O professor e crítico literário russo Nikolai Tchirkóv (1891-1950) fez toda sua carreira sob o regime stalinista e jamais viu um livro ou artigo seu publicado em vida. “O estilo de Dostoiévski” foi escrito na década de 1940 e é sua principal obra, mas só veio à luz mais de dez anos após sua morte, em dois volumes lançados em Moscou, em 1964 e 1967. Logo ele se tornaria um livro de referência na fortuna crítica do autor de “Crime e castigo”.
Com a tradução para o português brasileiro de Paulo Bezerra efetuada para a editora 34, a obra agora inaugura uma nova fase: esta é sua primeira publicação fora da Rússia. O livro da editora 34 compreende o segundo volume, que analisa de forma detalhada a evolução do estilo de Dostoiévski a partir de seus principais romances: “Gente pobre” (1846), “A Senhoria” (1847), “A Aldeia de Stepántchikovo e seus Habitantes” (1859), “Humilhados e ofendidos” (1861), “Escritos da Casa Morta” (1862), “Memórias do Subsolo” (1864), “Crime e Castigo” (1866), “Um Jogador”(1867), “O Idiota (1869), “Os Demônios” (1872), “O Adolescente” (1875) e “Os Irmãos Karamázov” (1880).
“Ainda que o autor deste livro seja pouco conhecido no Brasil, ele certamente figura entre os mais relevantes investigadores da obra de Fiódor Dostoiévski. E àqueles que desejam se familiarizar com ela, este livro constitui um guia de consulta obrigatório”, escreve no texto de orelha a professora de russo da Universidade de São Paulo Fátima Bianchi.
O livro joga luz sobre o processo de construção das narrativas de Dostoiévski, que inicialmente parte da Escola Natural e do romantismo para depois encontrar seu estilo próprio baseado nas figuras do “homem do subsolo” e do “homem-universo”.
“Composto de onze capítulos dedicados a romances específicos, ‘O estilo de Dostoiévski’ faz jus ao título que ostenta, e a própria palavra ‘estilo’ define a tônica dos ensaios que o constituem. Estabelecendo relações inextricáveis entre a produção da juventude de Dostoiévski e sua obra madura, Tchírkov inicia o volume dando ênfase à busca do autor por um estilo próprio. Localiza, já na novela ‘A Senhoria’, uma série de elementos altamente característicos dos romances posteriores, como a complexa situação do enredo e o tema do isolamento, do conflito, que tanto o inquietou, do homem solitário, ‘recolhido à sua carapaça’, com a vida”, prossegue Bianchi.
Com este livro, Nikolai Tchirkóv oferece um importante estudo dos principais temas de Dostoiévski, pontuando-os ao longo de toda a sua obra e terminando com uma importante abordagem de “Os irmãos Karamázov”.
“Um dos pontos altos do livro é o que Tchirkóv chama de imagem do ‘homem-universo’, do qual Dostoiévski se ocupa apaixonadamente desde o tempo dos trabalhos forçados e oferece a cada vez uma nova variante. Esse ‘homem-universo’ ora é colocado sob o signo da negação, diante da perspectiva de uma total indiferença a tudo no ‘homem do subsolo’, em Svidrigáilov, de ‘Crime e Castigo’, Stavróguin, de ‘Os Demônios’, e em parte em Viersílov, de ‘O Adolescente’; ora sob o signo da desvairada afirmação, combinando-se a um ativo amor ao ser humano e tornando-se uma premissa fundamental do tipo do ‘homem positivo’, personificado no príncipe Míchkin, de ‘O Idiota’, e, particularmente, em Aliócha Karamázov”, escreve Bianchi.
Com sua temática, “O Estilo de Dostoiévski” é uma excelente porta de entrada para quem quiser conhecer mais a fundo a obra deste gênio da literatura.
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