“Muito mais pelo seu dinheiro com os sedãs e peruas Moskvich 4 portas!”. A frase é de um anúncio do carro soviético "Moskvich 408", também conhecido como Scaldia 408, publicado na revista britânica Autocar em julho de 1968.
Apesar das relações tensas e da Guerra Fria, a URSS nunca parou de negociar com os países capitalistas. Embora os bens de consumo da União Soviética não fossem amplamente vendidos no exterior, sempre houve como produtos de exportação o petróleo e o gás. A URSS, por sua vez, adquiria equipamentos estrangeiros para a construção de grandes ferrovias, gasodutos e sistemas de água.
Cortina de Ferro foi um mito?
O termo “Cortina de Ferro” foi pronunciado pela primeira vez pelo primeiro-ministro britânico Winston Churchill em 1946 durante o discurso de Fulton, que marcou o início da Guerra Fria entre a URSS e os países ocidentais. Em 1949, em oposição à Grã-Bretanha, Estados Unidos e países aliados, e para manter laços estreitos com países amigos, a URSS criou o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON), que incluia os países do bloco socialista: Polônia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Albânia, República Democrática de Alemanha, Mongólia, Cuba e Vietnã. O COMECON foi o principal parceiro comercial da URSS na segunda metade do século 20.
Os membros do COMECON compravam combustível da URSS a preços abaixo do mercado mundial e forneciam à URSS máquinas, equipamentos, bens agrícolas, industriais e de consumo. De acordo com dados de 1960, cerca de 58% de importações da URSS vinham dos países do COMECON.
Durante a época de Nikita Kruschev e Leonid Brejnev, os negócios com os países capitalistas cresceu, mas os países do bloco socialistas continuaram a ser os principais parceiros comerciais de Moscou.
Em 1986, 67% do volume de negócios da URSS correspondia aos países socialistas, 22% aos países capitalistas industrializados e 11% aos países em desenvolvimento.
O que a URSS exportava para o ocidente?
Nas décadas de 1970 e 1980, a URSS se tornou o principal fornecedor de petróleo e gás natural para os países ocidentais, principalmente para a Europa, que exigia matérias-primas baratas.
De 1970 a 1986, a participação de gás nas exportações russas cresceu de 1% para 15%. Em 1970, a URSS assinou um acordo com a República Federativa da Alemanha para o fornecimento de gás das recém-descobertas jazidas na Sibéria em troca de tubos de grande diâmetro e equipamentos necessários para a construção de gasodutos. Desde o primeiro momento, os Estados Unidos fizeram todo o possível para impedir a cooperação entre Moscou e países europeus no mercado de gás, mas não foram bem-sucedidos.
Se em 1970 a exportação de gás natural era de 3,3 bilhões de metros cúbicos, em 1986 os volumes aumentaram para 79,2 bilhões de metros cúbicos.
(Leia mais sobre como a URSS tornou a Europa dependente do gás russo aqui.)
Em segundo lugar, estavam carros e equipamentos mecânicos. Em 1986, a participação desses itens nas exportações atingiu 15%.
O automóvel Moskvich, por exemplo, fabricado pela fábrica da MZMA (mais tarde AZLK), tornou-se conhecido na Europa depois de participar com sucesso em ralis internacionais no final dos anos 1960. Foi vendido na França e na Grã-Bretanha.
Além disso, nas exportações soviéticas estavam equipamentos militares, usinas térmicas e hidrelétricas, reatores nucleares, licenças para a produção de turbinas e geradores.
A participação de outros bens era irrisória perto desses produtos.
Importações
Segundo as estatísticas oficiais da URSS, Moscou importava em 1986 equipamentos mecânicos, metalúrgicos, forjas e veículos (40,7%), produtos alimentícios (17,1%), bens industriais (13,4%), minérios, metais e seus derivados (8,3%), produtos químicos, fertilizantes e borracha (5,1%), combustível e eletricidade (4,6%).
Entre 1945 e 1991, Moscou importou 500 mil carros e caminhões estrangeiros, entre eles, Tatra 111, Skoda-LIAZ, Mitsubishi-Fuso e Komatsu-Nissan.
Em segundo lugar na lista de bens importados pela URSS estavam os produtos alimentícios. Devido à urbanização e à ida da população rural para as cidades, a URSS foi forçada a começar a importar alimentos: grãos, chá, carne, frutas e açúcar. Os volumes cresceram até o colapso da URSS: em 1960 o país comprou 66 mil toneladas de carne, já em 1980, foram 900 mil toneladas.
Após a morte de Ióssif Stálin, no final da década de 1950, o governo da URSS decidiu reorganizar a economia para melhorar o bem-estar da população. No entanto, não havia bens de consumo soviéticos suficientes para todos. Havia apenas 2,1 artigos de malha e 3,2 pares de sapatos per capita. O dinheiro recebido com a exportação de recursos energéticos foi usado para adquirir couro, malhas, tecidos de algodão, seda, medicamentos e móveis. A participação de bens de consumo importados continuou a aumentar até o colapso da URSS. Mesmo assim, na memória de muitos cidadãos a última década soviética ficou marcada como um período de escassez.
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