Por que os russos bebem tanto chá (e quase sempre com limão)?

Natalya Nosova
Esqueça a vodca. O maior país do mundo é também um grande consumidor de chá.

“Todos os russos bebem vodca, e se eu for convidado para a casa de alguém, certamente vou experimentar um pouco”, pode pensar um estrangeiro, contando com os estereótipos habituais. Isso é um pouco exagerado, no entanto.

Nem todo mundo na Rússia tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, muito menos vodca - o sabor forte não é para os fracos, e a bebida não é considerada das mais sofisticadas. Por isso, as chances de encher a cara de vodca em uma primeira visita são baixas (a menos que seja um convite direto para bebedeira).

Por outro lado, é bem provável que lhe ofereçam chá. Aliás, os russos costumam pedir chá em restaurantes ou cafés em qualquer hora do dia ou país que estejam. As pesquisas sociais, inclusive, estão aqui para provar que 94% dos russos bebem chá.

“Eu preciso beber muito chá porque não consigo trabalhar sem ele. O chá desperta as oportunidades que sonham no fundo da minha alma”, dizia o escritor Lev Tolstói.

O país da vodca do chá

Ao contrário de Napoleão ou Hitler, o chá foi capaz de “invadir” a Rússia e conquistou o país para sempre. Tal como aconteceu com a maioria dos outros países onde a bebida é popular, o chá foi originalmente importado da China, mas quando exatamente? Historiadores ainda se dividem em relação a essa pergunta.

O estudioso do século 19 Dmítri Prozorovski escreveu que um enviado da Rússia na China em 1654 havia mencionado o consumo de chá como “algo comum”, acrescentando ser  “uma das principais necessidades de uma pessoa moderna”.

“Até meados do século 19, todos os estratos sociais, dos nobres aos camponeses mais pobres, bebiam chá”, escreveu o historiador Aleksêi Volinets, em uma reportagem para a revista “Planeta Russo”. Até mesmo o tsar Nicolau 1º (1825 a 1855), ordenou que servissem chá aos revolucionários presos, porque não fazê-lo seria “desumano”.

Pelo fato de ser um produto barato, todos podiam comprá-lo. Embora o chá consumido pela aristocracia e pelos comerciantes ricos fosse de melhor qualidade, beber chá se tornou uma tradição russa unindo pessoas de todas as origens.

Em 2016, uma pesquisa conduzida pelo instituto independente Euromonitor International revelou que 78% dos russos escolheram o chá ao serem questionados qual preferem: chá ou café. Já nos EUA, por exemplo, o café venceu com 75%.

Chá para todos os tipos

Não importa quem seja o russo – santo ou vilão, gênio ou medíocre –, há grandes chances de essa pessoa gostar de chá. Aqui estão apenas alguns exemplos:

O tsar

Aleksandr 1º, que reinou de 1801 a 1825, tornou o chá acessível em restaurantes e mercados da cidade. Ele próprio era um grande consumidor da bebida. Segundo os cortesãos, ele sempre “começava o dia com chá verde e creme, com torradas”.

O revolucionário

Vladímir Lênin, o arquiteto da Revolução de Outubro em 1917, também apreciava chá. Muitas memórias de revolucionários do período começam com Lênin tomando chá com seus camaradas. “Durante o tempo de exílio no exterior, e depois, ele bebia cerveja ou vinho de vez em quando, mas nunca foi fã”, lê-se no site Sovsekretno.ru.

O ditador

Iossef Stálin, um dos governantes mais controversos da história russa, também compartilhava seu amor por chá.

“Geralmente, durante as reuniões, seu assistente leva um copo de chá com limão... Stálin espreme o limão no chá, acrescenta um pouco de conhaque e vai bebendo o gole com um gole atrás do outro”, relembrou o marechal Aleksandr Vassiliévski. 

E essa história de chá quente com limão?

Stálin não era o único a gostar de acrescentar limão ao chá quente, e esse hábito é tipicamente russo – embora a mistura seja comum em chás gelados pelo mundo afora.

“Ninguém costuma fazer isso com tanta frequência em nenhum outro lugar no planeta”, explica Svetlana Ustiugova, especialista em sobremesas russas. “A tradição surgiu nos postos de correio (nos séculos 18 e 19), quando os viajantes estavam trocando de cavalos. As estradas eram precárias, então, era comum ficarem enjoados. Beber algo azedo ajudava a melhorar o desconforto, e, por isso, era comum oferecer a eles chá quente – para aquecer – com limão – para se sentirem melhor”, continua.

Além disso, em um país frio como a Rússia, era uma forma agradável de consumir vitamina C. Nem todos os russos, porém, preferem chá com limão. Alguns gostam do jeito inglês, com leite; e muitos o bebem puro. “Não existe chá ruim para um russo.”

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