AVISO! ALERTA DE SPOILER!
“A Casa do Dragão”, uma prequela de “Game of Thrones” (2011-2019), um dos seriados de TV de fantasia de maior sucesso do nosso tempo, trouxe os espectadores de volta ao mundo familiar e amado de Westeros.
Os fãs de George Martin sabem que ele baseou seus livros em um caleidoscópio heterogêneo da história medieval europeia, apimentando-a com lendas fantásticas e, claro, dragões. Ao longo dos anos, os fãs de “Game of Thrones” encontraram muitas referências culturais interessantes, incluindo a história e a cultura russas, nas tramas e imagens visuais da série.
Rhaenyra Targaryen (esq.), a grã-duquesa Tatiana (filha de Nicolau 2°) vestindo um kokochnik (dir.), por volta de 1904.
Legion Media; Domínio público“A Casa do Dragão” agradou particularmente os fãs russos do mundo de Westeros. Quando a HBO publicou o pôster oficial do protagonista da série, os espectadores na Rússia instantaneamente traçaram um paralelo cultural com o traje folclórico russo, vendo no traje da menina um kokochnik estilizado e um traje russo típico, com colar redondo largo, brincos arredondados e a silhueta de um vestido solto.
A imperatriz Maria Fiodorovna (princesa Dagmar da Dinamarca) com um vestido de gala, em 1881, por Ivan Kramskoi (esq.). A imperatriz Maria Fiodorovna com kokochnik, por Konstantin Makôvski.
Ivan Kramskoi; Konstantin MakôvskiE não estamos falando apenas do kokochnik como um elemento de vestimenta popular simples, mas da “coroa de kokochnik” ou “tiara de kokochnik”, que se tornou popular na alta sociedade russa no século 19 e existiu até 1917. Os emigrantes russos pós-Revolução levaram esse acessório para a Europa, iniciando uma tendência de moda “a la Russe” lá no início do século 20.
Um exemplo ainda mais marcante do kokochnik, agora clássico, com pente e pingentes nas têmporas pode ser visto na série durante a cerimônia de casamento de Rhaenyra.
No topo, Rhaenyra em seu casamento. Embaixo, dois kokochniks russos.
Legion Media; shakko (CC BY-SA 3.0); Vladímir Fedorenko/SputnikEmbora a forma da faixa variasse de região para região na Rússia, a base era geralmente feita de papelão, envolta em pano e decorada com diferentes materiais e ornamentos, dependendo do status e riqueza da proprietária: brocado, trança, miçangas, pérolas, fios de ouro, folha, vidro, pedras preciosas etc.
Acima de tudo, a tiara de Rhaenyra se assemelha ao tradicional kokochnik da província de Kostroma, que é chamado de “naklon”. As imagens das filmagens da série mostram que o kokochnik é decorado com miçangas e elementos “dourados”, com os pingentes também feitos de miçangas.
Colar russo do século 12 do Arsenal do Kremlin. Rhaenyra Targaryen usando um colar semelhante.
Museus do Kremlin de Moscou; Legion MediaÉ importante lembrar que, segundo George Martin, os Targaryen não são os habitantes originais de Westeros. Seus ancestrais vieram para o continente a partir da cidade-estado de Valíria e trouxeram seus próprios costumes e rotinas.
Sem dúvida, uma das tarefas do figurinista da série era enfatizar sua singularidade, complementar a aparência exótica dos personagens e sua linguagem, que na série é falada apenas pelos membros da Casa e somente em ocasiões especiais, com cerimonial especial.
A tarefa foi realizada de modo brilhante, mas para inspiração era preciso recorrer a fontes mais distantes do que a moda da Europa medieval.
Dama de companhia russa com vestido de gala (esq.). Rhaenyra em um vestido semelhante (dir.).
Domínio público; Legion MediaOs fãs russos da série, inspirados na analogia, foram ainda mais longe, encontrando paralelos mais polêmicos entre um dos vestidos da personagem principal e uma famosa vestimenta da corte russa que se tornou obrigatória para as damas da corte imperial russa a partir de meados do século 19 .
O emblema da Casa de Targaryen (esq.). Um monumento a Zmei Gorinitch no parque de diversões Kudikina Gora, na região de Lipetsk, Rússia.
Mattia332 (CC BY-SA 4.0); Legion MediaE, claro, os espectadores russos viram uma forte associação com Zmei Gorinitch no brasão da Casa Targaryen, um amante de jovens donzelas do folclore. No entanto, na interpretação do sigilo da Casa Targaryen, duas cabeças de dragão pertenciam a mulheres: as duas irmãs do Conquistador, Rhaenys e Visenya.
Se tentarmos encontrar um conflito semelhante entre duas mulheres influentes na luta pelo trono, a história da relação de Isabel da Rússia e Anna Ioannovna certamente vem à mente.
A grã-duquesa Isabel (esq.). A imperatriz Anna Ioannovna (dir.).
Isabel, a filha mais nova de Pedro 1° e Catarina 1°, que, em sua juventude, surpreendeu os contemporâneos por sua beleza, como Rhaenyra, e que era chamada de “a delícia do reino”, havia, segundo a vontade de Catarina 1°, o direito ao trono depois de Pedro 2° (neto de Pedro 1°) e Anna Petrovna (filha de Pedro 1°).
No último ano do reinado de Catarina 1° e no início do reinado de Pedro 2°, surgiram rumores na corte sobre a possibilidade de um casamento entre uma tia e um sobrinho, que eram amigos e passavam muito tempo juntos, o que nos remete ao casamento entre Rhaenyra e seu tio, que vimos na primeira temporada de “Casa do Dragão”.
Após a morte de Pedro 2°, em janeiro de 1730, o testamento de Catarina foi rejeitado e o trono foi oferecido à sua prima Anna Ioannovna. A base do conflito na série de TV é parecida: após a morte do rei Viserys, seu desejo de fazer de Rhaenyra sua sucessora foi esquecido e o trono foi confiado a um candidato mais conveniente para a elite dominante.
O fim da trama da história russa é conhecido. Após a morte de Anna Ioannovna e um curto período de regência de Anna Leopoldovna, na noite de 25 de novembro de 1741, Isabel levantou a companhia de granadeiros do Regimento Preobrajenski e, sem encontrar resistência no Palácio de Inverno, proclamou-se a nova imperatriz .
Como terminará a história do confronto entre Rhaenyra e Alicenta em “A Casa do Dragão” na TV, só saberemos no futuro — embora quem leu o livro em que se baseia a série sabe que este confronto será muito mais trágico.
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