Ferrovia Baikal-Amur, o projeto mais caro da URSS, completa 50 anos; veja fotos

História
ANNA POPOVA
Uma das linhas ferroviárias mais longas do mundo, que foi construída durante décadas a custa de vidas de dezenas de milhares de pessoas, está celebrando o seu 50º aniversário. O Russia Beyond compilou os fatos mais curiosos sobre esse megaprojeto infraestrutural.

A ideia de construir uma ferrovia através da Sibéria Oriental até o Extremo Oriente russo surgiu pela primeira vez no século 19. Após várias expedições para estudar o vasto território desde a cidade de Ust-Kut até o rio Muia, os especialistas chegaram à conclusão de que a implementação do projeto era absolutamente impossível tanto técnica quanto financeiramente. “Esses territórios são inadequados para a agricultura e não podem ser considerados como terra para assentamento”, lê-se na conclusão dos especialistas. Assim, o governo do Império Russo descartou a iniciativa da construção da ferrovia.

Os russos voltaram à ideia do megaprojeto durante o governo de Stálin, em 1932, com uma resolução do governo que se chamava “Sobre a construção da Ferrovia Baikal-Amur”, a ser concluído em três anos e meio — prazo que evidencia quão pouco a liderança sabia sobre o Extremo Oriente da Rússia.

O maior trecho da rota atravessa os territórios gigantescos de Iakútia, Tchukótka e Kolimá, partes do mundo que são mais difíceis de alcançar do que a Lua — devido aos terrenos sem estradas e 11 rios turbulentos.

No final da década de 1930, utilizou-se fotografia aérea para estudar o território; a taiga impenetrável não permitia o reconhecimento desde o solo.

No entanto, a BAM (da sigla em russo, Linha Principal Baikal-Amur) tinha que ser construída. Primeiramente, porque fazia parte dos esforços para povoar a Sibéria e o Extremo Oriente, onde havia muitos recursos. Além disso, era necessário aumentar a segurança nas fronteiras e criar uma base para a Frota do Pacífico. Por último, naquela época, os territórios do Extremo Oriente estavam conectados ao resto da Rússia apenas por uma breve conexão da Transiberiana.

Era preciso enfrentar um problema difícil: como e quem poderia construir uma ferrovia tão longe e tão complicada? O governo de Stálin optou por um esquema testado e aprovado: prisioneiros dos campos de trabalho forçado foram transferidos para novos campos na floresta de Taiga. Em 1º de maio de 1933, já havia 32.411 pessoas trabalhando no projeto.

No inverno, as temperaturas caíam para 50 graus Celsius negativos e, no verão, nuvens de mosquitos-pólvora literalmente devoravam as pessoas. Nos primeiros 18 meses, os condenados viveram ao relento próximos a fogueiras, sem barracas e com ração diária de 400 gramas de pão. Segundo estimativas diversas, cerca de 10 mil pessoas morreram durante as obras.

Os mortos eram substituídos por recém-chegados e, em meados de 1937, os primeiros 190 quilômetros tinham sido construídos. A segunda etapa, com 5.000 quilômetros de extensão, deveria ser concluída em 1945, mas foi interrompida pela Segunda Guerra Mundial. Com a morte de Stálin, em 1953, o projeto foi esquecido por um período.

O tráfego regular de trens no primeiro trecho da linha começou apenas em 1958.

O megaprojeto ganhou nova vida no governo de Leoníd Brêjnev. Em abril de 1974, a BAM foi declarada como um “Projeto de Construção da Pan-União Komsomol”. Foi então que, para muita gente, a ferrovia nasceu oficialmente.

Hoje, a BAM é considerada uma das maiores ferrovias do mundo. Sua extensão é de cerca de 4.300 quilômetros, e uma parte significativa dela passa pela zona de permafrost (solo permanentemente congelado).

É também o megaprojeto soviético mais caro — seu custo no início da década de 1990 era estimado em cerca de 18 bilhões de rublos. 

Hoje, a rota atravessa 11 rios e 7 cadeias de montanhas, passa por seis regiões da Rússia, mais de 4 mil pontes e tem cerca de 30 estações.

Em uma parte da rota, no desfiladeiro Mururinski, os trens sobem a uma altura de 1.323 metros acima do nível do mar.

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