, foi possível criar a névoa necessária ao enredo e um efeito 3D.
Em “Troie iz Prostokvachino” (do russo, “Os Três de Prostokvachino”, 1978) tio Fiódor é um menininho independente e inteligente (e por isso é apelidado de “tio”).
Um dia, ele conhece um gato de rua chamado Matroskin e o leva para casa, mas seus pais o repreendem. Assim, tio Fiódor e o gato Matroskin partem juntos para a aldeia de Prostokvachino, deixando-lhes um bilhete de despedida.
Lá, eles encontram o cachorro Charik e mudam-se juntos para uma casa vazia e passam a viver.
O desenho animado ganhou enorme popularidade e era baseado no livro de Eduard Uspenski “Tio Fédia, seu cachorro e seu gato” (1974) – “Fédia” é apelido de “Fiódor”, em russo. A narração russa do gato Matroskin, feita por Oleg Tabakov, era objeto do amor e da imitação dos espectadores.
A obra do diretor Vladímir Popov teve tanto sucesso que ganhou mais duas partes “Kanikuli v Prostokvachino” (“Férias em Prostokvachino”, 1980) e “Zima v Prostokvachino” (“Inverno em Prostokvachino”, 1984).
Na década de 2010, havia planos de lançar uma série inteira sobre o tio Fiódor, mas, devido a um conflito legal, apenas um episódio, intitulado “Prostokvachino” (2018), saiu do papel.
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