Como os tsares russos eram coroados?

O primeiro tsar (o monarca russo, também grafado como “czar” em português) coroado na Rússia foi Ivan, o Terrível. Ele se tornou o primeiro tsar de Toda a Rússia em 16 de janeiro de 1547. A cerimônia de coroação, porém, não foi a primeira na história russa. Em 1498, durante o reinado de Ivan 3º (Ivã 3º), seu neto Dmítri (1483-1509) foi coroado como grão-príncipe da Rússia.

Dmítri foi abençoado pelo metropolita e Ivan 3º vestiu “barmas” (ombreiras especiais com enfeites) e a Coroa do Monômaco.

Ivan, o Terrível, o primeiro tsar da história da Rússia, foi coroado da mesma maneira, mas a cerimônia já tinha ficado mais complexa: o monarca recebeu "a cruz honesta que dá a vida", que acreditam conter uma partícula da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado. Esta cruz era um símbolo da missão do monarca: o tsar era o responsável pelos pecados de seu povo diante de Deus.

Ivan, o Terrível, também foi o primeiro a receber o cetro real e a usar trono real. No entanto, essa coroação ainda não incluía o Crisma no reino.

O que é o Crisma para o reino?

O sacramento da unção ao reino com o santo Crisma (um óleo consagrado especial) era um símbolo do "casamento" do tsar com o reino e o povo. O primeiro tsar ungido foi filho de Ivan, o Terrível, Teodoro 1º, que foi coroado em 31 de maio de 1584, em seu 27º aniversário.

O tsar teve que retirar a coroa já colocada sobre si e se aproximar do metropolita ou patriarca, que, com um pincel especial, ungiu o tsar com mirra na testa, pálpebras, narinas, lábios, orelhas, peito e mãos de ambos os lados, repetindo “O Selo do Presente do Espírito Santo. Amém".

Curiosamente, após esse procedimento, o tsar não podia, de acordo com as regras da Igreja, se lavar e tirar as roupas íntimas durante oito dias. A principal diferença entre o Crisma da Rússia e o da Europa e de Bizâncio é que ele era realizado depois de colocar a coroa no monarca, enquanto nos países europeus a entrega da coroa finalizava o procedimento.

Como foi a cerimônia de coroação dos tsares russos?

A ordem de coroação de Teodoro 1º foi copiada do rito bizantino, incluía o Crisma e muitos outros ritos sagrados.

O diplomata inglês Jerome Horsey, que participou da cerimônia, escreveu que o tsar russo, cercado por uma comitiva de altos funcionários e o mais alto clero em suas mais ricas vestes, deixou seus aposentos no Kremlin e começou a visitar lentamente todas as catedrais do Kremlin de Moscou.

A Praça Ivanovskaya, no Kremlin, estava lotada de pessoas do povo. “Foram construídos andaimes de cerca de 270 metros de comprimento, dois de largura e um metro acima do solo para que o tsar pudesse passar de uma igreja para outra no meio da multidão, porque havia tantas pessoas que algumas foram pisoteadas até a morte. Durante a cerimônia, os pórticos das catedrais foram cobertos com veludo vermelho. Assim que o tsar passou, o veludo foi arrancado por aqueles que conseguiram alcançá-lo, já que todos queriam ter um pedaço para guardar como recordação”.

Após entrar na Catedral da Assunção, o tsar vestiu a “roupa especial do Grande Tesouro”, um cafetã decorado com ouro e pedras preciosas, que, segundo Gorsey, pesava quase 100 quilos. Quando o tsar caminhava, a cauda de suas roupas era carregada por seis pessoas mais próximas do tsar. Teodoro foi elevado ao trono real e o metropolita o coroou com a Coroa do Monômaco.

Ao mesmo tempo, seis outras coroas foram colocadas na frente do tsar: eram símbolos de seu poder sobre as terras do país - os antigos canatos e outros territórios anexados por seu pai Ivan, o Terrível. Além do cetro "do osso de um unicórnio, com um metro e meio de comprimento, decorado com pedras ricas", Teodoro recebeu uma "maçã", ou seja, um orbe, símbolo de seu poder espiritual.

Após a coroação e o Crisma, o tsar se aproximou dos portões da igreja e o povo gritou: “Deus salve o tsar de Toda a Rússia Teodoro Ivánovitch!”. Depois disso, o tsar e todos os outros foram para a Câmara Facetada, onde foi realizada uma grande festa de coroação. As celebrações continuaram por mais uma semana.

As coroações dos soberanos seguintes foram realizadas da mesma maneira. Apenas os detalhes e o número de coroas diferiam. Por exemplo, em 1605, o Falso Demétrio 1º foi coroado com três coroas: a Coroa do Monômaco, a coroa austríaca e a coroa de Kazan. A última coroação seguindo esse rito foi a dupla coroação dos meio-irmãos Pedro 1º e Ivan 5º, em 1682. Para esta cerimônia, foi criada a segunda Coroa do Monômaco para Pedro, o mais novo dos irmãos.

As coroações dos imperadores russos, embora fossem baseadas em ritos antigos e também ocorressem na Catedral da Assunção, diferiam significativamente.

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