Apesar de potencial, aproximação entre países sofre influência de terceiros. Ilustração: Iorch
Quando parecia que as relações entre Tóquio e Moscou estariam seguindo um rumo positivo, a Rússia anunciou, na sexta-feira passada (25), que planeja implantar até o final do ano sistemas de defesa antimíssil e drones militares nas Ilhas Curilas, região que tem sido o epicentro das tensões entre os dois países desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Resta aguardar agora os impactos da recente decisão.
Para a Rússia, porém, qualquer tentativa de desenvolver melhores relações com o Japão deveria ser vista como parte de sua “guinada para o Oriente”. Afinal, a estratégia russa não só busca aumentar a presença do país na região Ásia-Pacífico, mas também evitar que sua lista de parceiros na Ásia Oriental se limite à China.
Além de Japão e Rússia se depararem com a oportunidade de conduzir uma resposta coordenada à mais recente crise de segurança na Coreia do Norte, os dois países também têm procurado ampliar os seus laços econômicos e financeiros, que são particularmente importantes para o desenvolvimento do Extremo Oriente russo.
As tentativas de reaproximação entre a Rússia e o Japão são, no entanto, mais antigas do que os últimos acontecimentos na península coreana. Um ano antes da crise na Ucrânia, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe visitou Moscou para discutir a cooperação Japão-Rússia em várias frentes.
Uma das principais razões que explica o desejo de Tóquio de amparar as relações Japão-Rússia é a prevenção de um possível desenvolvimento no eixo China-Rússia. Uma vez que a aliança EUA-Japão representa um dos principais pilares para segurança no nordeste asiático, a única alternativa mais plausível seria uma parceria reforçada entre China e Rússia.
Enquanto a contenção da China continua a ser o objetivo primário do aparato de defesa da aliança de japoneses e norte-americanos, a contenção estratégica da Rússia pelos Estados Unidos também é um fator importante nessa aliança, que compreende um flanco-chave da posição estratégica dos EUA na Ásia.
Portanto, uma vez que tanto o Japão como a Rússia buscam atingir um novo nível de aproximação e cooperação no cenário internacional, um fator importante na relação de defesa de Tóquio com Moscou é justamente a aliança de Tóquio com Washington. Em uma tentativa de manter a sua própria posição forte na região Ásia-Pacífico, os EUA pretendem limitar o potencial da influência militar russa na Ásia Oriental.
Nesse sentido, o atual estado das relações EUA-Japão pode ser descrito como um microcosmo da ordem internacional cêntrica ocidental, que vai contra as concepções russas de estabelecer um sistema global policêntrico das relações interestatais.
Se o governo de Tóquio acreditar que para os interesses japoneses seria melhor construir uma relação mais estreita com a defesa de Moscou, seus esforços podem ser neutralizados pelo compromisso já assumido com os Estados Unidos, exigindo, assim, uma manobra delicada e ágil por parte do Japão.
Anthony V. Rinna é um observador especializado em Rússia e Eurásia e atua no grupo de pesquisa acadêmica SinoNK.
Versão reduzida de texto originalmente publicado pelo Russia Direct
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