Em 1921, em Moscou, começaram a ser encontrados em ruínas de casas e canteiros de obras abandonados sacos cinzentos com cadáveres de homens nus dentro. Todos os corpos tinham as mesmas características: suas cabeças tinham sido esmagadas por um forte golpe e os braços e pernas, amarrados firmemente ao estômago. Os moradores da capital ficaram horrorizados com o aparecimento do primeiro maníaco do país.
Os policiais já tinham detectado que o assassino vivia no bairro Zamoskvorétchie, perto do Kremlin, já que quase todos os corpos foram encontrados ali. Além disso, ele tinha alguma ligação com o mercado de cavalos. Foi possível identificar apenas sete das 20 vítimas, e todas vinham do campo em visita à capital para comprar cavalos.
Praça equestre.
Foto do livro de I. Lujkov "Somos suas crianças, Moscou".Os policiais também notaram forma habilidosa de coser os sacos, que lembrava o modo como se atrelam cavalos. Além disso, traços de aveia foram encontrados no fundo de diversos sacos. Tudo apontava para o fato de o maníaco trabalhar como cocheiro.
Havia muitos cocheiros na cidade, mas o círculo de suspeitos foi se estreitando quando um cadáver foi encontrado envolto em uma fralda: significava que, provavelmente, o assassino tinha um bebê.
Travessa Equestre na Chabolovka. 1913–1914.
Gauthier-DufayeA polícia rodou a cidade interrogando comerciantes do mercado de cavalos, até que topou com o cocheiro Vassíli Komarov, de 55 anos, que se distinguia pelo estranho modo de se portar. Ele nunca ia atrás de clientes como os colegas — apenas ficava parado, procurando alguém com os olhos. Komarov sempre teve muito dinheiro.
Vassíli Komarov.
Domínio públicoNa noite de 18 de maio de 1923, os policiais, desconfiados do cocheiro, entraram em sua casa, na rua Chabolovka, a pretexto de estarem fazendo uma busca por um destilador. Komarov parecia calmo, mas, quando os policiais se aproximaram do armário, pulou pela janela e desapareceu. No armário, os agentes da lei encontraram o cadáver ainda quente de uma nova vítima.
O maníaco foi detido na mesma noite em uma aldeia próxima de Moscou. Logo a polícia saberia todos os detalhes de seus crimes.
Vassíli Komarov, nascido Vassíli Petrov, era de uma família de ferroviários e, por muitos anos, viajara pelo Império Russo, trabalhando em diferentes lugares. Durante a Guerra Civil, foi comandante de pelotão do Exército Vermelho, executou muitos oficiais capturados do Exército Branco e se estabeleceu em Moscou, onde passou a trabalhar como cocheiro.
A arma do crime de Komarov.
Mikhail Gernet/Prestupnyi Mir Moskvy, 1924Mas ele não gostava do novo emprego e era muito ambicioso. Assim, Komarov passou a atacar seus compradores: ele chegava ao mercado de cavalos, buscava um comprador solitário dentre os camponeses e lhe oferecia um cavalo a preço extremamente baixo, explicando tratar-se de um negócio de ocasião, já que precisava de dinheiro com urgência.
Depois, ele convidava o comprador a sua casa para discutir os detalhes e fechar negócio. No conforto de casa, ele oferecia álcool ao cliente e, em seguida, matava a vítima a sangue frio, roubava seu dinheiro e até as roupas ensanguentadas.
Vassíli Komarov e a esposa.
Jornal "Gudok"“Ele matava de maneira organizada e incomum, sempre batendo na cabeça da vítima com um martelo, sem barulho ou pressa”, escreveu o famoso escritor russo Mikhail Bulgákov, que trabalhava como correspondente no tribunal.
“É assim que batem no gado. Sem remorso, mas também sem ódio. O lucro, porém, não era muito grande. O comprador tinha aproximadamente o valor de um cavalo no bolso”.
A polícia não encontrou muito dinheiro na casa de Komarov. O cocheiro, que era alcoólatra, gastava tudo em bebidas.
No total, Komarov foi acusado de assassinar 29 pessoas, embora ele tenha confessado matar 33 pessoas. Komarov não sentia remorso e declarou que estava pronto a matar mais 30 pessoas.
Quando o terreno ao redor de sua casa estava cheio de corpos enterrados, o "homem-besta", como foi chamado pela imprensa, passou a esconder os sacos com corpos em ruínas de casas em outros bairros ou descartá-los no rio Moskva.
Antes de cada assassinato, Komarov encontrava pretextos plausíveis para expulsar sua esposa, Sofia, e os filhos de casa. Um dia, sua mulher voltou um pouco mais cedo e presenciou a cena. Mas, em vez de denunciá-lo à polícia, ela se tornou sua fiel assistente, limpando o chão após o massacre.
No tribunal, o maníaco se comportou com uma “indiferença diabólica" e, sem levantar a voz, relatou, enfadado, os detalhes de seus crimes. Ele era absolutamente indiferente ao que seria de si próprio, declarando: "Todos nós morreremos".
Especialistas forenses diagnosticaram Vassíli Komarov como um "psicopata impulsivo com sinais de degeneração alcoólica", mas o declararam um homem são. Em 18 de junho de 1923, Komarov e a esposa foram executados por fuzilamento. Seus órfãos foram levados sob tutela do Estado.
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