A cruz é um dos principais símbolos cristãos. A longa barra vertical cruzada horizontalmente por uma mais curta seria uma lembrança da cruz na qual Jesus Cristo foi crucificado. Os católicos têm diferentes versões de cruzes: por exemplo, a Cruz de Lorena, com duas barras horizontais mais curtas, geralmente um símbolo de cardeais e arcebispos católicos, bem como a cruz patriarcal, com três barras horizontais, que é um símbolo do Papa.
No entanto, nas cruzes das antigas igrejas russas também há crescentes, que muitos consideram um símbolo muçulmano.
Cruzes com crescente podem ser encontradas, por exemplo, no Templo de Simeão de 1676, em M0scou, na Catedral de Santa Sofia de 1568, na cidade de Vôlogda, ou na Catedral da Trindade de 1703, em Verkhotúrie.
Cúpulas da Catedral de Santa Sofia.
Dmítri Kulakov (CC BY-SA 3.0)Tradicionalmente, a cruz ortodoxa russa tem seis pontas, consistindo de uma barra vertical e uma ou duas barras horizontais no topo (você pode ler mais sobre a cruz russa aqui). Na parte inferior, encontra-se outra barra menor — diagonal —, que representa o apoio dos pés de Cristo, e que simboliza a balança que pesa os pecados e virtudes humanas; a extremidade superior esquerda aponta para cima, ao Céu, enquanto a inferior aponta para baixo.
Outra cruz tradicional na Igreja Ortodoxa Russa é a com oito pontas. De acordo com o Evangelho, a barra horizontal curta adicional no topo seria uma placa afixada na cruz — e indicava do que a pessoa crucificada era culpada. Na placa da cruz de Jesus Cristo, lia-se: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”.
Essas cruzes de várias pontas eram muitos comuns no século 6 em Bizâncio, de onde a Rússia adotou o Cristianismo junto com seus símbolos. Tais cruzes começaram a ser usadas em todas as igrejas russas durante o reinado do primeiro tsar de toda a Rússia, Ivan, o Terrível, com a intenção de enfatizar a continuidade de seu poder e sua ligação com Bizâncio.
Até o século 16, era possível encontrar várias cruzes diferentes nas igrejas russas. Por exemplo, cruzes inscritas em um círculo podem ser vistas na cidade de Velíki Nôvgorod — e são parecidas com uma cruz celta. O círculo significava a auréola ou a coroa de espinhos do santo.
Havia também cruzes com uma crescente horizontal em vez da barra diagonal inferior.
Cúpula da Catedral de Cristo Salvador, em Moscou.
Vladímir Sergueev/SputnikAtualmente, a lua crescente está inextricavelmente associada ao Islã, mas, apesar das crenças populares, o crescente cristão não tem nada a ver com muçulmanos. O crescente foi usado no século 6 na Bizâncio cristã e era um dos símbolos de Constantinopla. Segundo historiadores, foram os turcos do Império Otomano que adotaram esse símbolo de Bizâncio após sua conquista.
Igreja de São Simeão Estilita na Rua Povarskaya.
Domínio públicoSegundo a interpretação da Carta aos Hebreus do Novo Testamento pela Igreja Ortodoxa, a cruz com crescente simboliza uma âncora — “a esperança, que para a alma é como uma âncora, segura e forte” (Hebreus 6:19); enquanto o templo é um navio que ajuda os crentes a chegar ao Reino dos Céus.
Mas a cruz simboliza não apenas um crucifixo. Antes do Cristianismo, a cruz era um símbolo comum para o sol. “A combinação de uma cruz e um crescente se encaixa inteiramente no simbolismo cosmológico de origem pagã: a cruz e o crescente simbolizam o sol e a lua”, escreve o filólogo, linguista e semiólogo Boris Uspénski, no livro “Simbolismo solar-lunar na aparência de um templo russo”. “Mas, ao mesmo tempo, ambos os símbolos também têm outro significado cristão: a cruz obviamente atua como um símbolo de Cristo, enquanto a lua na tradição cristã simboliza a Mãe de Deus”.
Cruzes nas cúpulas da Catedral Principal das Forças Armadas Russas, no Parque Patriot.
Aleksandr Mélnikov/SputnikIsso é, inclusive, confirmado no Evangelho segundo João: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça”. A Lua é frequentemente encontrada em ícones de Maria, a Mãe de Deus.
A lua crescente também é um símbolo importante do nascimento de Cristo, já que parece simular a forma da manjedoura de Jesus. É por isso que os cálices de comunhão e as pias batismais, por exemplo, têm forma hemisférica.
Além disso, as auréolas dos santos nos ícones também são semicirculares. Nas molduras preciosas dos ícones ortodoxos também existe um elemento chamado “tsata”. Esta é uma decoração especial em forma do crescente ou do crescente duplo, colocada sob o peito de Cristo, da Mãe de Deus, da Santíssima Trindade e de alguns outros santos especialmente venerados, como João Batista ou São Nicolau.
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