Por que visitar Narian-Mar, uma cidade remota no Círculo Polar Ártico?

Serguêi Malgavko/TASS
Especialistas locais compartilham dicas sobre o que ver e fazer em sua cidade natal, bem como quais pratos experimentar e o que levar para casa como suvenir.

“Passei apenas cinco dias em Narian-Mar. Mas consegui fazer muita coisa nesses cinco dias. Assisti a um ensaio do concurso Veselye Sani (“Trenó Feliz”), experimentei os produtos do frigorífico Narian-Mar, preparei chips de veado, visitei a tundra Malozemelskaia, me hospedei com uma família que tem dez filhos! Fiz uma torta salgada com massa de shortbread no museu e restaurante Timan, conheci um trabalhador de tipi e bebi chá de cebola”, escreve o viajante, cozinheiro e apresentador de TV John Warren, no prefácio do livro “Narian-Mar. É minha terra” (em tradução livre), que faz parte do projeto “It's my land”. Warren conta ainda ter compreendido e visto com os próprios olhos que quanto mais duras as condições de vida e o clima, mais otimistas são as pessoas e com mais gratidão e diversão se alegram com as pequenas coisas que os moradores de grandes cidades dificilmente notariam. 

Crianças de etnia nenets em Narian-Mar

Com o objetivo de promover o turismo em regiões diversas da Rússia, o concurso literário “It's my land” vem selecionando obras de autores locais de uma região, e os vencedores têm a possibilidade de fazer parte de um livro sobre a região. Outros pontos do país, como Suzdal, já foram alvo do projeto e agora chegou a vez de Narian-Mar, o centro administrativo e a única cidade da remota Região Autônoma de Nenétsia, localizada no Círculo Polar Ártico. 

Sua população indígena é composta por nenets, uma etnia de nômades e pastores de renas. Traduzido da língua local, o nome Narian-Mar significa “Cidade Vermelha”.

Diante de tantas curiosidades, o Russia Beyond pediu a autores e participantes do concurso que respondessem a algumas perguntas sobre a cidade:

Por que um estrangeiro deveria visitar sua cidade?

Posto do correio em Narian-Mar

Iúri Tiuliubaev, crítico de “Narian-Mar. É minha terra” e chefe da agência de viagens Red City: “A Região Autônoma de Nenétsia é o único lugar na Europa onde um povo nômade indígena preservou seu modo de vida secular. Aqui, os estrangeiros poderão ver a vida real - não reconstruída ou digitalizada - dos nômades e visitar a parte mais escassamente povoada da Rússia”.

Andrei Suleikov, autor e produtor de “Narian-Mar. É minha terra”: “Em Narian-Mar, muitas casas têm seus próprios nomes - Titanic, Bastilha, Chapeuzinho Vermelho - e cada qual tem sua própria lenda. A cidade também tem sua própria Grande Muralha da China, apelido local para os blocos de apartamentos n° 12 e 14 da rua Vyucheyskiy, cuja localização, dizem, foi escolhida conforme a prática chinesa do feng shui”.

Prédio local conhecido como Grande Muralha de China

Reza a lenda que, durante a construção desses blocos de apartamentos, foi aplicado o princípio da “árvore e montanha” da arquitetura chinesa, segundo o qual as colunas simbolizam árvores e as torres simbolizam montanhas. Os blocos de apartamentos conjugados possuem torres, enquanto as árvores são simbolicamente representadas por janelas retangulares vermelhas salientes além da linha da fachada.

Museu do Conhecimento de Narian-Mar

Isso também pode ser visto de cima. Por exemplo, alguns moradores particularmente observadores de Narian-Mar dizem que mais de uma vez notaram como bandos de pássaros migratórios giram no céu sobre a Grande Muralha da China local. Ou seja, os pássaros ajustam seu curso usando o edifício como um guia.”

Catedral da Epifania em Narian-Mar

O que não se pode deixar de ver, fazer e provar?

Iúri Tiuliubaev: “Você definitivamente deve visitar um tipi, dar um passeio em um trenó puxados por renas por pelo menos um quilômetro e experimentar aiburdat - carne de rena fresca com sangue. Pode parecer selvagem, mas vai ajudá-los a sentir como se tivessem retornado brevemente a suas raízes, porque é assim que os nossos ancestrais comiam”.

Carne de veado enlatada

Andrei Suleikov: “Além do Círculo Polar Ártico, as flores desabrocham não em buquês, mas nas montanhas. Aqui está uma montanha toda coberta de branco - essas são amoras silvestres e mirtilos. Aqui está uma montanha toda coberta de rosa - estas são roseiras, freixo da montanha, mesembriântemo, alecrim selvagem, gerânio! Pense só, cada flor aqui tem duas, três vezes mais néctar do que flores comuns, e cada flor está esperando por uma abelha, escreveu o autor soviético Mikhail Prichvin em seu ensaio Mel Polar.”

Estátuas Khebidya Ten (memória sagrada) esculpidas em madeira

O que se deve certamente fazer em Narian-Mar é experimentar o mel local, bem como o pão de gengibre feito com este mel. Ambos são únicos e não podem ser encontrados em nenhum outro lugar, não importa o quanto você procure. Também existe a tradição de comprar pão de gengibre em uma casa especial e oferecê-lo aos transeuntes. A pessoa faz um pedido e dá a um estranho um delicioso pão de gengibre - e o desejo certamente se tornará realidade.

Quais são os melhores suvenires?

Peixe servido à moda local

Iúri Tiuliubaev: “Os melhores suvenires são lembranças calorosas de coisas que você viu, as pessoas fortes que conheceu e os lugares bonitos que explorou. Quanto aos souvenirs materiais, a Região Autônoma de Nenétsia possui uma grande variedade de itens feitos à mão em materiais naturais: tanto tradicionais (como a boneca ukko) como modernos, como, por exemplo, imãs de geladeira feitos de chifres de veado.”

Chifres de veado

Andrei Suleikov: “Pão quadrado. Trazer pão feito à mão de uma viagem é uma boa tradição, porque dessa forma você leva não apenas comida, mas também o calor das mãos das pessoas que o fizeram. Mas não é só isso. Existe uma lenda em Narian-Mar: se você for uma boa pessoa, poderá encontrar joias no pão. Este pão é assado em formas quadradas e cortado não com faca, mas com tendões de rena”.

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