5 amigos de verdade dos imperadores russos

Russia Beyond (Foto: Legion Media, Domínio público)
Tsares e imperadores russos quase sempre eram obrigados a manter relações próximas com pessoas importantes para o Estado e tinham poucos amigos verdadeiros: mas encontraram amizade, por exemplo, com um conhecido escritor, uma mulher nobre, uma famosa educadora e um simples torneiro.

O Russia Beyond está agora também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos gratuitamente em https://t.me/russiabeyond_br

Era bem fácil se tornar inimigo pessoal do primeiro tsar russo, Ivan, o Terrível, mas era quase impossível se tornar seu amigo pessoal.

Entre os séculos 14 e 17, a corte real russa seguia as regras de "méstnitchestvo", ou seja, um sistema de distribuição de cargos dependendo do grau de nobreza das famílias. Os boiardos, que consideravam suas origens mais antigas e seus serviços ao tsar mais valiosos, podiam reivindicar uma posição mais elevada no Estado. Isso muitas vezes levava a disputas entre os nobres, que reivindicavam a influência de seus ancestrais e os serviços que eles haviam prestado aos monarcas.

Em outras palavras, quanto mais importante uma pessoa era no Estado, mais próxima ela estava, literalmente, do tsar: as pessoas mais importantes, com origens mais antigas no governo, ficavam sentadas perto do tsar durantes as festas, acompanhavam o monarca em caças, iam à sauna com o tsar etc.

Naquela época, o monarca não tinha liberdade para escolher seus amigos e era obrigado fazer amizade com representantes das famílias mais nobres.

Foi o primeiro imperador russo, Pedro, o Grande, quem acabou com essa ordem. Desde jovem, Pedro tinha muitos amigos estrangeiros que moravam em Moscou. Ele conhecia e fazia amizade facilmente com qualquer pessoa, sem prestar atenção a sua posição ou nobreza.

Mas ele não foi o único que cultivou amigos verdadeiros...

Andrêi Nartov (1693 - 1756), amigo de Pedro, o Grande

Conhecido popularmente como "o torneiro do tsar", Andrêi Konstantínovitch Nartov não devia nada a Pedro - pelo contrário, Nartov era um excelente mecânico e inventor e, assim, foi Pedro quem aprendeu com ele, que era considerado "uma pessoa simples".

Aos 15 anos de idade, Nartov já estudava torno na Escola de Ciências Matemáticas e Náuticas de Moscou estabelecida pelo tsar. Ao descobrir sobre seu talento, em 1718, Pedro enviou Nartov para estudar na Europa e, quando retornou, ele foi incumbido como chefe da oficina de torno do tsar.

Torno de Nartov.

Essa oficina estava localizada no palácio de Pedro, perto dos aposentos reais, já que o tsar gostava de relaxar trabalhando como torneiro mecânico. O filho de Nartov posteriormente publicou as histórias de seu pai sobre Pedro, o Grande, que transmitem com precisão o caráter irônico e heróico do imperador russo.

Após a morte de Pedro, Andréi Nartov, que não era considerado das camadas superiores, foi afastado da corte, mas continuou a trabalhar como engenheiro de artilharia. Pouco antes de sua morte, Nartov recebeu o posto de general-conselheiro estatal. Ele morreu em São Petersburgo, em 1756.

Mavra Chuválova (1708 - 1759), amiga da imperatriz Isabel da Rússia

A história de Mavra Egórovna Chuválova é um exemplo de como uma insignificante dama de companhia de uma grã-duquesa quase se tornou onipotente. Aos 10 anos de idade, Mavra Chépeleva se tornou dama de companhia de Anna Petrovna, filha do primeiro imperador russo.

Em 1720, Anna Petrovna se casou com o duque Karl-Friedrich de Holstein-Gottorp - o filho dos dois foi o imperador Pedro III. Em 1727, Mavra partiu com a jovem princesa e com o duque para a cidade de Kiel, onde se tornou amante do duque.

"O comportamento do Duque e de Mavra é totalmente vulgar. Ele não passa um único dia em casa, viaja com ela abertamente em uma carruagem pela cidade, eles fazem visitas juntos e vão aos teatros", escreveu Anna a sua irmã, Isabel da Rússia.

Após a morte de Anna Petrovna em 1728, Isabel da Rússia nomeou Mavra Chépeleva sua dama de companhia. Mavra voltou para a Rússia e se tornou a melhor amiga de Isabel, a futura imperatriz.

Mavra morava com ela em Moscou, na propriedade Pokrovskoe-Rubtsovo, e era famosa por sua capacidade de divertir Isabel com piadas cáusticas. Ela adorava festejar e jogar cartas. Em 1738, ela se casou com Piotr Chuvalov, que participou do golpe de 1741 e levou Isabel da Rússia ao trono.

O marido de Mavra se tornou titular de todas as ordens mais altas e um dos principais dignitários do Império. O primo de seu marido, Ivan Chuvalov, fundador da Universidade de Moscou, se tornou amante da imperatriz.

Mavra era arrogante com pessoas que ela não conhecia e perseguia seus inimigos, usando suas conexões. Mas foi graças a ela que a família Chuvalov se tornou uma das primeiras famílias do Império Russo.

Ekaterina Dáchkova (1743 - 1810), amiga de Catarina, a Grande

A amizade entre a grã-duquesa Ekaterina Alekseevna (futura imperatriz Catarina 2ª, a Grande) e a princesa Ekaterina Vorontsova (Dáсhkova) começou de forma estranha: a irmã de Dáchkova, Elizaveta, era amante do marido da Ekaterina, imperador Pedro 3º.

O imperador amava a irmã de Dáchkova e passava a maior parte do tempo com ela, ignorando a esposa. Durante o golpe palaciano, Ekaterina Dáchkova ficou do lado de Catarina.

Aos 19 anos de idade, Ekaterina Dáchkova era cheia de confiança, vestia um uniforme masculino de oficial e participava de todas as reuniões do Senado.

Após a morte de seu marido, em 1764, Dáchkova saiu da corte real e, em 1769, fez uma grande viagem pela Europa, onde foi recebida como amiga da imperatriz russa e conheceu Voltaire, Adam Smith e Benjamin Franklin.

Quando Dáchkova voltou para a Rússia, em 1782, seu relacionamento com a imperatriz Catarina 2ª foi restaurado. Dáchkova se tornou diretora da Academia de Ciências de São Petersburgo e logo fundou a Academia Imperial Russa.

Dáchkova dedicou todos os últimos anos de sua vida à educação. Por sua iniciativa, as principais obras da literatura mundial começaram a ser traduzidas para o russo.

Aleksandr Kurákin (1752 - 1818), amigo de Paulo 1º da Rússia

Nikita Pánin, tutor do grão-duque Pável Petróvitch (futuro imperador Paulo 1º) não tinha filhos. Foi ele quem criou o sobrinho-neto, o príncipe Aleksandr Kurákin, que se tornou amigo do grão-duque desde a infância. Kurákin estudou no exterior e acompanhou Pável Petrovitch em muitas viagens - inclusive na viagem dele a Berlim para conhecer a futura esposa de Pavel, Maria Feodorovna.

Aleksandr Kurákin foi considerado o mais educado dos aristocratas russos. Nos círculos da aristocracia europeia, Kurákin era chamado de "príncipe dos diamantes", devido a seu amor por joias com essa pedra: seus chapéus, bengalas e roupas eram decorados com ouro e diamantes.

Quando Paulo 1º ocupou o trono russo, o príncipe Kurákin se tornou vice-chanceler. Embora tivesse pouco conhecimento dos assuntos do Estado, ele era muito respeitado. Entre 1808 e 1812, Kurákin chefiou a embaixada russa na França, deixando-a após o início da invasão de Napoleão à Rússia.

Em 1810, ocorreu um incidente em Paris que acabou se tornando a causa da morte de Kurákin. Houve um incêndio em um baile. Kurakin, um verdadeiro aristocrata, não se permitiu sair da sala em chamas até que todas as mulheres tivessem saído. O "príncipe dos diamantes" estava literalmente envolto em roupas de ouro, que salvaram sua vida. Porém, ele sofreu queimaduras graves que minaram sua saúde.

Nos últimos anos de vida, Kurákin sofreu de gota e outros problemas de saúde, mas continuou a organizar os bailes mais sofisticados de Moscou e de São Petersburgo. Como Kurákin foi iniciado nos mais altos graus da Maçonaria, ele fez voto de celibato, mas, durante sua vida, se tornou pai de mais de 50 filhos fora do casamento.

Aleksêi Tolstói (1817 - 1875), amigo de Alexandre 2º da Rússia

Segundo a tradição de criar grão-duques junto com pequenos aristocratas, Aleksêi Konstantinovitch Tolstói, um famoso escritor que escreveu o romance "Príncipe Serebrenni", se tornou amigo de Alexandre 2º - que viria a ser imperador da Rússia. Aleksêi foi apresentado ao príncipe Alexandre quando eles tinham 14 e 13 anos, respectivamente. Eles permaneceram amigos por muitos anos.

Aleksêi Tolstói se tornou um oficial civil, embora fosse mais conhecido como escritor, autor do romance "O Vampiro" e coautor da conhecida farsa literária "Kozma Prutkov". Ele quase nunсa usava sua amizade com o imperador para progredir em sua carreira e, após sua renúncia em 1861, visitava São Petersburgo apenas ocasionalmente.

Aleksêi Tolstói escreveu um pedido ao imperador Alexandre apenas uma vez, quando quis proteger da destruição a antiga igreja de São Trifão em Moscou. Alexandre 2º não respondeu à carta.

Os últimos anos de vida deste Tolstói foram dedicados a viagens pela Europa e atividades literárias. Seu romance mais famoso, "Príncipe Serebrenni" foi publicado em 1863. Nesses últimos anos de vida, Tolstói sofria de dores de cabeça crônicas e, por isso, recebia injeções de morfina. Foram elas a causa de sua morte prematura.

LEIA TAMBÉM: Diplomacia alcoólica, uma prática que perdurou na Rússia Imperial contra enviados estrangeiros

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies