Por que o relógio não tem importância em Tchukotka?

Legion Media
É claro que o tempo existe ali – o fuso horário é de 9 horas a mais que em Moscou. Mas ele não define nada para um turista na região: o principal é o clima.

A Tchukotka é a região mais remota da Rússia, “onde o novo dia começa”, como escrevem os jornalistas mais dados à poesia. Ali, o relógio está 9 horas à frente do de Moscou. Mas o correr do tempo é muito diferente em Tchukotka, especialmente para quem vem da cidade grande e está acostumado a planejar cada segundo de sua vida.

A distância não depende do tempo

Prédios residenciais coloridos em Anadir.

Já falamos sobre como as pessoas vivem na capital de Tchukotka, Anadir, a cidade mais cara do país (clique aqui para relembrar), e sobre os povos indígenas nos assentamentos nacionais ali (aqui).

Olhando o mapa, parece que os assentamentos da região não ficam muito longe uns dos outros: por exemplo, de Anadir até um grande assentamento chamado Egvekinot são apenas 230 quilômetros de distância.

Ruas de Anadir em janeiro de 2020.

A distância entre Pevek e Bilibino, no mapa, também é de apenas 240 quilômetros. Mas você imaginaria que pode levar uma ou duas semanas para percorrer essas duas ou três centenas de quilômetros? Só que também podem ser apenas duas horas. Ou três dias. E esse tempo para transpor as distâncias não depende de nada que você faça!

A Península de Tchukotka é um território enorme, equivalente a vários países europeus somados. Mas ali vivem apenas 50 mil pessoas. A maior parte do local é coberta por uma vasta tundra acidentada e altas colinas.

Ambulância todo-o-terreno em Anadir.

Só há estradas nos assentamentos, e para locomover-se de um para o outro, é preciso usar um veículo todo-o-terreno ou um helicóptero.

Assim, é o clima quem decide quanto tempo leva para percorrer essas distâncias. E o clima em Tchukotka é muito caprichoso e diversificado.

Tempestade de neve em Anadir.

Por exemplo, mesmo que no ponto de partida e no de destino esteja claro e sem vento, ainda pode ser impossível voar simplesmente porque há uma terrível tempestade de neve e neblina no meio do caminho.

Você confere o clima, olha para os sites dos aeroportos e não entende porque não há nenhum avião. E pode ter que esperar não só um ou dois dias, mas várias semanas para poder voar.

Passageiros de helicóptero no aeródromo de Anadir.

A moradora local Anna, que vive em Anadir, escreve: "Toda vez que você chega ao aeroporto há um verdadeiro enigma: ‘Será possível voar ou não?’ Portanto, as pessoas ficam o dia todo em volta da bilheteria, esperando ter sorte! E isto pode se estender por uma semana ou até mais...”

Sobre Pevek, a cidade mais setentrional da Rússia, um usuário escreve o seguinte comentário na internet: "Atrasos nos voos são comuns. Antes de ir ao aeroporto para obter informações sobre o voo, muito provavelmente, o voo será cancelado e você não tem sequer que sair de casa".

E como as pessoas viajam ali?

Os russos que vivem “no continente” estão acostumados a comprar passagens on-line quando precisam. Eles podem comprá-las com seis meses de antecedência ou apenas algumas horas antes da partida, e são rigorosos sobre a companhia aérea com que querem voar.

Com o transporte terrestre, é o mesmo frenesi.

"Eles têm táxis, ou seja, motoneve-táxis", explica o viajante Aleksêi Kotelnikov, de Altai, que enfrentou longos tempos de espera para o transporte durante sua expedição. “Vi como um homem local convenceu outro a levá-lo para um vilarejo a 250 quilômetros de distância. Ele estava pronto a pagar 60.000 rublos (1.000 dólares), mas nem assim o taxista concordou, achando o valor muito baixo.”

Mas isso não significa que os moradores locais não vão a lugar algum. Eles estão acostumados e sabem esperar e entender que não adianta lutar contra o clima. 

Site de reservas de passagens na Tchukotka mostra atrasos de vários dias por causa do mau tempo.

"Em apenas dois dias (se você estiver em uma área despovoada) você deixará de se dar conta dos dias da semana e simplesmente não precisará deles", escreve em seu blog Evgueni Basov, guia turístico de Anadir, recomendando  que os turistas reservem muito mais “tempo cronológico” para viagens por ali.

LEIA TAMBÉM: 80 dias sem ver o sol: as noites polares mais longas da Rússia

Para ficar por dentro das últimas publicações, inscreva-se em nosso canal no Telegram

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies