5ª temporada de ‘The Crown’ na Netflix: fato contra fake no ‘episódio russo’

Peter Morgan/Netflix, 2022
Importante na nova temporada de ‘The Crown’, o sexto episódio ‘Casa Ipatiev’ aborda as relações seculares entre a Grã-Bretanha e a Rússia. Saiba abaixo o que é verdade na história contada e o que não passa de liberdade artística, algo em que a temporada atual se mostrou particularmente boa.

FATO: Laços de sangue entre a família real e os Romanov

O episódio 6 da 5ª temporada de ‘The Crown’ começa com a execução da família Romanov, um destino do qual os Windsor poderiam facilmente ter salvado os parentes. Cenas de 1918, em que todos falam russo fluentemente, são intercaladas com o rei caçando. É a consorte do rei, a rainha Maria – como acreditam não apenas os produtores da série, mas também alguns historiadores – que toma a decisão de não enviar um navio para resgatá-los. Nicolau 2º e George 5º eram primos em primeiro grau e até se pareciam. Consequentemente, Elizabeth 2ª, neta de George 5º, e o seu consorte, o príncipe Philip, sobrinho-neto de Nicolau 1º, eram muito cautelosos nas relações com a Rússia e consideravam as autoridades soviéticas como “regicidas” – razão pela qual, durante todo o seu reinado, ela nunca visitou a URSS.

FATO: A visita de Estado da rainha à Rússia

A última temporada de ‘The Crown’ cobre a primeira metade da década de 1990, quando a União Soviética entrou em colapso e a democracia, inaugurada por Boris Iéltsin, assumiu o lugar do comunismo. Foi somente após a queda da URSS e o surgimento de uma Rússia independente que a rainha fez sua primeira visita a Moscou e São Petersburgo – e foi uma visita histórica em vários sentidos. Ela foi a primeira monarca britânica a visitar o Estado russo. A programação incluiu os principais pontos turísticos das cidades, bem como a abertura de um museu especial dedicado à história britânica, mas isso não aparece na série.

FAKE: Razões para visitar a Rússia

Em ‘The Crown’ , Elizabeth 2ª visita a Rússia inteiramente por motivos pessoais – ela quer se reconectar com o marido, o príncipe Philip, que, inspirado por laços familiares com os Romanov, tornou-se cada vez mais imerso na fé ortodoxa e suas raízes eslavas. De acordo com a série, o casal visita Moscou exclusivamente para o enterro dos ancestrais. O DNA do príncipe Philip foi de fato usado para a análise científica dos restos mortais dos Romanov, mas isso foi mais uma consequência do que o motivo da visita. O enterro dos ossos descobertos nos Urais só ocorreu no final da década de 1990, embora os exames forenses – envolvendo especialistas russos e britânicos – tenham prosseguido até a década de 2010.

FAKE: Iéltsin bêbado em um tanque e no Palácio de Buckingham

A cronologia da 5ª temporada de ‘The Crown’ é seu ponto mais fraco. Por exemplo, o desejo de Elizabeth de conhecer Iéltsin (interpretado pelo ator bielorrusso Anatóli Koteniov), o líder de uma Rússia recém-democrática, surge logo depois que ela o vê em um tanque perto da Casa Branca de Moscou. O primeiro-ministro John Major diz então à rainha que o presidente russo há muito enlouqueceu e caiu no alcoolismo, ao som da trilha sonora de Kalinka Malinka. Mas isso não impede a rainha de receber Iéltsin e sua esposa em seu palácio e depois concordar em uma visita de retribuição a Moscou. Na realidade, Iéltsin nunca foi ao Palácio de Buckingham, embora seu encontro com Major tenha ocorrido. A verdade é que os problemas com alcoolismo o começaram certo tempo depois dessa história com a rainha.

FATO/FAKE: Tchaikóvski, Dostoiévski e o declínio da monarquia

A 5ª temporada de ‘The Crown’ acabou sendo a mais intimista de todas e a linha russa teve um papel importante nisso. No primeiro episódio, o príncipe Charles  – o único membro da família real que se mostra disposto a dar uma nova roupagem à monarquia – ouve com interesse uma reportagem de rádio sobre a queda da União Soviética, enquanto a irmã de Elizabeth, Margaret, prepara-se para um baile ao tema de ‘O Lago dos Cisnes’, de Tchaikóvski. Este acaba sendo o prenúncio do encontro de Diana, já no episódio final, com a família Al-Fayed, que deve desempenhar um papel funesto na próxima temporada. 

“Um dos relatos mais memoráveis ​​de um casamento longo e bem-sucedido vem da esposa de Dostoiévski, Anna. Ela e Fiódor eram, ela disse, de... caráter contrastante. Temperamentos diferentes. Pontos de vista totalmente opostos, mas eles nunca tentaram mudar um ao outro”, diz John Major à rainha. 

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