As 5 principais insurreições palacianas russas

Kira Lissítskaia (Foto: Fiodor Rôkotov; Andrei Kortchágin (CC BY-SA 2.0); Domínio público)
Os ecos de uma terrível lei emitida pelo primeiro imperador russo ressoaram ao longo do século 18, quando a Rússia experimentou cinco violentas mudanças de governantes.

Pedro, o Grande, amava mais governar que o próprio filho. Ao contrário de Ivan, o Terrível, cuja participação na morte de seu herdeiro é duvidosa, o tsar Pedro ordenou pessoalmente a tortura de seu rebento, o tsarevich Aleixo Petrovitch, por alta traição e tentativa de fuga para a Europa.

Aleixo provavelmente morreu sob tortura. “Pela pátria e pelo povo, não poupei minha vida. Como posso sentir pena de você, seu indecente?”, escreveu Pedro ao tsarevitch.

O próprio tsar ficou tão chocado com a traição do filho que, alguns anos após a morte dele, emitiu a infame Lei de Sucessão (1722). O ato revogava o antigo costume de sucessão masculina ao trono e exigia que o monarca nomeasse um herdeiro de sua escolha. Quando de sua morte, porém, Pedro não nomeou um herdeiro.

  1. Catarina
Retrato de Catarina 1°, 1717.

Supostamente, o imperador Pedro, no leito de morte, escreveu ou proferiu: “Dê tudo...” e morreu. Mas isso é só uma lenda. Após a morte de Pedro, seu único herdeiro homem era o neto, Pedro III.

Ainda em 1724, Pedro, o Grande, coroou a esposa, Catarina, como imperatriz da Rússia. O que atrapalhava seu status era a origem simples. No entanto ela tinha a seu lado um braço direito, Aleksandr Menchikov, e o chefe da política externa do país, Andrei Osterman. Catarina ficou inconsolável após a morte do marido e não participou realmente da decisão de seu próprio destino.

Na noite de 28 de janeiro de 1725, enquanto o imperador agonizava, Aleksandr Menchikov convocou uma reunião especial com a presença de todos os dignitários importantes do império.

Houve então um acalorado debate entre os partidários de Catarina e a velha aristocracia, que representava Pedro 2°. No meio da disputa, os guardas imperiais dos regimentos Preobrajênski e Semiónovski irromperam na reunião. Eles estavam do lado do governo representado por Menchikov. Os guardas exigiram então que a imperatriz Catarina recebesse o trono.

Como um compromisso com os partidários de Pedro 2°, ele foi declarado o próximo na linha de sucessão ao trono - o que mais tarde foi escrito no testamento de Catarina 1°. Quando ela morreu em 1727, não houve golpe: o trono foi herdado por Pedro 2°.

  1. Ana da Rússia
Imperatriz Ana Ioannovna, 1730.

Pedro 2° não governou por muito tempo - ele morreu de varíola em janeiro de 1730 sem deixar testamento ou indicação seu sucessor. Com sua morte, a linhagem masculina direta da dinastia Romanov cessou.

Restaram apenas dois descendentes do primeiro imperador. Dos descendentes do primeiro imperador, restavam apenas duas opções: o neto do imperador, Karl Peter, filho da filha de Pedro, o Grande, Ana Petrovna e de Charles Frederick, duque de Holstein; e a filha de Pedro e Catarina, Isabel Petrovna (mais tarde, Isabel da Rússia).

No entanto, os “Verkhovniki”, ou seja, os membros do Conselho Privado Supremo, então governante da Rússia, os príncipes Golitsin e Dolgorukov, que pertenciam à antiga aristocracia de Moscou, tinham sua própria candidata.

Isabel Petrovna (1709-1762) nascera fora do casamento legal de seus pais, enquanto o príncipe Karl de Holstein era protestante. Por isso, decidiu-se dar o trono aos herdeiros do irmão e corregente de Pedro: Ivan 5° da Rússia.

Mas foi justamente a filha de Ivan 5°, Ana da Rússia, que, em 1710, casou-se com o duque da Curlândia, Friedrich Wilhelm e, após sua morte, foi regente do trono da Curlândia.

Ana foi convidada ao trono, mas só poderia assumi-lo se assinasse as “Condições”, um documento elaborado pelos membros do Conselho Privado Supremo.

Sob essas “Condições”, Ana não teria o direito de dispor de forma independente do orçamento, de declarar guerra, ou de nomear um herdeiro. Ou seja, na verdade, o documento tornaria Ana uma soberana fantoche. Porém, ao chegar à coroação em Moscou, Ana percebeu que a sociedade e a nobreza estavam do seu lado e contava com a ajuda da guarda real.

O embaixador espanhol de Liria descreveu os eventos da seguinte forma: “Oficiais da guarda e muitos outros, na presença da imperatriz, começaram a gritar que não queriam que ninguém prescrevesse leis à soberana deles, que devia ser autocrática, como seus predecessores”.

Como resultado, Ana, na presença de seus funcionários da corte e da aristocracia, rasgou as malfadadas "Condições" e passou a governar autocraticamente.

  1. Ivan 6° (Ana Leopoldovna)
Retrato do imperador da Rússia Ivan 4° Antonovitch (1740 – 1764).

Ana da Rússia fez o possível para garantir que o trono russo não saísse da árvore genealógica de Ivan 5°. Assim, alguns dias antes de sua morte, ela nomeou o pequeno Ivan Antonovitch (Ivan 6°), seu sobrinho-neto, como sucessor.

Ivan era neto de sua irmã mais velha, Catarina, que se casou com Charles-Leopold de Mecklenburg-Schwerin e deu à luz também a Ana Leopoldovna. De seu casamento com Anton Ulrich de Brunswick ela deu à luz Ivan Antonovich.

Ivan 6° foi declarado imperador em 1740, sob a regência de Ernst Biron – um dos favoritos de Ana antes de morrer. Duas semanas depois, os guardas prenderam Biron e proclamaram Ana Leopoldovna regente ao trono. Mas, após um ano de seu governo, o poder foi tomado por Isabel Petrovna.

  1. Isabel Petrovna
Retrato cerimonial idealizado de Isabel Petrovna.

Parte da sociedade russa ficou indignada quando o trono passou para Ivan Antonovitch depois de Ana Ioannovna - porque a própria Isabel Petrovna, filha de Pedro, o Grande, estava viva e saudável.

Desde a juventude, ela foi afastada da corte real por Ana Ioannovna, que temia que Isabel tirasse seu trono. Mas, sob Ana, o país era governado principalmente por seus amigos alemães – Ernest Biron, Burckhardt Minikh, Andrei Osterman. Por isso, Isabel era vista como “verdadeiramente russa”.

Isabel tinha relações amistosas com os guardas dos regimentos Preobrajênski e Semiónovski, estabelecidos por seu pai. Ela visitava o quartel, participava das festas da Guarda e até batizava os filhos dos membros da Guarda - o que era considerado uma grande honraria.

Na noite de 25 de novembro de 1741, Isabel foi ao quartel do Regimento Preobrajênski, em São Petersburgo, e proferiu a famosa frase: “Cavalheiros! Vocês sabem de quem sou filha, sigam-me.”

Do quartel, ela e os guardas foram direto para o Palácio de Inverno, onde Ana Leopoldovna e seu marido, Anton Ulrich, foram presos. Quando a tsarina trouxe o bebê Ivan 6°, Isabel o pegou nos braços com as palavras "Bebê, você não é culpado de nada!"

Mas isso não a impediu de logo condenar o infante à prisão perpétua. A chamada “família Brunswick” - Ana Leopoldovna, Anton Ulrich, seu filho real e outras crianças - foram exilados para o norte da Rússia e, depois, separados de seus pais e colocados na solitária em Shlisselburg, onde Ivan foi morto enquanto tentava escapar, em 1764.

  1. Catarina 2°
Catarina 2° como legisladora no templo da Deusa da Justiça.

Isabel queria deixar o trono para sua linhagem e, assim, nomeou um sucessor: o príncipe de Holstein, Karl-Peter, futuro imperador Pedro 3°, que, desde 1742, vivia na Rússia com sua esposa, Sofia Frederica, futura Catarina, a Grande.

Pedro reinou por pouco mais de seis meses, de dezembro de 1761 a junho de 1762, quando foi deposto pela própria esposa. Durante seu reinado, ele conseguiu colocar contra si os militares (concluindo a paz com a Prússia) e o clero (anunciando a secularização das terras da Igreja).

Catarina, que tinha brigado abertamente com o marido em 1762, reuniu um círculo de simpatizantes ao seu redor. Ela não tinha apenas altos dignitários ao seu lado, mas também os guardas - os regimentos Preobrajênski e Izmailovski (o último, liderado por um amigo de Catarina, Kirill Razumovski).

O golpe ocorreu em 28 de junho de 1762: o imperador Pedro 3° estava fora da cidade, comemorando o dia de seu nome, enquanto, em São Petersburgo, os guardas e, depois, os funcionários do Senado e do Sínodo fizeram juramentos a Catarina como a nova imperatriz.

Pedro soube de sua derrubada e, após algumas semanas de alvoroço e tentativas lentas de recuperar o poder, assinou sua abdicação, em 12 de julho de 1762.

Entre 16 e 17 de julho, o imperador morreu em circunstâncias pouco claras. Não se sabe até hoje se Catarina sabia da conspiração contra a vida do marido.

O manifesto de ascensão ao trono afirmava que os motivos para a derrubada de Pedro eram sua tentativa de mudar a religião do Estado e a paz com a Prússia.

Para justificar seus próprios direitos ao trono (ignorando a existência de um herdeiro, Paulo), Catarina se referiu ao “desejo de todos os nossos fiéis súditos, claro e sem cerimônias”.

Em outubro de 1762, ela foi coroada em Moscou.

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