Quando uma unidade especial composta por cegos protegeu Leningrado durante o cerco nazista

História
BORIS EGOROV
Os combatentes com deficiência visual não podiam usar rifle para defender a cidade, porém receberam uma missão não menos importante: tornaram-se os “ouvidos” de Leningrado. Eles detectavam a aproximação de bombardeiros inimigos bem antes de eles aparecerem na zona de visibilidade e eram capazes de determinar seu número aproximado pelo ruído dos motores.

Em Leningrado, alvo de ataques aéreos nazistas, os sensores sonoros eram um dos principais meios de defesa antiaérea, além dos radares. Essas construções enormes compostas por sistemas de tubos de diferentes tamanhos permitiam distinguir a uma longa distância o zumbido dos aviões que se aproximavam. Para tanto, foram recrutados soldados especiais, mais conhecidos como “slukhatches” (“ouvintes”). Assim que era detectada a aproximação do inimigo, o soldado emitia um alerta.

Os primeiros “slukhatches” foram recrutados entre pessoas comuns, mas a eficácia deixou a desejar. No final de 1941, o comando tomou a ousada decisão de designar para esta missão apenas cegos, cuja audição era excepcional.

Das 300 pessoas com deficiência visual que haviam em Leningrado, 12 foram selecionadas: homens fisicamente aptos e resistentes, capazes de suportar um turno de várias horas seguidas.

“A tensão fazia as têmporas doerem e as vértebras cervicais pareciam prestes a quebrar. Escutar o céu, onde um ruído suspeito podia surgir a qualquer momento, exigia esforço, resistência e compostura extraordinárias”, assim descreveu o escritor Semion Bitovoi a vida cotidiana dos “slukhatches”.

Os cegos cumpriram sua tarefa de modo brilhante: quando davam o alarme, não se ouvia um único motor na cidade. Eles eram capazes de determinar até o tipo e modelo do avião inimigo, e até mesmo seu número aproximado.

Infelizmente, também sofreram baixas. Averki Níkonov foi morto em fevereiro de 1942 enquanto ocupava seu posto. Vassíli Tsiplenkov, desmobilizado no verão do mesmo ano devido a problemas de saúde, morreu de distrofia. Outros “ouvintes”, porém, puderam testemunhar o tão esperado levantamento do cerco a Leningrado em 1944.

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