O que bebiam os personagens da literatura russa

A bebedeira foi tema principal pela primeira vez em “Moscou-Petúchki”, de Venedikt Erofeev, mas os protagonistas da literatura russa sempre beberam – e muito! Confira aqui apenas alguns deles e suas preferências. (E não recomendamos repetir estas ações em casa, crianças!)

1. Ponche – Pêtia Grinióv em “A Filha do Capitão”, de Aleksandr Púchkin

O velho oficial Zurin precisava de dinheiro e decidiu ganhá-lo no bilhar contra o jovem Pêtia Grinióv, que serve ao exército pela primeira vez. Mas Pêtia não sabe jogar e não aceita o convite,  e assim Zurin promete ensiná-lo, afirmando todo valente que todo oficial deve saber jogar bilhar e beber.

“Zurin pediu ponche de rum para mim e me incentivou a experimentar, repetindo que eu precisava me acostumar com o serviço militar; sem ponche, que serviço era aquele?”

No final das contas, Pêtia perdeu muito dinheiro: “Quanto mais sorvia eu de meu copo, mais me tornava valente”. E acordou com uma baita dor de cabeça.

2. Todas as bebidas possíveis - senhores de terras em “Almas Mortas”, de Nikolai Gógol

Proprietários de terras entediados na Rus adoravam tomar um trago, sobretudo quando tinham visita, e não sabiam ouvir não como resposta. Quando Tchitchikov, que comprava servos mortos que ainda eram contados como vivos no papel, chega a um desses senhores, encontrou a seguinte cena: “Nozdrev se jogou no vinho: ainda não tinham servido a sopa, mas ele já tinha enchido para os convidados um grande copo de portenho e outro de haut sauterne, porque nas cidades provinciais e municipais não há sauterne comum. Depois, Nozdrev mandou trazer uma garrafa de Madeira tão bom que nem o próprio marechal de campo tinha bebido melhor. O Madeira, isto é certo, até queimava na boca, já que os comerciantes, sabendo já do gosto dos senhores de terras, que amavam um bom Madeira, enchiam-no sem piedade de rum, e outras vezes derramavam ali também vodca imperial, na esperança de que tudo  suportassem os estômagos russos. Depois, Nozdrev mandou trazer ainda alguma garrafa especial que, segundo ele, tinha tanto Borgonha como Champanhe juntos.”

3. Madeira – “Oblómov”, de Ivan Gontcharov

O protagonista deste título passa a maior parte do tempo em posição horizontal, e para um sono melhor não se esquiva de beber. Seu criado disse ao cocheiro e aos lacaios: “Acreditam? Bebeu sozinho uma garrafa e meia de Madeira, dois chtof [medida equivalente a 1,2 litro] de kvass, e agora caiu no sono.” Além disso, a julgar pelo livro, não teria sido aquela a única ocasião em que Oblômov bebeu sozinho.

4. Champanhe, conhaque, destilado – convidados do baile do Satã em ‘O mestre e Margarida’, de Mikhaíl Bulgákov

Como aperitivo nesta reunião diabólica para convidados-zumbis há uma piscina de champanhe. “A champanhe borbulhava em três piscinas, dos quais o primeiro era violeta claro, o segundo, vermelho rubi, e o terceiro, de cristal”. As damas pulavam na piscina e saíam completamente bêbadas.

Mais tarde, o gato Behemoth produziu por sortilégio a champanhe da piscina em conhaque, no qual pulavam somente os mais corajosos (entre eles, o gato).

Cansados depois do baile, o gato, Margarida e o próprio satã Woland bebem destilado. Este momento do romance virou uma citação altamente disseminada:

“- Isto é vodca? – perguntou, de maneira fraca, Margarida.

O gato deu um salto da cadeira de ofendido.

- Perdoe-me, rainha – disse com a voz rouca -, e eu me permitiria colocar vodca para uma dama? Isto é destilado puro!”

5. Vodca e cerveja – hóspedes do estabelecimento da peça de Maksím Górki ‘Albergue Noturno’

Uma garrafa de vodca, três de cerveja e uma grande fatia de pão preto surgem diante de Satin, do Barçai e de Nástia no início do quarto ato e os personagens não param de beber até o final da peça. “Encha o copo dele, Satin!... Ah, irmãos! O homem precisa de muito? Eis-me aqui, bebi e... estou feliz!”

6. Todas as bebidas possíveis – Mítia na festa do romance de Dostoiévski “Irmãos Karamázov”

O capítulo em que o mais velho dos irmãos Karamazov, Mítia, bebe demais e se diverte com as raparigas chama-se, simbolicamente, “delírio”. Ao que parece, nesta “quase orgia, festim para o mundo todo” havia todo tipo de bebida: “Só se jogavam muito na champanhe as raparigas, os homens gostavam mais de rum e conhaque e sobretudo de ponche quente”. O samovar ferveu durante a noite toda com ponche e quem quisesse podia se servir. Infelizmente, a bebedeira não trouxe nada de bom, e depois da festa Mítia foi acusado de matar o pai.

7. Gim com suco de abacaxi – Humbert Humbert em ‘Lolita’ de Vladímir Nabokov

“O dia amadureceu e começou a cair a noite. Esvaziei um copo inteiro de destilado. E mais um. Minha bebida predileta é “gimbacaxi”, gim com suco de abacaxi, que sempre dobra minha energia.”

Depois daquilo, Humbert vai pegar Lolita no acampamento de verão e vê garotas ninfetas por todo lado onde olha.

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