10 curiosidades que vão fazer você amar Serguêi Dovlátov (se já não ama)

Serguêi Dovlátov em Nova York.

Serguêi Dovlátov em Nova York.

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Para celebrar o aniversário do escritor, que completaria 82 anos neste 3 de setembro, preparamos um especial sobre ele e suas contribuições para a literatura russa.

1. As obras de Serguêi Dovlátov não eram publicadas na União Soviética por uma “questão de princípio”. As revistas não queriam revelar a verdade amarga da vida soviética, que era objeto da escrita dele. Depois de seu livro “A Zona”, sobre o dia a dia dos prisioneiros e guardas do campo, ele foi impedido de entrar no sistema editorial soviético. Por muitos anos, no entanto, seus escritos foram distribuídos na URSS por meio de samizdat (as publicações clandestinas do período, sobre as quais pode-se saber mais neste link).

Uma anedota diz que, certa vez, Dovlátov enviou versos do famoso poeta oitocentista Afanassi Fet para uma revista fingindo serem seus. A revista respondeu então que não os publicaria pois o autor ainda tinha “muito trabalho a fazer”. Seus amigos lembram que Serguêi riu muito da situação.

2. Dovlátov amava o poeta Aleksandr Púchkin e trabalhou vários anos no Museu Púchkin em Mikháilovskoie (região de Pskov). Ele escreveu sobre essa experiência em seu divertidíssimo “Parque Cultural” (que foi vertido ao português pela editora Kalinka). Seu amigo Alexander Genis escreveu no livro “Dovlátov e seus arredores” (no original, “Dovlatov i okrestnosti”, ainda sem traduções, exceto ao sérvio e estoniano) que o escritor deu a uma de suas filhas o nome Alexandra, em homenagem a Púchkin.

3. No final dos anos 1970, Dovlátov se mudou para Nova York. Ali, ele encontrou muitos amigos escritores que também haviam emigrado da União Soviética. Ele se encontrava frequentemente com o poeta Joseph Brodsky, e todas as vezes havia um verdadeiro ritual de preparação para os encontros. Sobre isso, Genis escreveu: "Acho que Brodsky era a única pessoa de quem Serguêi tinha medo". Mas "todos tinham medo" de Brodsky e todos o veneravam, portanto Dovlátov não era exceção nesse aspecto.

Serguêi Dovlátov e Joseph Brodsky.

4. Após a publicação de um conto de Dovlátov na revista The New Yorker, o escritor norte-americano Kurt Vonnegut escreveu: "Espero muito de você e de suas obras. Você tem um grande talento e está pronto a acrescentar a este país louco. Somos felizes por você estar aqui."

5. De acordo com Brodsky, as moças chamavam Dovlátov de "nosso árabe" devido a sua semelhança com o ator egípcio Omar Sharif. A terceira mulher de Dovlátov, Tamara, lembra que, quando o escritor lhe telefonou e chamou para um encontro pela primeira vez, ele próprio se descreveu: “Pareço um vendedor de damasco: alto, moreno, você ficará imediatamente assustada!”

Da esq. para dir.: Serguêi Dovlátov e seus amigos Alexander Genis e Piotr Vail.

6. Dovlátov era famoso por sua pontualidade patológica e ódio a atrasos. Ele era um perfeccionista não só em sua prosa, mas também na vida — com notas de TOC. Cadarços desamarrados, palavras imprecisas, ênfases incorretas ou ingratidão também o irritavam. Nem mesmo o leitor mais atento será capaz de encontrar em suas obras originais uma frase em que duas palavras comecem com a mesma letra. Além disso, ele nunca começava ou terminava uma história com uma frase engraçada.

7. O humor, segundo Dovlátov, não era o fim nem o meio, mas um instrumento para compreender a vida. Se você estiver estudando algum tipo de fenômeno, encontre algo engraçado sobre ele e ele se abrirá por completo. Genis escreveu que Dovlátov estava convencido de que Dostoiévski era o autor mais engraçado da literatura russa e tentava persuadir todo mundo que conhecia a escrever uma dissertação sobre o assunto.

8. A filha de Dovlátov, Katherine, mora na cidade de Nova York. Graças aos seus esforços, uma das ruas da cidade foi rebatizada de “Sergei Dovlatov Way”. Ela também traduziu a novela “Parque Cultural” para o inglês. Dovlátov sempre considerou essa obra intraduzível devido à maneira particular de falar de alguns personagens — e, entretanto, a tradutora Yulia Mikaelian também a verteu brilhantemente ao português.

9. Na juventude, Dovlátov adorava o boxe. Havia até rumores de que ele era bom nisso. Nos EUA, ele adorava assistir a lutas de boxe na televisão e acompanhar as de Muhammad Ali.

10. Dovlátov não gostava de museus, nem de natureza ou pintura, mas amava música. Uma vez ele chegou até a cantar durante um evento com leitores. Ele escreveu muito sobre jazz. Sua última obra na revista “Nôvi Amerikanets” (em tradução livre, “Novo Americano”, uma revista em russo publicada pelos imigrantes provenientes da URSS) era dedicado ao jazz.

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