Como os soviéticos se vestiam no inverno? Veja fotos

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Não havia muitas opções em termos de moda na União Soviética, por isso todo mundo usava praticamente as mesmas coisas: “vatniks”, casacos de pele de caracul, lenços de lã e outros clássicos.

A maioria dos russos nas décadas de 1920 e 1930 se vestia de maneira simples - sobretudos finos, “valenki” (botas de feltro), “burki” (casacos de feltro) etc. Tudo isso era fácil de fabricar e barato, possibilitando que todos se aquecessem nos rigorosos invernos do país.

A Segunda Guerra Mundial fez do “vatnik” (casaco acolchoado) a peça de vestuário de inverno ideal para as massas. A jaqueta era adequada para a linha de frente, mas também para expedições de inverno, o trabalho nas fábricas, no campo e em todos os tipos de locais. O país inteiro tinha um “vatnik”: soldados, estudantes, trabalhadores, prisioneiros, membros de todas as camadas sociais e profissões. Para se proteger dos ventos frios, as pessoas amarravam a parte externa com cintos ou cordas comuns.

Depois da guerra, as coisas começaram a melhorar para os russos e eles passaram a usar sobretudos mais pesados.

Os cidadãos urbanos mais abastados encomendavam casacos feitos sob medida, adicionando golas de pele para enfeitar e aquecer, assim como chapéus de pele quentes. As pessoas simples compravam o que quer que houvesse nas lojas – em geral, casacos padronizados, com golas de pele falsa.

A moda dos casacos feitos totalmente de pele original começou na década de 1950. No entanto, poucos podiam comprar casados de pele genuína, à exceção da pele de caracul (um cordeiro de pelo encaracolado), que era mais acessível em seu auge, na década de 1950.

Às vezes, a moda sobrepujava o bom senso. Mesmo no inverno, além da pele de cordeiro ou sobretudo, as mulheres da moda dos anos 1950 usavam elegantes chapéus de verão (que mal cobriam a cabeça). A sociedade de Moscou os apelidou de "chapéus de meningite" - já que eles não cobriam sequer a nuca, facilitando que as pessoas que usavam esse tipo de adereço contraíssem pneumonia.

Quanto ao resto, descobriu-se que o melhor acessório de inverno eram os cachecóis ou lenços de lã natural. Eles pinicavam um pouco, mas literalmente salvavam vidas em muitas situações: as mulheres os amarravam na cabeça no lugar de chapéus ou na cintura, se tivessem que ficar em alguma fila por muito tempo. Sempre que se pegava um resfriado, os cachecóis ficavam amarrados no pescoço ou no peito (após a aplicação de algum tipo de pomada para combater o resfriado).

O chapéu “uchánka”, com “orelhas”, é o item mais icônico da chapelaria russa e passou por algumas transformações ao longo dos séculos. Seu protótipo - o camponês “treukh” ("chapéu de três orelhas") era excelente para os cidadãos da Rus (Estado que precedeu a Rússia) em fortes nevascas, protegendo o pescoço e a cabeça. Depois, na era soviética, a uchánka passou a ser o padrão no exército russo. Já na década de 1960, o chefe do Estado soviético, Leonid Brejnev, caiu de amores pela uchánka e, a partir de então, uchánkas de pele de veado e cordeiro passaram a ser tendência na elite do Partido Comunista da União Soviética.

As pessoas comuns, por outro lado, tinham que optar por uma variante mais modesta, de pele de coelho.

Enquanto isso, a escolha da “nomenklatura”, a elite do governo, era um sobretudo ou casaco com gola de pele. Golas de pele de caracul, castor ou rato-almiscarado entraram na moda.

As mulheres usavam várias camadas para se aquecer. As calças femininas só entraram na moda na década de 1970 – antes disso, eram consideradas um item mais adequado para o trabalho braçal pesado.

Calças de algodão ou lã, portanto, funcionavam para proteger do frio sob saias e vestidos - às vezes, o frio era tanto que era preciso usar duas ou três dessas calças de uma só vez.

Sapatos eram uma questão diferente. Os clássicos “valenki” não eram adequados para os dias de trabalho na cidade, enquanto boas botas eram caras e consideradas um item de status. As pessoas faziam longas filas para conseguir um par de botas no mercado ilegal. As botas de fabricação iugoslava, romena e húngara tinham enorme demanda. Elas não eram próprias para tempestades de neve, mas as soviéticas se sacrificavam pela beleza.

As crianças soviéticas, por outro lado, eram vestidas para enfrentar qualquer Apocalipse de neve. Roupas de baixo leves, moletom leve, um suéter quente por cima, uma camada de calça, meias de tricô, um sobretudo ou casaco de pele, preso com um cinto, chapéu leve ou lenço de lã amarrado na cabeça, depois outro chapéu, feito de pele de verdade ou artificial, e “valenki” nos pés, às vezes, ou botas. Só isso.

Às vezes, um lenço ou cachecol de lã ainda era amarrado por cima do casaco no pescoço da criança.

Muitas vezes era difícil para essas crianças andarem por aí, mas para longas caminhadas e passeios de trenó, o look era perfeito.

E, claro, tinha também as luvas! Elas eram costuradas a um elástico que subia pelas mangas do casaco de pele e tornava quase impossível perdê-las - embora algumas crianças conseguissem, contra todas as probabilidades.

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