De origem pagã, Carnaval russo segue tradição cristã e é marcado por festival de panquecas

Neste ano feriado ocorre entre 11 e 17 de março; espantalho é queimado como parte de tradições.

Neste ano feriado ocorre entre 11 e 17 de março; espantalho é queimado como parte de tradições.

Mikhail Fomitchev/Sputnik
Maslenitsa serve como um farto banquete antes da esquálida dieta da Quaresma. Mas já teve como principal objetivo saudar o fim do inverno.

A Maslenitsa (pronuncia-se “máslenitsa”) é uma celebração eslava antiga que ultrapassou a cultura pagã e foi preservada após a adoção do cristianismo na Rússia.

A Igreja Ortodoxa Russa incluiu a data entre suas celebrações chamando-a de Semana do Queijo ou Semana sem Carne, já que esta antecede o início da chamada Grande Quaresma, ou seja, a oitava semana antes da Páscoa Ortodoxa.

O nome, que tem origem na palavra "manteiga" ou "óleo" em russo ("maslo"), surgiu porque segundo a tradição ortodoxa, nessa semana de celebrações não se come carne, mas produtos lácteos sim. Alguns estudiosos, porém, argumentem que o título é uma versão mais antiga de “miasnoi post’”, que significa “jejum sem carne”.

Mas as estrelas desse feriado, que em 2024 ocorre de 11 a 17 de março, são sempre os blini (as tradicionais panquecas russas, que você aprende a fazer aqui).

Assim, a festa pode ser resumida como uma semana de comemoração, panquecas e brigas, que anuncia o fim do inverno, o início da Quaresma e a promessa de primavera.

Originalmente, a Maslenitsa esteve ligada ao equinócio de primavera, momento que marca o início da estação e se caracteriza pela passagem direta do sol pelo equador, fazendo com que noite e dia tenham a mesma duração.

Dos quatro pontos extremos do calendário (os solstícios e os equinócios), o equinócio de primavera era o mais venerado por sociedades antigas, já que anunciava o retorno do sol após longos e tenebrosos invernos.

Mito de Iarilo e Morana

No mito popular russo, os irmãos Iarilo e Morana (inspirados nos egípcios Ísis e Osíris), personagens diretamente ligados à Maslenitsa, são amantes que representam a vida e a morte, o fogo e o gelo, a primavera e o inverno.

O romance deles chega a um ponto febril durante o solstício de verão, para depois se tornar uma espiral de traições no outono, e separação e morte no inverno.

Possuída de raiva, Morana se transforma em uma bruxa terrível, espalhando morte e geadas. As lavouras se transformam em palha seca enquanto Iarilo se retira para um mundo subterrâneo.

Com o retorno da primavera, os fiéis costumavam queimar um espantalho sobre um monte de neve vestido de mulher, representando Morana, para chamar Iarilo de volta à superfície.

Representando o sol, panquecas têm lugar central nas festividades.

Quando as chamas estalavam e tomavam conta do espantalho, os eslavos pagãos celebravam o retorno da primavera dançando, lutando e se fartando de um grande banquete no qual as panquecas, redondas e amarelas, representavam o sol.

Reciclagem de feriado

Os cristãos, sempre eficientes na reciclagem de feriados alheios, encontraram uma adaptação para a Maslenitsa na leitura litúrgica da Páscoa.

Na Rússia agrária, a Quaresma serviu como um pretexto conveniente para se seguir a dura dieta que proíbe o consumo de carne, queijo, óleo, ovos, álcool e manteiga, ingredientes muito utilizados para dar sabor ao tradicional mingau de aveia.

Conveniente porque, naquela época, os quarenta dias da Quaresma coincidiam com o período do final do inverno, quando a quantidade restante de alimentos básicos era mínima.

Tradições

Originalmente, os passeios a cavalo eram parte integrante da festa. Os rapazes que se preparavam para casar compravam trenós para os passeios, dos quais os casais jovens participavam obrigatoriamente. 

Passeios de trenó eram parte integrante da festa em seus primórdios.

Entre os costumes rurais havia a fogueira, que precisava ser pulada, e a “conquista” de uma cidadezinha de neve.

Nos séculos 18 e 19, o lugar central das festividades da Maslenitsa era ocupado pela comédia campestre, envolvendo personagens fantasiados Maslenitsa, Voevoda e outras.

Os blini também tinham suas tradições: o primeiro era em honra daqueles que já se foram, geralmente oferecido a um morador de rua para lembrar todos os mortos, ou colocado no parapeito da janela. Eram apreciados com "smetana" (creme de leite azedo), ovos, caviar etc. de manhã até a noite, alternando com outros pratos.

O adeus à Maslenitsa vinha com o primeiro dia da Quaresma, a “segunda-feira da limpeza”, considerada o dia de purificação dos pecados e dos alimentos proibidos. Nesse dia, as pessoas costumavam ir à “bânia” (sauna tradicional russa).

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