Como foi construído e reconstruído o Kremlin de Moscou?

Russia Beyond (Serguêi Ginak/Getty Images; Museu de Moscou)
Qualquer pessoa que já visitou a Praça Vermelha se lembra de suas pedras de pavimentação, das cúpulas coloridas da Catedral de São Basílio e dos imponentes muros da fortaleza do Kremlin. Eles se tornaram um dos principais símbolos não só da capital, mas de toda a Rússia. Por quem e quando foram construídas essas muralhas e suas torres grandiosas?

Moscou foi documentada nas crônicas russas pela primeira vez em 1147, segundo historiadores. As primeiras muralhas e fortalezas do Kremlin, ou seja, do complexo central fortificado da cidade, foram um exemplo típico da arquitetura eslava: fortificações de terra e madeira. As fortalezas de pedra começaram a ser construídas na Rússia muito mais tarde do que na maioria das regiões europeias, graças à abundância de madeira e à falta de pedras na região.

As primeiras estruturas defensivas permaneceram em Moscou até 1177, até serem queimadas durante os conflitos militares entre diferentes príncipes russos. Em seguida, novas fortificações foram erguidas: uma muralha de barro, ou seja, da terra escavada para uma vala, com uma paliçada de carvalho. A vala tinha até 18 metros de largura e aproximadamente 5 metros de profundidade. Essas fortificações existiram até 1238, quando foram destruídas pelos tártaros-mongóis.

Apollinári Vasnetsov, “Kremlin de Moscou sob Ivan Kalitá” (1921).

Depois disso, as muralhas da cidade foram reconstruídas várias vezes, sendo a mais confiável a construída por ordem do príncipe de Moscou Ivan Kalitá, com grossos troncos de carvalho e muitas torres. Porém, todas as fortificações tinham uma enorme desvantagem: elas podiam ser facilmente queimadas. Durante o grande incêndio de 1365, o Kremlin foi completamente destruído pelo fogo, resultando na decisão de se construir fortificações somente de pedra.

Moscou de pedra branca

Apollinári Vasnetsov, “Provável vista do Kremlin de pedra branca de Dmítri Donskôi. Final do século 14” (1922).

O primeiro Kremlin de pedra, que substituiu a fortaleza de madeira, foi construído entre os anos de 1366 e 1367, durante o reinado do grão-príncipe Dmítri Donskôi, famoso por sua grande vitória sobre os invasores mongóis. Para a construção da nova fortaleza, foram transportadas mais de 100 mil toneladas de calcário, um tipo de rocha sedimentar carbonática. O comprimento das muralhas era de quase dois quilômetros, e o perímetro geral da fortaleza triangular já era semelhante aos contornos modernos do Kremlin. As oito ou nove torres foram construídas dos dois lados opostos ao rio Moskva.

No entanto, o Kremlin branco não durou muito: depois de cerca de 100 anos, as muralhas começaram a desabar, pois o calcário é facilmente destruído pela umidade. Desde meados do século 14, as muralhas têm sido constantemente reparadas.

Em 1485, o grão-príncipe Ivan 3º iniciou o maior projeto de construção na Rússia da época, conforme exigido pelo prestígio de Moscou e sua importância militar. Assim, apareceu uma nova fortaleza no lugar do Kremlin branco.

Kremlin de Ivan

Apollinári Vasnetsov, “Kremlin de Moscou sob Ivan 3º” (1921).

Por ordem do grão-príncipe Ivan (1440-1505), a maior parte das muralhas da fortaleza foi demolida. Os melhores engenheiros italianos foram convidados para construir o novo Kremlin de Moscou. Na Rússia, eles eram chamados de “friázi". Assim, o milanês Pietro Antonio Solari se tornou conhecido como Piótr Friázin, Antonio Gilardi de Vicenza se tornou Anton Friázin e Marco Ruffo, Mark Friázin.

Rudolfo Fioravanti, de Bolonha, foi apelidado em Moscou de “Aristóteles”, destacando sua exclusividade e grande talento. Ele foi convidado a Moscou por Ivan para construir a igreja principal do Kremlin, a Catedral da Assunção. Foi "Aristóteles" que criou a tecnologia de fabricação dos tijolos com que são feitas as torres e muralhas do Kremlin atualmente.

Ivan 3º e o arquiteto italiano

A nova fortaleza foi construída gradualmente para que o coração de Moscou não ficasse desprotegido. A fundação da antiga muralha de pedra branca foi reconhecida como confiável e serviu como base para a nova.

A muralha da nova grandiosa fortaleza de Ivan atingiu uma extensão de aproximadamente 2,25 quilômetros. Sua espessura varia de 3,5 a 5,5 metros com altura de 5 a 19 metros. O Kremlin recebeu 18 torres, incluindo torres de portão. Esta aparência permaneceu quase inalterada até o século 17, quando foram construídos topos decorativos das torres, e a maioria das brechas foram fechadas. O número de torres aumentou para 20.

O Kremlin também tinha três torres de arqueiros, das quais apenas uma, a chamada torre Kutafia, permaneceu até hoje.

A Torre Kutafia.

As muralhas do Kremlin são revestidas de tijolos apenas por fora: o interior é formado pelos restos da muralha de Dmítri Donskôi, preenchidas com argamassa de cal para maior resistência. No total, mais de 100 milhões de tijolos foram utilizados na construção, o que, na época, era algo incrível para os russos. Foram usados tijolos de “duas mãos”, pesando até 9 kg. Eles eram chamados assim porque era impossível levantá-los com uma mão só.

Gerard De La Barthe, “Vista de Moscou a partir da varanda do Palácio do Kremlin na direção da ponte Moskvorétski” (1797).

As muralhas do Kremlin nem sempre eram vermelhas e, pelo menos desde 1680, foram caiadas de cal.

O Kremlin tinha um potencial defensivo incrível para a época. Do lado interno das muralhas foram feitos arcos semicirculares para canhões e armas de fogo.

Apollinári Vasnetsov, “Livraria na Ponte Spásski no século 17” (1916).

A espessa fundação da muralha, chamada de tálus, protege a fortaleza das escavações. No topo, as muralhas têm 1.045 dentes na forma da letra M, popularmente chamados de “caudas de andorinhas”.

Além disso, a fortaleza era protegida por um fosso na Praça Vermelha que existiu até 1816.

O muro do Kremlin e seu fosso representados no ícone de Simon Uchakov, “A Árvore do Estado Russo. Louvor de Nossa Senhora de Vladimir

Muitas fortalezas russas têm esconderijos dentro das muralhas, ou seja, galerias subterrâneas que permitiam aos defensores sitiados ter o acesso a uma fonte de água potável e com saídas para fora do território da fortaleza para facilitar contra-ataques. Na Torre Tainítskaia do Kremlin de Moscou também há um esconderijo com um poço escondido e saída às margens do rio Moskva.

Kremlin de Moscou nos dias de hoje.

Durante sua existência, o muro do Kremlin foi danificado e reparado muitas vezes. Os danos mais severos foram infligidos pelos franceses em 1812. A restauração levou mais de 10 anos. A fortaleza da capital russa também foi danificada durante a revolução bolchevique em 1917 e durante a Grande Guerra Patriótica quando, apesar da engenhosa camuflagem, dezenas de bombas caíram sobre o Kremlin.

A criação de engenheiros italianos e construtores russos sobrevive até hoje com diversas modificações, tendo perdido sua aparência original. No entanto, diferentes períodos da história russa deixaram sua marca no Kremlin e na sua famosa muralha, tornando-o um monumento de valor inestimável.

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