"Protodiácono cantando em um dia do nome de comerciante".
Nikolai NevrevNa maior parte da Rússia antes da Revolução de 1917, a data comemorativa associada ao nascimento de uma pessoa não era considerada o dia do nascimento em si, mas sim o do batismo. Para o camponês comum, isso era bastante normal e lógico. Como havia pouca assistência médica no interior da Rússia, muitas vezes não se sabia se o bebê sobreviveria aos primeiros dias após o nascimento. Para não "atrair espíritos malignos" antes do batizado, os pais preferiam não se apressar para anunciar seu nascimento.
"O Batismo", Akim Karneev.
Akim KarneevSe parecesse que a criança poderia morrer em breve, os pais pediam a um padre que viesse o quanto antes. Afinal, uma pessoa não batizada, mesmo que tivesse apenas algumas horas de vida, não iria para o céu e poderia perturbar seus pais após a morte. Essa crença era tão forte que, se um padre não estivesse por perto, uma parteira tinha autoridade para batizar o bebê, lhe dando um nome e borrifando-o com água benta.
No entanto, se a criança fosse saudável e forte, não haveria necessidade de apressar o batismo. Havia tempo para convidar os possíveis padrinhos e preparar a festa. As crianças saudáveis eram batizadas no terceiro ou oitavo dia após o nascimento.
Quando uma criança era batizada, ela recebia o nome do santo correspondente ao dia do seu batismo. Mas se os pais não gostassem do nome, podiam batizar a criança com o nome de algum dos santos de dias próximos.
"Um novo conhecido", Kirill Lemokh.
Kirill Lemokh/Museu RussoDepois do batismo, o marido podia finalmente mimar sua esposa com presentes e os parentes podiam parabenizar os jovens pais. A criança recebia um santo padroeiro, um protetor no mundo espiritual, que deveria ser honrado adequadamente. No dia de seu batismo, os filhos dos nobres eram presenteados com um ícone de seu santo padroeiro.
Na Rússia Imperial, as pessoas comemoravam o "dia do nome" (conhecido como "dia do anjo", em russo) e não o aniversário. Nesse dia, era costume ir à igreja pela manhã. A "criança do dia do nome" tinha que receber a comunhão, e à noite era realizado um jantar festivo. A nobreza e a família imperial tinham o costume de enviar tortas e pães nesta data: havia uma tradição de se comer produtos assados e doces e, depois, presentear os parentes.
Mas tudo isso valia só para os ricos. Os camponeses pobres raramente festejavam o dia do nome porque não era um feriado nacional, mas sim uma comemoração particular. Isso significava que as pessoas não seriam liberadas do trabalho nesse dia. Ainda assim, todos faziam o possível para organizar algum tipo de celebração e oferecer presentes aos parentes.
"Na casa de campo da família Rêpin"
Iúri RêpinOs tsares da Rússia foram os primeiros a celebrar seus aniversários. O tsar Teodoro 3º comemorou seu aniversário pela primeira vez em 30 de maio (9 de junho) de 1676, quando completou 15 anos. Aos poucos, outros tsares também passaram a festejar seus aniversários. Pedro, o Grande, comemorou a data várias vezes, inclusive quando estava no exterior.
A tradição, entretanto, não chegou ao povo russo comum até o século 19, quando ricos comerciantes e nobres começaram a realizar eventos de gala nesse dia, assim como faziam os tsares. É significativo que os nobres do século 19 soubessem o dia de seu nascimento. Ao contrário dos camponeses, os comerciantes e nobres eram alfabetizados, capazes de ler a hora em relógios e acompanhar os dias nos calendários.
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No final do século 19, os "dias do nome" do tsar, da tsarina e de todos os membros da família real eram comemorados oficialmente com serviços religiosos em toda a Rússia. No entanto, quando os bolcheviques chegaram ao poder, a tradição de comemorar o "dia do anjo" desapareceu como parte da campanha antirreligiosa.
"Dia do nome do governador geral". É possível ver uma delegação de comerciantes cumprimentando o governador no dia do seu nome com uma grande torta e uma cesta de esturjões.
Leonid SolomátkinA abolição da religião não foi o único motivo para acabar com os dias do nome. Nos primeiros anos do poder soviético, o governo leninista começou a desenvolver a infraestrutura do novo Estado, organizando, entre outras coisas, escritórios de registro civil, atendimento médico em massa e a eliminação do analfabetismo. Com tudo isso, os cidadãos começaram a saber quando era seu aniversário, e também não tinham mais medo de comemorar o aniversário de seus filhos.
Em uma sociedade industrial em rápido crescimento, o cuidado perinatal se tornou generalizado. A saúde dos bebês não era mais responsabilidade das parteiras e dos médicos das aldeias, mas sim de uma equipe médica; assim, não havia mais motivo para ter medo de maus presságios e superstições.
Durante todo o século 20, os russos ainda celebravam o dia do seu nome, e a maioria ainda sabe em que dia do ano ele ocorre. Entretanto, somente as pessoas religiosas ainda comemoram seus "dias de anjo".
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