5 cidades na Rússia que se destacam pela diversidade étnica

Viagem
ANNA SORÔKINA
Templos budistas, fortalezas antigas e uma cidade que não vende álcool.

A Rússia é um país multicultural, com quase 200 etnias diferentes. Muitos locais conseguiram preservar suas culturas e línguas tradicionais, e as cidades nessas regiões são repletas de características próprias e notavelmente diferentes do resto da Rússia.

Kizil, capital de Tuvá

Tuvá é uma pequena república no sul da Sibéria conhecida como o berço do canto gutural. Kizil (que em tuvano significa “vermelho”) é a capital e a maior cidade da região. Tem uma população de quase 110 mil pessoas, das quais falam tuvano, reconhecido como idioma oficial na república junto com o russo. Existem veículos de comunicação e produções teatrais locais. Às vezes, até clássicos como Romeu e Julieta são traduzidos e executados em tuvano.

Mas Kizil não se parece com uma cidade russa comum. Possui diversas esculturas excepcionais de heróis folclóricos épicos, templos budistas e uma grande roda de orações que foi presente de monges budistas de um mosteiro indiano.

“As tradições têm um papel importante na vida de um tuvano comum: respeito pelos mais velhos, modéstia asiática, reverência pela natureza”, diz Daian Dansurun, fotógrafo de Kizil. “Como estamos nos aproximando do feriado nacional de Shagaa, você pode ver as pessoas nas ruas usando roupas nacionais com orgulho”, continua. Para comemorar o feriado, a cidade sedia festivais de música folclórica, competições de esportes tradicionais, como tiro com arco tuvano, e seminários de artesanato local. Embora as religiões tradicionais de Tuvá sejam o budismo e o xamanismo, a Igreja Ortodoxa Russa também tem sua parcela de fiéis. “Desde criança, lembro que, todo dia da Páscoa, nossa família sempre cumprimentava calorosamente os vizinhos russos pelo feriado”, conta Daian.

Derbente, Daguestão

“Derbente é uma das cidades mais antigas da Rússia, portanto, não pode deixar de ser diferente de qualquer outra cidade”, diz Margarita Samóilova, que se mudou da Sibéria para a região a trabalho. “Casas e ruas não se parecem com as ruas da minha cidade natal.”

Derbente, no Daguestão (no Cáucaso do Norte), é, de fato, uma das cidades mais incomuns da Rússia. Em primeiro lugar, tem mais de 2.000 anos (este aniversário foi celebrado em 2015). A cidade tem uma antiga fortaleza com a mesquita Juma que data de meados do século 8. Além disso, é considerada a cidade com maior diversidade étnica na Rússia. Com uma população de apenas 125 mil habitantes, Derbente tem mesquitas (xiitas e sunitas), igrejas ortodoxas e sinagogas, e sedia festivais de diversos povos diferentes do Daguestão.

“Existem dezenas de nacionalidades vivendo aqui”, diz Margarita. “Eu só entrei em contato com lezguianos e avares até agora. Entre si, eles falam em suas línguas nativas, mas quando falam comigo, eles mudam para o russo.” Onde mais é possível encontrar algo assim?

Elista, capital da Calmúquia

Esta pequena cidade situada no meio das estepes do sul da Rússia é centro da cultura budista e a capital do xadrez do país. Dois terços das 100 mil pessoas que vivem ali são calmucos étnicos. Como são predominantemente budistas, há templos dentro e nos entornos da cidade.

“Atualmente, estão sendo empreendidos muitos esforços para preservar a cultura e o patrimônio do povo calmuco”, diz o morador local Alan Makht. O maior templo budista da Europa, conhecido como Morada Dourada de Buda Shakyamuni, está localizado em Elista desde em 2005.

Em 1997, a Chess City (Cidade do Xadrez) foi construída a sudeste da cidade para receber os competidores da Olimpíada de Xadrez de 1998. Segundo Alan, este é um de seus lugares favoritos na cidade. Cada casa na Chess City tem um nome relacionado ao xadrez, como Rainha ou Torre Branca. O piso do prédio principal, chamado Palácio do Xadrez, parece um tabuleiro de xadrez – e dá até parar jogar um partida humana.

Grózni, capital da Tchetchênia

Grózni é uma metrópole moderna com arranha-céus, shopping centers, avenidas largas e um quê de Oriente Médio. As mulheres da região cobrem os cabelos e usam saias longas.

Fumar é reprovável, dificilmente se vê uma pessoa com cigarro na mão pelas ruas. O consumo de álcool também é fortemente desencorajado, e bebidas alcoólicas só são vendidas de manhã, das 8h00 às 10h00, em grandes supermercados, ou servidas em apenas um restaurante local à noite.

Não há bares ou casas noturnas na capital tchetchena, mas a cidade tem um enorme estádio de futebol moderno, parques e teatros com apresentações em russo e tchetcheno.

Grózni também abriga a maior mesquita da Europa, chamada de Coração da Tchetchênia, que é capaz de acomodar até 10 mil fiéis e conta com um jardim, fontes e hotel.

“A mesquita do Coração da Tchetchênia é um dos lugares mais bonitos da cidade”, diz a instrutora de equitação Diana. “Há também um parque de flores aqui, um mirante chamado Escadaria para o Paraíso e o parque equestre Siradin. Para mim, a cidade é 100% aconchegante. Ficamos felizes em ver cada turista e saudar as pessoas de peito aberto.”

Iakutsk, capital da Iakútia

Esta é uma das cidades mais incríveis da Rússia, combinando a cultura iacuta, geadas siberianas de -50ºC e arquitetura permafrost (solo permanentemente congelado). Todos os prédios da região são construídos sobre palafitas para que seu aquecimento não derreta o solo, e as fachadas são pintadas em cores brilhantes que ajudam a navegar pela cidade através da névoa. Durante o inverno, muitos locais usam botas de pele tradicionais (unti), ou as botas de feltro russas (valênki) porque calçados comuns não vão muito longe ali.

Em Iakutsk, jovens urbanistas estão criando novos parques e áreas de recreação. “Os arquitetos querem ver uma cidade moderna, e nossa tarefa é criar espaços públicos que levem em consideração as características climáticas do lugar”, diz o arquiteto Serguêi Permiakov. Até mesmo linhas de energia e os canos são decorados com painéis com padrões iacutos.

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