Como Pedro, o Grande, forçou os russos a estudar no exterior

Iúri Kruchêvski. “Pedro 1º faz pessoalmente um exame de jovens nobres ‘aposentados’ que retornaram dos estudos no exterior”, 2018.

Iúri Kruchêvski. “Pedro 1º faz pessoalmente um exame de jovens nobres ‘aposentados’ que retornaram dos estudos no exterior”, 2018.

Iúri Kruchêvski
O primeiro imperador russo adorava estudar e foi o primeiro governador russo que começou a enviar seus súditos para institutos de ensino estrangeiros. Nem todos, porém, queriam estudar e, às vezes, até tentaram enganar o monarca. Os que partiram para a Europa, porém, fizeram grandes carreiras.

As famílias nobres não podiam escapar às ideias de Pedro, o Grande, e sua implementação era obrigatória. O primeiro imperador russo fez muito para o desenvolvimento da educação na Rússia, criou escolas matemáticas, onde ensinava-se geometria, aritmética e alfabetização. Os jovens que se recusaram a ir a uma dessas escolas não tinham o direito de se casar.

Em 1696, Pedro se tornou o primeiro governador russo a lançar um programa de estudos no exterior. Segundo o decreto do tsar, os nobres russos deviam viajar para Inglaterra, Itália e Holanda em busca de novos conhecimentos.

Os mais altos funcionários públicos da época também foram obrigados a estudar no exterior. Entre eles, por exemplo, estava um dos amigos mais próximos do tsar, Aleksandr Ménchikov, que estudou com ele no estaleiro de Amsterdã, e o conde Piotr Tolstói, que, mesmo já tendo 52 anos, passou dois anos na Itália estudando ciências marítimas.

No entanto, nem todos os funcionários públicos tinham vontade de estudar, o que às vezes levava a incidentes curiosos. Por exemplo, o proprietário de terras Maksim Spafariev evitou estudar de todas as maneiras possíveis e até obrigou o seu servo da Calmúquia a assistir às aulas em seu lugar. O servo estudou diligentemente os livros didáticos e foi para o mar para estudar navegação. Quando o servo voltou para casa para fazer exames, descobriu-se que o monarca realizaria todos as provas pessoalmente. Pedro rapidamente descobriu a farsa, ficou furioso e enviou o preguiçoso Spafariev para servir como marinheiro, enquanto o servo da Calmúquia recebeu o nome Denis Kalmikov e foi enviado para continuar os estudos, dessa vez para Inglaterra.

Retrato de Denis Kalmikov, por Kim Oldaev.

Após voltar à pátria, Kalmikov traduziu todos os regulamentos marítimos ingleses, treinou membros da Guarda-marinha, inventou um sistema para troca de informações usando bandeiras em navios, virou comandante-chefe do porto de Kronstadt e depois ascendeu ao posto de almirante.

O caso de Kalmikov não foi excepção — muitos estudantes diligentes fizeram grandes carreiras. Por exemplo, o nobre Ivan Nepliúiev estudou em Revel, Veneza e Cádiz, depois se tornou comandante de navios construídos em São Petersburgo, fundou as fortalezas a partir das quais cresceram as cidades de Orenburg e Magnitogorsk e enfim ascendeu ao cargo de governador-geral de São Petersburgo.

Ivan Nepliúiev, por Piotr Borel, 1873.

Diversos russos foram enviados à Europa para estudar não apenas ciências exatas, mas também em busca de uma nova linguagem artística. Um dos pintores mais famosos da época foi Andrei Matvéiev, que estudou na Holanda com Arnold Boonen, depois na Academia Real de Belas-Artes de Antuérpia. Retornando à Rússia em 1727, trabalhou na equipe de pintura de edifícios da Chancelaria de São Petersburgo. Ele foi o primeiro artista russo a começar a pintar retratos e autorretratos seculares e a decorar as igrejas não com afrescos, mas com pinturas.

Autorretrato com a esposa. Andrei Matvéiev, 1729.

Os estudantes enviados ao exterior por ordem de Pedro também estudaram economia e medicina. Piotr Postnikov, formado pela Academia Eslavo-Greco-Latina, estudou medicina em Pádua e se tornou o primeiro médico russo certificado com diploma.

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