10 pessoas e coisas que conectam Pablo Picasso com a Rússia

Hulton Archive/Getty Images; Legion Media
Colecionadores russos e artistas de vanguarda reconheceram Picasso como uma figura destacada na arte do século 20 desde o início, e os atuais visitantes dos museus Púchkin, em Moscou, e do Hermitage, em São Petersburgo, correm para as salas onde suas obras são exibidas. Picasso tinha muito mais conexões com a Rússia do que se poderia imaginar.
  1. Colecionadores de arte
Sala Picasso na casa de Shchukin

Em 1908, Henri Matisse e um comprador de arte russo visitaram o estúdio de Picasso juntos. O comprador selecionou duas pinturas, incluindo a “Rainha Isabel”, e pagou generosamente por ambas. Para o artista, que na época estava um tanto duro, a aparição desse comprador, chamado Serguei Shchukin, foi uma dádiva de Deus. Ao longo de seis anos, o filantropo russo comprou mais de 50 obras de Picasso de seus períodos cubista, rosa e azul, incluindo “Mulher com um leque” e “O bebedor de absinto”. Sua coleção de obras de Picasso se tornou a maior do mundo. Outro famoso colecionador de arte russo, Ivan Morozov também se interessou pelas obras de Picasso, adquirindo duas pinturas proeminentes: “Garota em uma bola” e “Dois Acrobatas (Arlequim e seu companheiro)”. Após a Revolução Bolchevique, as coleções de Shchukin e Morozov foram nacionalizadas, e o Museu da Nova Arte Ocidental foi estabelecido com base nelas; existiu até 1948, quando seu acervo foi dividido entre os museus Púchkin e o Hermitage.

  1. Monografia
Aleksandra Exter, 1917, Pikasso I Okrestnosti (Picasso e arredores), Moscou, Tsentrifuga

A primeira monografia sobre o artista foi publicada na Rússia em 1917. Em seu artigo "Picasso  e Arredores", o poeta e crítico de arte Ivan Aksionov, membro da associação futurista Centrifuge, queria, como ele mesmo disse, alertar os público sobre o que não deveria procurar nas obras do espanhol e como deveria olhar para elas. Aksionov provavelmente visitou Paris e conheceu Picasso pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, ou sua fonte teria sido Aleksandra Exter, uma artista de vanguarda que morou em Paris e estava familiarizada com a crítica de arte local (e que, aliás, projetou a capa do livro).

  1. Pupilos
Contra-relevo de esquina de Tatlin

Os artistas de vanguarda russos admiravam a obra de Picasso, embora tivessem que fazê-lo à distância, já que o espanhol era uma figura fora de seu alcance. Mas, novamente, o que as limitações significam para alguém que é apaixonado por arte? Em 1914, o artista Vladimir Tatlin viajou para Berlim como membro de um conjunto de banduras (instrumento típico) que se apresentava em uma exposição de arte russa. Mas Berlim não foi, de fato, seu destino final. Tatlin sonhava em ir a Paris para encontrar seu ídolo e, no final, ele realmente conseguiu. De acordo com uma versão dos acontecimentos, tudo se deu graças a Marc Chagall; já conforme outra versão, ele conseguiu atingir o objetivo por sua própria engenhosidade. Tatlin vestiu roupas chamativas e se aconchegou com sua bandura do lado de fora do estúdio de Picasso. Picasso percebeu a figura incomum e o convidou para se sentar para uma pintura. No momento em que o espanhol saiu da sala, Tatlin começou a fazer esboços frenéticos de tudo o que via ao seu redor, até que Picasso voltou e expulsou o "modelo". Segundo outra teoria, Tatlin admirava tanto Picasso que, quando se conheceram, ele imediatamente se ofereceu para se tornar seu servo na esperança de encontrar uma maneira de descobrir o segredo de seu gênio. O que quer que tenha acontecido na realidade, Tatlin considerava Picasso seu tutor e, após retornar de Paris, concentrou-se na criação de contra-relevos.

  1. Balé
Figurino de Pablo Picasso para a performance “Desfile” do Ballets Russes, de Serge Diaghilev, no Théâtre du Châtelet em Paris, 18 de maio de 1917

Na primavera de 1917, o Ballets Russes de Sergei Diaghilev ganhou uma nova produção no Théâtre du Châtelet, em Paris. Desta vez, o famoso empresário decidiu combinar arte, balé e poesia no balé em um ato “Desfile”. O balé, baseado em poemas de Jean Cocteau, foi criado pelo coreógrafo Leonide Massine e o compositor Erik Satie; o cenário, o figurino e a cortina de inspiração circense foram desenhadas por Pablo Picasso.

O resultado superou todas as expectativas. Em vez de tutus de balé, as dançarinas estavam vestidas com trajes volumosos feitos de papel machê, madeira e metal, que, de tão desconfortáveis, qualquer tentativa de movimento parecia mecânica e desajeitada. Contra o cenário cubista, os dançarinos eram transformados em fragmentos móveis de uma colagem. Assim, o cubismo fez sua primeira incursão no mundo do teatro, e “Desfile” se tornou um dos primeiros eventos surrealistas.

  1. Compositor Igor Stravinsky

Esboço do famoso compositor Igor Stravinsky por Pablo Picasso

Para preparar os cenários e figurinos de “Desfile”, Picasso foi a Roma, onde conheceu Igor Stravinsky. Eles se tornaram amigos, e a amizade logo evoluiu para uma colaboração profissional - Picasso trabalhou como designer no balé “Pulcinella”, de Stravinsky, e pintou vários retratos do músico. Stravinsky tentou levar um desses consigo para a Suíça, mas os oficiais de fronteira exigiram saber o que era e se recusaram a acreditar que se tratava de uma ilustração a lápis de um artista famoso, pois parecia mais um esboço. O compositor teve que acabar concordando que a obra de Picasso nada mais era do que um rascunho de seu rosto. No final, o retrato teve de ser enviado por correio diplomático por meio da Embaixada Britânica.

  1. Mulher e filho
Pablo Picasso e Olga Khokhlova no estúdio de pintura em Londres, 1919

Em Roma, Picasso conheceu Olga Khokhlova, uma bailarina dos Ballets Russes de Diaghilev. Picasso e Khokhlova se casaram no verão de 1918. A cerimônia aconteceu na Catedral Ortodoxa Russa em Paris e contou com a presença, entre outros, de Gertrude Stein e Sergei Diaghilev. Em 1921, o casal teve um filho, Paulo, e em 1935 decidiu se separar, embora nunca tenham se divorciado oficialmente.

  1. Escritor Iliá Ehrenburg

Picasso tornou-se amigo do escritor Iliá Ehrenburg em 1914. Ehrenburg admirava o que descrevia como o "poder destrutivo" da arte de Picasso e, brincando, chamava o espanhol de “demônio do bem”. Certa vez, Picasso decidiu pintar um retrato de Ehrenburg, mas assim que o amigo enfim se acomodou em uma poltrona para posar, Picasso anunciou que já havia terminado. Ehrenburg ficou surpreso com a rapidez com que o retrato foi concluído - Pablo respondeu, rindo, que se conheciam há mais de 40 anos, e ele tinha passado todo esse tempo treinando para pintar retratos em apenas cinco minutos.

  1. A primeira exposição de arte de vanguarda ocidental na URSS
Exposição de Pablo Picasso em Moscou

Foi Ehrenburg quem apresentou Picasso ao público soviético e ajudou a organizar exposições de seu trabalho nos museus Puchkin e Hermitage em 1956. As exposições se tornaram um prenúncio do degelo político que se aproximava; o entusiasmo foi tanto que as pessoas faziam fila a noite toda para entrar. Ehrenburg ficou famoso por tranquilizar o público com a frase: "Você esperou por esta exposição por 25 anos, pode esperar mais 25 minutos, por favor?"

  1. Retrato de Stálin

Na União Soviética, Picasso era às vezes chamado de "Camarada Pablo", uma vez que ingressou no Partido Comunista Francês em 1944. Essa foi sua maneira de protestar contra a guerra e os horrores perpetrados pelo regime de Franco na sua terra natal, Espanha. Quando Stálin morreu, em 1953, Picasso pintou seu retrato, mas para indignação dos comunistas, retratou o líder com expressão jovem. Isso virou um escândalo quando membros do Partido Comunista Francês expressaram sua indignação por Stálin ter sido apresentado em uma imagem não canônica. O poeta Louis Aragon, então editor-chefe do Les Lettres Françaises, que imprimiu o retrato, censurou o amigo: "Stálin não pode ser inventado".

  1. Prêmio Lênin
Pôster para o Congresso Mundial de Partidários pela Paz, 1949

Em 1949, Paris sediou um Congresso Mundial de Partidários pela Paz, e Picasso criou um pôster com uma pomba para o fórum. Este símbolo logo se tornou mundialmente famoso, e o artista o usaria muitas vezes depois. Em 1962, recebeu o Prêmio Lênin da Paz, que foi levado a ele em Mougins, na França, por seu amigo Iliá Ehrenburg.

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