5 mitos populares sobre Aleksandr Púchkin

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
É verdade que o poeta mais célebre da Rússia tinha uma "lista de Don Juan" com os nomes de suas amantes e que suas dívidas (que chegavam a milhões se fossem corrigidas pela moeda de hoje em dia) foram pagas pelo próprio imperador? Aqui estão os cinco mitos mais curiosos sobre Aleksandr Púchkin.

1. O pai de Púchkin ameaçou deserdá-lo

Havia muitas lendas sobre o vício em jogos de azar de Púchkin e a maioria delas era verdadeira. Apesar do fato de que, para os padrões da época, Púchkin era muito rico, sua paixão por jogos de azar causou um rombo significativo no orçamento do poeta. Ele jogava bridge, faro, ombre e outros jogos de cartas, arriscando sua fortuna o tempo todo. Certa vez, ele quase perdeu uma parte ainda não publicada de "Eugênio Onêguin", mas conseguiu recuperá-la no último momento. Anna Kern, uma de suas muitas amantes e musas, descreveu assim seu vício: "Púchkin gostava muito de cartas e costumava dizer que elas eram seu único e verdadeiro apego".

Seu pai não aprovava o vício de Púchkin e havia rumores de que o poeta seria deserdado por causa disso. As relações de Púchkin com o pai eram de fato difíceis, mas a deserdação teria lançado uma sombra sobre toda a família e, na verdade, nem mesmo dívidas enormes teriam sido motivo o bastante para uma medida tão radical. Além disso, não há nenhuma evidência documental que comprove a história.

De qualquer forma, é fato que o escritor tinha muitas dívidas: após sua morte em um duelo, descobriu-se que Púchkin tinha dívidas de jogos de quase 150.000 rublos (equivalente a cerca de 240 milhões de rublos hoje, ou cerca de R$ 13 milhões!). No entanto, não foi seu pai quem as pagou, mas o próprio imperador Nicolau 1º. Ele quitou todo o valor e, além disso, sustentou a família de Púchkin com recursos do Estado.

2. Púchkin tinha uma enorme “lista de Don Juan”

Essa lista não é ficção, tendo sido até mesmo publicada em 1887 no "Álbum da Exposição Púchkin, 1880". A partir de 1829, o poeta escreveu os nomes das mulheres pelas quais se sentia atraído ou com as quais tinha intimidade em duas listas paralelas. As listas incluíam 37 nomes, no total. De acordo com alguns historiadores, Púchkin escreveu os nomes das mulheres que mais amava na primeira lista, enquanto a segunda era uma lista de mulheres pelas quais ele simplesmente se sentia atraído.

Os historiadores conseguiram identificar, embora de forma não totalmente precisa, algumas das mulheres com quem Púchkin tinha algum vínculo. Entre elas, acredita-se que estavam Ekaterina Karamzina, esposa do proeminente historiador Nikolai Karamzin; Anna Petrovna Kern, a quem Púchkin posteriormente dedicou um de seus poemas mais conhecidos, "I remember that wonderful moment..." ("Lembro-me daquele momento maravilhoso..."); uma atriz do Teatro de Tsárskoie Selô; uma dama de companhia da imperatriz; a filha de um duque francês; a filha de um banqueiro austríaco; a esposa do governador de Odessa e outras proeminentes mulheres, tanto solteiras, quanto casadas.

3. Púchkin era Dumas

Os defensores dessa teoria afirmam que Púchkin fingiu sua própria morte e viajou para a França, onde começou a escrever romances sob o nome de Alexandre Dumas. Alega-se que duas coisas poderiam tê-lo levado a fazer isso: dívidas de jogo - que ele não conseguiu pagar até o fim da vida - ou um decreto do imperador Nicolau 1º enviando Púchkin secretamente para a França como "espião" e, em troca, pagando todas as dívidas do poeta e sustentando sua família.

Sim, por um lado, Púchkin teria sido perfeitamente capaz de desempenhar esse "papel": ele dominava o idioma francês e conhecia as maneiras dos escalões mais altos da sociedade aos quais deveria ter acesso - ele só precisaria criar uma persona convincente para si mesmo. Foi assim que, conforme a teoria, Alexandre Dumas entrou em cena.

No entanto, apesar dos argumentos dos adeptos dessa lenda (semelhanças de aparência, referências à vida de Púchkin nas obras de Dumas, entre outros), há um número equivalente de contra-argumentos. Por exemplo, Alexandre Dumas já era bastante conhecido como escritor na década de 1830 e muitas de suas peças já haviam chegado aos teatros russos naquela época. Além disso, o escritor participou da Revolução de Julho de 1830, enquanto, naquela época, o próprio Púchkin estava se preparando para o casamento com Natália Gontcharova.

Após o fatídico duelo, muitos amigos e parentes de Púchkin o visitaram em casa e até oito médicos atenderam Púchkin em seus últimos dias, de modo que as chances de que todos que viram o escritor naquele momento possam ter sido convencidos a manter as coisas em segredo seriam extremamente pequenas.

4. Púchkin era africano

Em parte isso era verdade, porque o bisavô de Púchkin, Abram Petrovitch Gannibal, nasceu em algum lugar na região dos atuais Camarões (outros relatos apontam a Etiópia como país de origem de Gannibal). No início do século 18, ele foi capturado e o comerciante Sava Raguzinski o levou para Moscou. Após um ano, ele foi batizado, tendo como padrinho o próprio imperador Pedro 1º. Estabelecido na Rússia, se tornou engenheiro militar chefe do exército russo. Seu filho do segundo casamento foi Ossip Gannibal, o avô do poeta.

Essa é a única circunstância que justifica a afirmação de que Aleksandr Púchkin era um poeta africano. E, embora ele realmente remetesse às suas raízes históricas em suas obras com bastante frequência, na realidade, ele era apenas um oitavo africano e, na verdade, mais um oitavo alemão, sendo que os 75% restantes de sua árvore genealógica eram puramente russos. Muitas pessoas ainda não estão convencidas de que a história seja verdadeira, mas há evidências documentais da existência de Abram Gannibal, portanto não há razão para duvidar da parcial ascendência africana de Púchkin.

5. Uma lebre salvou Púchkin da prisão ou da morte

Há um mito que diz que se uma lebre não tivesse cruzado o caminho de uma carruagem em que Púchkin viajava de Mikhailovskoe (onde vivia exilado) para São Petersburgo, o poeta provavelmente teria sido enviado para a Sibéria ou executado por envolvimento na Revolta Dezembrista. E, embora ele não fosse considerado um dezembrista e não participasse de protestos políticos, sua poesia, que pregava a liberdade, poderia ter sido um tiro pela culatra. Portanto, ir a São Petersburgo, especialmente em um momento em que ele deveria estar no exílio, era perigoso. Uma lebre que cruzou seu caminho foi vista como um péssimo presságio e o poeta, supersticioso, fez a carruagem dar meia volta.

No entanto, por melhor que essa lenda possa parecer, na realidade, as coisas acabam sendo um pouco mais complicadas. O amigo do poeta, Serguêi Sobolévski, escreveu que a lebre cruzou o caminho de Púchkin não no caminho para a capital, mas quando ele foi se despedir de seus vizinhos. E que não foi uma lebre que o parou, mas outra coisa considerada um mau presságio no século 19: um padre nos portões da propriedade. Foi por esse motivo que ele decidiu ficar.

Apesar de tudo isso, a lebre ganhou um lugar imortal na história. Em 2000, não muito longe de Mikhailovskoe, foi erguido um monumento à lebre como a "salvadora" do poeta de uma morte prematura. Mas, como se sabe, ela não o ajudou por muito tempo: Púchkin morreria muito jovem, aos 37 anos.

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