“Passei apenas cinco dias em Narian-Mar. Mas consegui fazer muita coisa nesses cinco dias. Assisti a um ensaio do concurso Veselye Sani (“Trenó Feliz”), experimentei os produtos do frigorífico Narian-Mar, preparei chips de veado, visitei a tundra Malozemelskaia, me hospedei com uma família que tem dez filhos! Fiz uma torta salgada com massa de shortbread no museu e restaurante Timan, conheci um trabalhador de tipi e bebi chá de cebola”, escreve o viajante, cozinheiro e apresentador de TV John Warren, no prefácio do livro “Narian-Mar. É minha terra” (em tradução livre), que faz parte do projeto “It's my land”. Warren conta ainda ter compreendido e visto com os próprios olhos que quanto mais duras as condições de vida e o clima, mais otimistas são as pessoas e com mais gratidão e diversão se alegram com as pequenas coisas que os moradores de grandes cidades dificilmente notariam.
Serguêi Fadeitchev / TASS
Com o objetivo de promover o turismo em regiões diversas da Rússia, o concurso literário “It's my land” vem selecionando obras de autores locais de uma região, e os vencedores têm a possibilidade de fazer parte de um livro sobre a região. Outros pontos do país, como Suzdal, já foram alvo do projeto e agora chegou a vez de Narian-Mar, o centro administrativo e a única cidade da remota Região Autônoma de Nenétsia, localizada no Círculo Polar Ártico.
Sua população indígena é composta por nenets, uma etnia de nômades e pastores de renas. Traduzido da língua local, o nome Narian-Mar significa “Cidade Vermelha”.
Diante de tantas curiosidades, o Russia Beyond pediu a autores e participantes do concurso que respondessem a algumas perguntas sobre a cidade:
Por que um estrangeiro deveria visitar sua cidade?
Dmitry Pestov (CC BY-SA 3.0)
Iúri Tiuliubaev, crítico de “Narian-Mar. É minha terra” e chefe da agência de viagens Red City: “A Região Autônoma de Nenétsia é o único lugar na Europa onde um povo nômade indígena preservou seu modo de vida secular. Aqui, os estrangeiros poderão ver a vida real - não reconstruída ou digitalizada - dos nômades e visitar a parte mais escassamente povoada da Rússia”.
Andrei Suleikov, autor e produtor de “Narian-Mar. É minha terra”: “Em Narian-Mar, muitas casas têm seus próprios nomes - Titanic, Bastilha, Chapeuzinho Vermelho - e cada qual tem sua própria lenda. A cidade também tem sua própria Grande Muralha da China, apelido local para os blocos de apartamentos n° 12 e 14 da rua Vyucheyskiy, cuja localização, dizem, foi escolhida conforme a prática chinesa do feng shui”.
Dmitry Pestov (CC BY-SA 3.0)
Reza a lenda que, durante a construção desses blocos de apartamentos, foi aplicado o princípio da “árvore e montanha” da arquitetura chinesa, segundo o qual as colunas simbolizam árvores e as torres simbolizam montanhas. Os blocos de apartamentos conjugados possuem torres, enquanto as árvores são simbolicamente representadas por janelas retangulares vermelhas salientes além da linha da fachada.
Dmitry Pestov (CC BY-SA 3.0)
Isso também pode ser visto de cima. Por exemplo, alguns moradores particularmente observadores de Narian-Mar dizem que mais de uma vez notaram como bandos de pássaros migratórios giram no céu sobre a Grande Muralha da China local. Ou seja, os pássaros ajustam seu curso usando o edifício como um guia.”
Dmitry Pestov (CC BY-SA 3.0)
O que não se pode deixar de ver, fazer e provar?
Iúri Tiuliubaev: “Você definitivamente deve visitar um tipi, dar um passeio em um trenó puxados por renas por pelo menos um quilômetro e experimentar aiburdat - carne de rena fresca com sangue. Pode parecer selvagem, mas vai ajudá-los a sentir como se tivessem retornado brevemente a suas raízes, porque é assim que os nossos ancestrais comiam”.
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Andrei Suleikov: “Além do Círculo Polar Ártico, as flores desabrocham não em buquês, mas nas montanhas. Aqui está uma montanha toda coberta de branco - essas são amoras silvestres e mirtilos. Aqui está uma montanha toda coberta de rosa - estas são roseiras, freixo da montanha, mesembriântemo, alecrim selvagem, gerânio! Pense só, cada flor aqui tem duas, três vezes mais néctar do que flores comuns, e cada flor está esperando por uma abelha, escreveu o autor soviético Mikhail Prichvin em seu ensaio Mel Polar.”
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O que se deve certamente fazer em Narian-Mar é experimentar o mel local, bem como o pão de gengibre feito com este mel. Ambos são únicos e não podem ser encontrados em nenhum outro lugar, não importa o quanto você procure. Também existe a tradição de comprar pão de gengibre em uma casa especial e oferecê-lo aos transeuntes. A pessoa faz um pedido e dá a um estranho um delicioso pão de gengibre - e o desejo certamente se tornará realidade.
Quais são os melhores suvenires?
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Iúri Tiuliubaev: “Os melhores suvenires são lembranças calorosas de coisas que você viu, as pessoas fortes que conheceu e os lugares bonitos que explorou. Quanto aos souvenirs materiais, a Região Autônoma de Nenétsia possui uma grande variedade de itens feitos à mão em materiais naturais: tanto tradicionais (como a boneca ukko) como modernos, como, por exemplo, imãs de geladeira feitos de chifres de veado.”
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Andrei Suleikov: “Pão quadrado. Trazer pão feito à mão de uma viagem é uma boa tradição, porque dessa forma você leva não apenas comida, mas também o calor das mãos das pessoas que o fizeram. Mas não é só isso. Existe uma lenda em Narian-Mar: se você for uma boa pessoa, poderá encontrar joias no pão. Este pão é assado em formas quadradas e cortado não com faca, mas com tendões de rena”.
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