O que aconteceu com as igrejas ortodoxas mais famosas após a revolução?

Catedral de São Basílio, 1976

Catedral de São Basílio, 1976

Andrei Solomonov/Sputnik
Após tomar o poder no país, os bolcheviques começaram a lutar ativamente contra a religião. Essa luta incluiu a destruição física das instituições religiosas. Durante os primeiros anos do poder soviético, foram destruídas milhares de igrejas, enquanto as sobreviventes foram usadas para diversos fins seculares, desde celeiros até sanatórios.

1. Catedral de Cristo Salvador, Moscou

Catedral de Cristo Salvador em Moscou, 1903

A segunda catedral mais famosa da Rússia, cuja construção no centro histórico da capital russa levou mais de 66 anos no século 19, foi implodida pelos soviéticos em 1931. O governo bolchevique havia decidido erguer em seu lugar o Palácio dos Sovietes, um enorme monumento ao comunismo. Apesar da forte determinação do governo na época, foi preciso mais de um ano para limpar o local dos detritos deixados pela implosão.

Implosão da Catedral de Cristo Salvador, 1931

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a construção do Palácio dos Sovietes acabou sendo interrompida, e o projeto jamais foi concluído. No espaço onde havia a catedral e seria erguido o Palácio dos Sovietes surgiu, mais tarde, a maior piscina aberta do mundo.

Em 1989, os cidadãos do país criaram uma petição para restaurar a catedral histórica. Em 1999, uma nova catedral baseada no mesmo projeto foi aberta em seu local original. Leia mais sobre a história dessa catedral aqui.

2. Catedral de São Basílio, Moscou

Catedral de São Basílio

Segundo fontes diversas, o principal símbolo da Rússia — a Catedral de São Basílio na Praça Vermelha de Moscou — também teria corrido risco de implosão. Em 1935, quando a campanha soviética contra religião estava em pleno vapor, Stálin encontrou-se com seu círculo interno para decidir o futuro arquitetônico da capital.

Uma das figuras mais influentes da sala, Lazar Kaganovitch, apagou a figura da catedral do mapa para abrir os “portões” para os tanques que passavam pela Praça Vermelha. “Coloque-a de volta”, teria reagido Stálin, reza a lenda.

O templo foi transformado em um museu histórico e arquitetônico e ainda faz parte formalmente do Museu Histórico do Estado.

Leia sobre a lenda de como Ivan, o Terrível, cegou os arquitetos da Catedral de São Basílio aqui.

3. Catedral de Nossa Senhora de Cazã, São Petersburgo

Catedral de Nossa Senhora de Cazã

Após a revolução, a Catedral de Nossa Senhora de Cazã (também conhecida como Catedral de Kazan de São Petersburgo em português) foi entregue aos “renovacionistas”, como eram chamados os sacerdotes leais ao regime soviético. Isso permitiu que a catedral continuasse realizando cerimônias.

Mas não durou muito tempo. Em 1932, o governo soviético decidiu fechar a catedral, usando seu espaço para o Museu de História da Religião e do Ateísmo. No início da Segunda Guerra Mundial, eram realizadas ali exposições patrióticas dedicadas aos grandes comandantes do passado.

Exposição patriótica na Catedral de Kazan

A catedral sofreu bombardeios, ficou danificada e o templo-museu foi completamente fechado. Após décadas de restauração, reabriu como museu na década de 1990, porém com permissão de realizar serviços religiosos. Em 2000, a catedral foi transferida para a Igreja Ortodoxa Russa.

4. Catedral de Santo Isaac, São Petersburgo

Catedral de Santo Isaac

A Catedral de Santo Isaac é o maior templo de São Petersburgo e uma das maiores igrejas ortodoxas do país. Sua construção levou 40 anos — e o resultado foi um belo edifício em estilo neoclássico. A catedral tem cerca de 4.000 m² e 101 metros de altura. Pode acomodar de 12.000 a 14.000 pessoas. Mas, no século 19, podia receber apenas 7.000 fiéis, apesar de ter o mesmo tamanho. O motivo? Os volumosos vestidos usados pelas senhoras da época.

Repolho em vez de rosas, 1942 (Boris Kudoiarov)

Após tomar o poder, os bolcheviques retiraram todos os objetos de valor da catedral e entregaram o edifício aos paroquianos, que tinham que pagar pelo funcionamento do templo. Durante muito tempo, o governo não soube o que fazer com a obra-prima do arquiteto Auguste Montferrand, e, em 1931, enfim decidiu manter o edifício, porém abrir dentro o Museu Estatal Antirreligioso.

Durante a Segunda Guerra Mundial, acreditava-se que os nazistas não bombardearam o templo porque o usaram como ponto de referência para ataques aéreos. Com isso, os moradores locais começaram a usar o templo como depósito e esconderam artefatos de outros museus de São Petersburgo.

5. Catedral do Sangue Derramado, São Petersburgo

Catedral do Sangue Derramado

Após a revolução, a Catedral do Salvador do Sangue Derramado, continuou a funcionar por algum tempo. O templo foi construído no local onde o tsar Alexandre 2º havia sido assassinado, vítima de um atentado em março de 1881.

Em 1930, porém, o governo mandou fechar a catedral. Por décadas, os comunistas não conseguiram decidir o que fazer com a igreja. Essa obra-prima do estilo neo-russo foi paradoxalmente salva da demolição pela guerra, e a prefeitura de Leningrado (atual São Petersburgo) simplesmente não tinha tempo para explodir a igreja. Durante o cerco a Leningrado, foi aberto um necrotério dentro da igreja, para onde foram levados os corpos dos locais que morriam de fome. Depois do conflito, o edifício foi entregue ao Teatro Mikhailovski para armazenar cenários e decorações.

Catedral do Sangue Derramado durante a Segunda Guerra Mundial

Na década de 1970 a igreja foi entregue aos trabalhadores do museu, que começaram a restaurá-la. Em 1997, a catedral foi enfim reaberta ao público.

Leia sobre 7 curiosidades da Catedral do Sangue Derramado aqui.

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