Antigos santuários do Ártico — quem os construiu e por quê?

Viagem
ANNA SORÔKINA
Ídolos de pedra, labirintos em espiral e um beco de ossos de baleia. No norte da Rússia há locais sagrados cujo propósito continua um mistério para os cientistas até hoje.

Não só russos vivem acima do Círculo Polar Ártico, mas também representantes de 40 povos indígenas do Norte. Eles incluem os nenets, os sami, os tchuktchi, os enetses, os nganasans, os yukaghirs e tantos outros menores. Esses povos preservam as tradições de seus ancestrais, que reverenciavam o poder da natureza. Por isso, também é possível encontrar no Ártico alguns santuários antigos onde eram realizados rituais tradicionais. Muitos, ainda hoje, visitam esses lugares em busca de apoio espiritual.

Lago Lama

Os arredores do lago Lama, no território de Krasnoiarsk, são desabitados, porém existem várias bases turísticas. Na maioria das vezes, as rotas através do Planalto Putorana, de difícil acesso, começam ali.

Acredita-se que a extremidade oriental do lago tenha sido um local de poder desde os tempos antigos; lá foram encontrados ídolos de madeira dos evenques e, segundo a lenda, no final da década de 1930, a última xamã evenque ainda morava lá. Há também uma montanha, onde se pode ver a imagem que supostamente lembra o ‘Shaitan’ (‘Diabo’).

Os povos do Norte consideram as águas e as margens do lago Lama sagradas e acreditam que realize desejos.

Antes deles, havia outros povos vivendo ali, mas nada se sabe sobre eles. Itens de bronze, inclusive ritualísticos, foram encontrados nessa área em meados da década de 1970; alguns pertencem ao século 18 a.C. Além disso, foram descobertas construções megalíticas feitas pelo homem em diferentes pontos.

Leia mais sobre o lago aqui.

Beco dos Ossos de Baleia em Tchukotka

A remota Ilha Itigran, no Mar de Bering, é conhecida como o assentamento mais antigo dos esquimós caçadores. Até a década de 1940, ali ficava a vila de Sikliuk, cujos habitantes se mudaram lentamente para outras regiões da Rússia. Perto dali, na década de 1970, cientistas descobriram um beco de ossos de baleia durante uma expedição. Data dos séculos 14-16, mas não há informações sobre a sua utilização.

O beco consiste em duas fileiras de ossos de baleia-cinzenta e baleia-da-groenlândia, que se estendem por cerca de 500 metros.

Os ossos estão separados em grupos e organizados em uma ordem específica. A escala da estrutura impressiona: os ossos chegam a atingir 5 metros de altura e, apesar de pesarem até 300 quilos cada, estão firmemente cravados no solo. Há também crânios de baleia e covas onde a captura foi mantida.

Alguns especialistas acreditam que este beco era um local sagrado para os caçadores do mar. Outros acreditam que os esquimós secavam seus barcos nesses ossos, de ponta cabeça; e usavam os crânios para amarrá-los.

Os ídolos da Ilha Vaigatch

Na Área Autônoma de Nenets, entre os mares de Barents e de Kara, fica a Ilha Vaigatch. Os nenets também acreditam que seja sagrado. No século 17, os viajantes descobriram ali centenas de ídolos. Quase quinze desses ídolos de pedra sobrevivem até hoje. Muito provavelmente, os povos do Norte faziam oferendas aos espíritos, pedindo-lhes sorte durante a caça e a pesca.

Curiosamente, a ilha permaneceu desabitada até à década de 1930, embora sua existência fosse conhecida. Mas era usada apenas como ponto de trânsito. Com o início da industrialização, geólogos descobriram jazidas de minério nessas terras. Com isso, apareceu um assentamento chamado Varnek — nomeado assim em homenagem a um dos primeiros exploradores polares. O trabalho nas minas era feito sobretudo por prisioneiros. Em 1938, a produção teve que ser encerrada, pois as minas começaram a ser inundadas com água. Hoje em dia, cerca de cem pessoas ainda vivem no assentamento.

Ilha Stolb, Iakútia

No extremo norte da Iakútia, o grande rio siberiano Lena deságua no Mar de Laptev, no Oceano Ártico. Em seu delta fica a Ilha Stolb, com um pico de 114 metros de altura. O povo iukaghir considera esta ilha sagrada; segundo eles, a ilha foi criada por um xamã no local onde sua filha foi morta por inimigos e sua alma pode aparecer diante das pessoas. Para “agradar” os espíritos, as pessoas costumam atirar doces ou moedas quando passam pela ilha. Os raros turistas que chegam a este lugar remoto seguem a tradição até hoje.

Os labirintos do Norte da Rússia

As maiores ‘babilônias’ de pedra (como são conhecidos esses labirintos em forma de espiral) estão localizadas nas Ilhas Solovetski, mas estruturas semelhantes também podem ser encontradas em outros pontos do norte da Rússia. Os labirintos mais famosos além do Círculo Polar Ártico ficam não muito longe da cidade de Kandalaksha e da vila de Umba, na região de Murmansk. Todos esses labirintos na Rússia estão situados perto da água: em ilhas ou na foz de rios (mas nunca em lagos).

Os labirintos do norte começaram a ser relatados sistematicamente no início do século 19, embora menções a tais estruturas remontem a meados do século 16. A descrição mais completa dos labirintos de Solovetski foi feita pelo etnógrafo Nikolai Vinogradov em 1927. Os cientistas ainda não sabem qual era o propósito real dessas estruturas, mas muitos pesquisadores contemporâneos acreditam que tais labirintos tinham um significado ritualístico.

Leia mais sobre os labirintos aqui.

LEIA TAMBÉM: O que é o Culto ao Urso ainda praticado na Sibéria?

O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br