Por que a montanha-russa se chama montanha-americana na Rússia?

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
As origens do brinquedo remontam ao entretenimento folclórico na Rússia. Depois, ele se tornou popular na Europa e se transformou em uma atração avançada nos EUA.

Uma das cenas mais ousadas do icônico filme “O Barbeiro da Sibéria”, de Nikita Mikhalkov, é que mostra as festividades da Máslenitsa em Moscou. Entre as diversões, há ali uma enorme ladeira de madeira em que as pessoas escorregam.

A brincadeira no gelo da Máslenitsa é o que deu origem ao termo “montanha-russa”, empregado em várias línguas românicas em outras partes da Europa.

Escorregadores: do inverno ao verão

Os russos têm um rico histórico de entretenimento de inverno. Nessa época do ano, os camponeses geralmente não estavam tão ocupados com o trabalho, por isso inventavam coisas para se divertir.

Uma das favoritas era deslizar em uma colina de neve natural. Quanto mais gente escorrega, mais a neve da ladeira se assenta, formando um gelo duro que desliza ada vez melhor.

Assim, as pessoas perceberam que poderiam simplesmente cobrir qualquer superfície inclinada com neve e água que ela ficava ótima para escorregar!

A Máslenitsa era a semana que festejava o final do inverno, marcada por muita diversão, inclusive escorregar nesses montes de neve. Grandes pistas para escorregar eram feitas nas grandes cidades, entre elas, Moscou e São Petersburgo, e gente de toda idade e status social se divertia ali.

“Sobre nossa diversão invernal em Moscou, devo mencionar uma coisa: as montanhas de gelo nas quais escorregamos durante Máslenitsa e, às vezes, se o tempo permitia, durante a Grande Quaresma. Várias dessas ‘montanhas-russas’ (como eram chamadas no exterior) foram instaladas atrás de nossa casa, no jardim. Podíamos montá-las especialmente porque essa bagunça no ar puro era boa para a saúde”, escreveu Apollinari Butenev, diplomata russo em Londres, em suas memórias da Rússia, em 1815.

As residências tsaristas também tinham suas próprias pistas de inverno. Além disso, no século 18, a imperatriz Catarina, a Grande, decidiu que não havia razão para esperar até o inverno para se divertir.

Os melhores engenheiros do Império construíram uma versão da montanha-russa de verão para ela. O brinquedo parecia uma enorme rampa de madeira com três trilhos de mais de seis metros de largura.

Neles, carrinhos desciam pelo trilho do meio e, depois, seguiam por quatro escorregadores, subindo e descendo. Os carrinhos avançaram por inércia mais de 500 metros no total.

Após o passeio, as carroças eram içadas de volta ao longo dos trilhos laterais com um mecanismo especial que era movido por cavalos.

“Montagnes Russes”

“Os escorregadores de gelo, que estão entre as atrações favoritas dos russos, despertam grande curiosidade entre os estrangeiros. Eles têm de 15 a 18 metros de altura, com varandas pintadas de branco no topo e decoradas com bandeiras heterogêneas. Na parte de trás há uma escada, pela qual as pessoas sobem o tempo todo, e, do outro lado, um trenó leve, a grande velocidade, desce uma encosta íngreme e gelada”, relatou o “Jornal de Conhecimentos Públicos Úteis”, publicado na Alemanha, em 1835, chamando o atração de “Die Rutscheiberge in Russland” (“as montanhas deslizantes da Rússia”).

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Muitas fontes dizem que foram os soldados russos em Paris durante a guerra napoleônica que construíram pequenas colinas deslizantes ao rio Sena. Logo a atração russa alegrou tanto os europeus que eles passaram a construir seus próprios brinquedos em muitas cidades. As condições climáticas não rendiam tanto gelo, mesmo no inverno, por isso eles usavam carros com rodas.

“Quando chega o inverno, os moscovitas constroem andaimes altos na maioria de suas cidades. Eles prendem uma escada de um lado, para subir, e do outro lado há um escorregador rápido para baixo, em que corre um trenó sobre rodas... O prazer dos russos foi trazido para Paris em 1816”, escreveu Claude Ruggieri, especialista francês em festividades e fogos de artifício.

Em 1816, uma das primeiras montanhas-russas, chamada Promenades-Aériennes, surgiu em Paris, e até o rei Luís 18 andou nela.

Mais tarde, o empresário Joseph Oller (cofundador do salão de música “Moulin Rouge”) projetou as “Montagnes Russes de Belleville” (Montanhas Russas de Belleville) com uma pista de 200 metros que parecia um duplo oito. Assim, o nome “montanha-russa” se tornou uma marca.

Montanha-russa americana

Em 1872 John G. Taylor patenteou o chamado “Melhoramento da Ferrovia Inclinada” nos EUA. Ele criou um mecanismo que muda o carro de uma plataforma a outra para que ele possa percorrer um declive diferente (sendo levantado para trás também). Mas não se sabe ao certo se ele conseguiu construir tal ferrovia.

Em 1885, a primeira montanha-russa conhecida foi inaugurada em Coney Island, no Brooklyn, em Nova York. Ela foi chamada de “Switchback Railway” (Ferrovia em Ziguezague) e foi projetada por LaMarcus Adna Thompson.

Quem se aventurasse nela tinha que escalar uma torre de 183 metros e embarcar em um carro especial. Depois, ele deslizava da pista ondulada para outra torre e, mais tarde, voltava. Parece a montanha de Catarina, não?

Thompson era famoso por desenvolver as montanhas-russas e os chamados “passeios de gravidade” e alcançou toda a indústria dos EUA. Foi lá que as montanhas receberam suas tecnologias modernas (e sistemas de segurança, porque até Catarina, a Grande, certa vez, quase caiu).

Assim, as novas montanhas-russas também chegaram à Rússia, e apesar de toda a Europa conhecê-las como “montanhas-russas”, na Rússia elas ficaram conhecidas como… montanhas-americanas! E é assim que as montanhas-russas ainda são chamadas na Rússia até hoje.

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