Guerra Civil Russa: quem eram os vermelhos, os brancos, os verdes e outros nos conflitos?

História
BORIS EGOROV
Conflitos ocorridos na Rússia entre 1918 e 1923 estão entre os mais brutais e sangrentos da história da humanidade. De 10 a 17 milhões de pessoas morreram em batalhas, repressões, terror, fome e epidemias do período.

Neste artigo você descobrirá quem lutou na Guerra Civil Russa e com que objetivos, quem eram os “vermelhos”, os “brancos” e os “verdes”, que papel desempenharam os intervencionistas e por que os bolcheviques conseguiram vencer.

Mas comecemos do início: em março de 1917, os protestos contra o governo conhecidos como Revolução de Fevereiro levaram à abdicação do tsar Nicolau 2º, ao fim do Império Russo e ao estabelecimento de um regime de governo republicano e democrático. Mas isso agravou os inúmeros problemas sociais, políticos e econômicos acumulados no país, que já estava fragilizado por participar da Primeira Guerra Mundial.

Foi assim que, em novembro do mesmo ano, ocorreu na Rússia uma segunda revolução, que derrubou o governo provisório e levou bolcheviques ao poder. No entanto, uma parte significativa da população não compartilhava das opiniões dos bolcheviques. Por isso, alguns historiadores costumam associar o início da Guerra Civil Russa a 7 de novembro de 1917, dia do golpe bolchevique em Petrogrado (atual São Petersburgo), que era a capital do país.

Em um esforço para retirar a Rússia da Primeira Guerra Mundial o mais rápido possível, o governo de Lênin, líder dos bolcheviques, concordou em assinar um tratado de paz com os alemães em 3 de março de 1918 em Brest, conhecido como Tratado de Brest-Litovski.

Sob os duros termos desse tratado, o país perdeu toda a Polônia, Ucrânia e todos os Estados Bálticos. A paz sob essas condições foi um choque para a sociedade russa e aumentou significativamente o número de oponentes fervorosos do regime soviético, que não queriam dar ao inimigo um centímetro de suas terras.

Assim, a partir do verão de 1918, a Guerra Civil estourou rapidamente em todo o vasto território da Rússia. Além dos bolcheviques e seus adversários políticos, entraram na guerra numerosos grupo anarquistas, exércitos insurgentes e novos Estados autoproclamados que surgiram nas periferias do império destruído, bem como potências ocidentais, que decidiram extrair o máximo benefício da desordem instaurada na Rússia.

O ponto culminante do conflito ocorreu em 1919, quando as batalhas mais importantes foram travadas nos arredores de Moscou e Petrogrado. O fim do sangrento conflito está associado ao estabelecimento do poder soviético no Extremo Oriente em 1922.

Como resultado, os socialistas radicais ganharam uma vitória esmagadora na Rússia, o que teve consequências colossais para toda a história mundial do século 20.

Quem eram os "vermelhos"?

Os apoiadores de Vladímir Lênin e do Partido Bolchevique eram chamados de "vermelhos". Esta cor se tornou o símbolo da luta revolucionária, do movimento de esquerda, do socialismo e do comunismo.

Inicialmente, foram os destacamentos voluntários da Guarda Vermelha que criaram a base armada do novo governo. No final de janeiro de 1918, foi criado o Exército Vermelho dos Trabalhadores e Camponeses. Apesar desse nome, o Exército consistia não apenas de trabalhadores e camponeses, mas também de representantes de vários estratos da sociedade russa que compartilhavam dos ideais revolucionários.

Assim, vários oficiais do Exército Imperial passaram para o Exército Vermelho, onde passaram a ser chamados de "especialistas militares". O primeiro Comandante Supremo das Forças Armadas da Rússia Soviética foi o ex-coronel do Exército Imperial, Jukums Vācietis.

Durante a Guerra, os bolcheviques também contaram com ajuda de numerosos grupos guerrilheiros que lutaram atrás das linhas inimigas. Esses grupos eram instituídos por órgãos partidários locais ou por iniciativa da população.

Quem eram os "brancos"?

Os oponentes dos "vermelhos" na Guerra Civil eram chamados de "brancos". Historiadores afirmam que essa cor foi escolhida por que durante a Revolução Francesa ela era associada a oponentes da revolução. Segundo os bolcheviques, os brancos lutavam pelo "poder do tsar, senhorios e capitalistas".

No entanto, nem todos os brancos eram monarquistas. A rejeição das ideias bolcheviques uniu adeptos de partidos e tendências políticas completamente diferentes.

É difícil determinar uma linha de frente clara entre os vermelhos e brancos. No entanto, houve certas regiões do país que foram mantidas sob controle pelas partes durante quase todo o conflito.

Assim, o governo soviético controlava as regiões ocidentais, Moscou e Petrogrado (atual São Petersburgo), enquanto os “brancos” controlavam o sul do país, leste da Sibéria e as regiões no norte, onde estão localizados as cidades de Arkhânguelsk e Múrmansk.

Quem eram os "verdes"?

Os "verdes", a terceira força significativa na Guerra Civil Russa, incluíam camponeses, cossacos e anarquistas, que não gostavam nem dos “brancos”, nem dos “vermelhos”.

Os “verdes” fugiam das mobilizações realizadas pelos comunistas e pelos monarquistas, e moravam principalmente fora das cidades grandes e nas florestas. Daí surgiu o seu nome "verdes". Frequentemente eles conseguiram reunir grandes formações militares e estabelecer seu poder sobre vastos territórios da Rússia.

Assim, em 1920, na província de Tambov, ao sul de Moscou, iniciou-se um grande levante contra os bolcheviques sob a liderança de Aleksandr Antonov. Seu Exército Partidário Unido reuniu mais de 50 mil pessoas. As tropas soviéticas perderam muitas pessoas na luta contra esse grande destacamento dos “verdes”.

Em geral, os “verdes” lutavam tanto contra os “brancos”, como contra os “vermelhos”. No entanto, às vezes chegavam a um acordo com uma das partes em conflito. O anarquista Nestor Makhnó, que comandava o Exército Insurgente Revolucionário da Ucrânia, fez várias alianças com os bolcheviques, mas, no final, voltou a entrar em confronto com eles, foi derrotado e fugiu do país.

Quem participou da intervenção?

Após a saída da Rússia Soviética da Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Brest-Litovski, as tropas alemãs ocuparam toda a Ucrânia e os Estados Bálticos (a Polônia já estava sob seu controle). Somente após a Revolução de novembro de 1918 e a derrubada do Kaiser eles começaram a deixar os territórios do antigo Império Russo.

Mesmo assim, o Tratado de Brest-Litovski levou a uma intervenção das potências da Entente no território russo. Os Aliados queriam devolver o exército russo ao campo de batalha e apoiavam os “brancos”, que tinham prometido travar uma guerra contra os alemães até a vitória, após o fim da Guerra Civil. Contingentes militares limitados de britânicos, franceses, americanos, italianos, canadenses, australianos e gregos desembarcaram em portos no sul, norte e leste da Rússia.

Até mesmo depois do fim da Primeira Guerra Mundial, a Entente não teve pressa em evacuar suas tropas, continuando a buscar benefícios políticos e econômicos para si no caos político russo. No entanto, os intervencionistas não entraram nas áreas de hostilidades intensas, realizando combates locais apenas contra os guerrilheiros “vermelhos”. Eles começaram a deixar o país no segundo semestre de 1919, quando ficou claro que o movimento “branco” estava condenado.

Os últimos a deixar a Rússia foram os japoneses, que queriam subjugar vastos territórios do Extremo Oriente, da Sibéria e até chegar até o Lago Baikal, diretamente ou através da criação de um Estado fantoche.

Incapazes de entrar em conflito armado aberto com os invasores japoneses, os bolcheviques os expulsaram do território russo por meios diplomáticos e alimentando o destacamentos de guerrilheiros no Extremo Oriente. Os soviéticos, porém, conseguiram tomar de volta o norte da ilha Sacalina, que tinha sido ocupado, apenas em 1925.

Horrores do terror “vermelho” e “branco”

A brutalidade extrema é característica de qualquer guerra civil, e o conflito na Rússia não foi exceção. A violência contra os "inimigos de classe" e "elementos contrarrevolucionários" foi consagrada na Rússia Soviética no nível estatal pelo decreto de 5 de setembro de 1918 "Sobre o Terror Vermelho".

Um total de quase dois milhões de pessoas se tornaram vítimas do "terror vermelho" sancionado pelo governo soviético. Já o "terror branco" custou a vida de cerca de 500 mil pessoas. O número menor de vítimas dos “brancos” não está, porém, relacionado com alguma “humanidade” dos oponentes dos bolcheviques, mas com o fato de que os “brancos” controlavam regiões menos populosas.

Os historiadores afirmam que a crueldade dos “brancos” era equiparável à dos “vermelhos”. Assim, a política repressiva do líder dos “brancos” no leste do país, almirante Aleksandr Kolchak, levou a grandes levantes na retaguarda de seus exércitos, que eram os principais motivos da queda do autoproclamado Governante Supremo da Rússia.

As forças intervencionistas que lutavam junto com os “brancos” também participavam do terror que levou à morte de quase 111 mil russos.

Como os bolcheviques venceram?

Um dos principais motivos da derrota dos “brancos” na Guerra Civil foi a fragmentação de suas forças. Localizados a grandes distâncias uns dos outros, os generais não conseguiam coordenar efetivamente suas ações. Além disso, várias formações militares antissoviéticas brigavam abertamente entre si.

Os “brancos” não tinham uma unidade política ou uma ideologia claramente formulada (exceto o antibolchevismo e a integridade do Estado). Os bolcheviques, por outro lado, tinham programas políticos, sociais e econômicos bem desenvolvidos e eram capazes de conduzir uma propaganda eficaz.

Nas mãos dos “vermelhos” estavam as regiões industriais densamente povoadas, em algumas das quais eles conseguiram construir um sistema de administração civil e militar usando métodos crueis. Eles estabeleceram rapidamente um sistema de treinamento de comandantes e especialistas técnicos e, além disso, atraíram cerca de 70% dos oficiais do antigo Exército Imperial Russo.

Os bolcheviques conseguiram atuar na Guerra Civil como uma única força monolítica. Eles respondiam com eficácia às ameaças e mobilizavam instantaneamente suas forças para eliminá-las.

Assim, depois de derrotar Kolchak nos Urais, na primavera de 1919, o Exército Vermelho conseguiu, em apenas seis meses, repelir com sucesso a ofensiva contra Moscou das Forças Armadas do Sul da Rússia, de Anton Deníkin, e a do Exército do Noroeste de Nikolai Iudénitch contra Petrogrado (atual São Petersburgo).

Depois dessa série de derrotas pesadas, o movimento "branco" estava condenado a terminar.

LEIA TAMBÉM: Por que Stálin mandou assassinar Leon Trótski?

O Russia Beyond está agora também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos gratuitamente em https://t.me/russiabeyond_br