Os chamados “vori v zakone” - ou zakonniki (em português, "Ladrões dentro da Lei") são os reis do submundo do crime: a verdadeira máfia russa. Este grupo de figurões respeitados, que controla a maior parte do mundo do crime, tanto na prisão como fora dela, é ligado por certos temas comuns.
Por exemplo, uma pessoa que queira ser promovida a "ladrão dentro da lei" deve primeiro merecer um respeito inabalável entre os ladrões, assim como ter inúmeras condenações e abominar absolutamente qualquer cooperação com qualquer estrutura estatal de aplicação da lei.
Os “zakonniki” seguem e respeitam um rígido código de conduta - a chamada "lei do ladrão". Seus princípios básicos são a lealdade ao ideário do ladroeiro e a impossibilidade de qualquer cooperação com órgãos da lei em qualquer função, inclusive a administração penitenciária.
Quando colocados naquilo que, em russo, se chama “zona” (uma gíria para a colônia penal de segurança máxima), os ladrões supervisionam o obschak, ou seja, a reserva de dinheiro comum do crime, e estabelecem sua própria lei, resolvendo todas as questões e conflitos seguindo um conjunto de “poniatia” (“conceitos”, no jargão prisional que penetrou no vernáculo russo na época pós-soviética, mesmo fora do mundo do crime).
Depois do “ladrão dentro da lei”, vem os “blatnieh”, algo que pode ser traduzido vagamente como “ladrão” — o que complica tudo um pouco mais. Mas esta é uma casta ligeiramente diferente. Ela fica logo abaixo da classe mais alta na hierarquia da prisão.
Este grupo controla a lei dentro da “zona”, onde se vive seguindo a lei da prisão. Mas, nas “zonas” onde a autoridade pertence à administração da prisão, a influência do “blanieh” é geralmente menor devido à lei contrária à cooperação com a administração.
Muitas vezes, a classe dos “blatnieh” é composta por criminosos profissionais comuns. Mas um presidiário que já tenha trabalhado na polícia ou no setor de serviços (como motorista de táxi, garçom etc.) não pode se tornar um “blatnoi”.
Na “zona”, onde essa casta detém o poder, seus membros ficam encarregados do “obschak”, além de abastecer a prisão com chá, cigarros e mantimentos. Eles também atuam como árbitros em conflitos entre presidiários, usando a supramencionada “poniatia” para se orientar.
Os “blatnieh” em si não se reconhecem como tais, apresentando-se como “arrestanti”, ou seja, "presos", ou ainda “brodiagui”, ou seja, "errantes".
A casta dos “mujiki” (a mesma palavra que frequentemente encontramos na literatura russa para os camponeses, que foi aportuguesada como “mujiques”) é a mais difundida no sistema russo de colônias penais. Ao contrário dos “blatnieh”, os “mujiki” não são criminosos profissionais ou hóspedes regulares da prisão.
Os membros dessa casta acabam na prisão geralmente por cometer um único crime, diferentemente daqueles que praticam a atividade criminosa sistematicamente.
Na maior parte, os muzhiki não cooperam com a administração da prisão, mas também não participam da vida prisional, ficando à margem de disputas internas. Eles fazem trabalhos penitenciários e esperam não retornar à colônia penal após cumprir sua pena.
Os reclusos desta classe social têm denominações diversas. Eles concordam prontamente em cooperar com os guardas e podem ocupar uma variedade de postos administrativos na zona.
Eles são claramente odiados por outras castas. Nas colônias onde a “vorovskoi zakon” (lei do ladrão) impera sobre a da administração, esses presidiários podem ser mantidos separados de outros, com o objetivo de protegê-los dos muitos e sangrentos conflitos ou atos de vingança.
Porém, nas prisões onde a administração oficial tem todo o controle local, aplicando punições severas para vários tipos de ordens “vorovskie” (ladroeiras), os "ativistas" desfrutam de mais segurança ou até de posições privilegiadas, e assim como os guardas lhes fornecem gentilezas em troca do desempenho de suas funções.
Geralmente, “koziol” (“cabra”) é o nome reservado para aqueles que se destacam por suas ações - e não por cumprir uma função carcerária designada. No entanto, se um presidiário mostrar desejo ativo de cooperar com a administração, em prol do interesse de obter alguns benefícios, ele pode ter certeza que será rebaixado ao posto de “suka” (o equivalente a uma “vadia”).
Os “petukhi” (“galos”, também conhecidos como “rebaixados”) estão no final de tudo na linha hierárquica e muitas vezes ficam isolados da população carcerária em geral. Eles têm seus próprios utensílios de cozinha (geralmente marcados com um buraco) e seu próprio local de dormir (geralmente perto do banheiro). Tocar neles, em suas coisas, ou pedir comida ou cigarros a eles é estritamente proibido para outros presos, para que eles próprios não sejam “rebaixados” a “petukh” - mesmo que esse “crime” de falar com eles seja acidental.
Os próprios “opuschennieh” devem evitar o resto dos presidiários e se manter firmes voltados contra a parede quando eles passam, deixando o caminho livre. Todo o trabalho sujo - como limpar banheiros e assim por diante - geralmente é deixado para os membros dessa classe.
Os "rebaixados" são criminosos que cometeram transgressões graves na “zona” (como não pagar uma dívida ou roubar de outros internos), assim como aqueles que cometem crimes ou pertencem a determinadas “categorias” do lado de fora da prisão (e ser homossexual automaticamente coloca uma pessoa nessa categoria).
A classe também pode incluir pessoas que tenham tolerado uma ofensa contra si próprios e não tenham buscado retaliação, assim como aqueles que tenham cometido uma ofensa ou tratado outro preso com desonra e não foram apoiá-lo no "tribunal" do “blatnieh” ou de outras testemunhas da alta hierarquia escalão.
Além das castas principais, a hierarquia das prisões russas inclui grupos menos conhecidos e menos numerosos que podem ser encontrados por todo o país.
Os “chestiorki” (nome proveniente do número “seis”, em russo, “chest”) são aqueles forçados a agir como escravos da classe dos “blatnieh”. Os “cherstiannieh” (ou “de lã”, como em um suéter) são os “paus mandados” que recebem a tarefa de ataques coordenados e espancamentos ou outros internos, geralmente a mando da administração.
Os “tcherti” (“demônios”) realizam vários trabalhos sujos para outros presos por recompensas monetárias. Os “krissi” são os “ratos” dedos-duros: eles delatam outros reclusos. Já “mussorá” (a palavra é o plural inventado para “lixo”, que não existe no léxico russo) é a palavra usada na gíria russa para “policial”: dentro da prisão, é assim que se chamam os ex-policiais que foram colocados atrás das grades.
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