‘Mãe Heroína’ era o título mais alto concedido às mães na URSS. O prêmio honorário era conferido às mulheres que davam à luz e criavam 10 filhos ou mais. A entrega acontecia no no primeiro aniversário do último filho, desde que as outras nove crianças ainda estivessem vivas. No entanto, os filhos que morressem ou fossem declarados desaparecidos defendendo a Pátria ou cumprindo seu dever militar ou cívico ainda entravam nessa conta.
A Ordem da Mãe Heroína era composta por uma estrela convexa de ouro de cinco pontas sobreposta a raios prateados. Sob a estrela havia uma barra em esmalte vermelho com as seguintes palavras: “Mãe Heroína”.
O prêmio foi concedido pela primeira vez a 14 mulheres em 27 de outubro de 1944. A primeira Mãe Heroína foi Anna Aleksakhina, de uma vila na região de Moscou. Ela teve duas filhas e 10 filhos, dos quais quatro nunca voltaram das frentes da Segunda Guerra Mundial.
Não era por acaso que o prêmio foi instituído durante a Segunda Guerra Mundial. O título de Mãe Heroína era concebido como uma medida de apoio às mães que haviam perdido seus filhos na guerra, além de servir de incentivo para que a geração mais jovem tivesse o maior número possível de filhos para preencher o buraco demográfico causado pela guerra.
As crianças legalmente adotadas também eram levadas em conta. A adoção de crianças cujos pais haviam morrido na guerra passou a ser, inclusive, encorajada.
Em Tachkent, por exemplo, um monumento foi erguido para homenagear a mãe uzbeque Bakhri Akramova, que, durante a Segunda Guerra Mundial, adotou 15 crianças órfãs evacuadas de diferentes repúblicas da URSS para o Uzbequistão soviético. E este estava longe de ser o único caso do tipo.
As mulheres dos rincões soviéticos, onde as famílias tinham tradicionalmente mais filhos, eram mais frequentemente condecoradas com o título de Mãe-Heroína. Nas aldeias russas, porém, apesar do número de filhos, também havia uma alta taxa de mortalidade infantil.
A ordem e o título continuaram sendo conferidos até a dissolução da URSS em 1991. No total, foi dado a mais de 430 mil mulheres durante o seu tempo de existência. As Mães Heroínas também recebiam vários benefícios do Estado – pequenas quantias mensais por cada filho, pensão atualizada, viagens gratuitas no transporte público e tarifas com desconto em serviços públicos. Também costumavam ser as primeiras na fila para moradia gratuita.
Mães com vários filhos também podiam receber outros prêmios além de Mãe Heroína. Por terem cinco ou seis filhos, as mulheres recebiam a Medalha ‘Maternidade’ – bronze ou prata, respectivamente.
A ‘Ordem da Glória Materna’ era entregue, em diferentes classes, para as mães de sete, oito ou nove crianças.
A imagem da mãe com uma família grande foi romantizada em vários filmes soviéticos. Por exemplo, ‘Era uma vez 20 anos depois’ (1980) mostra um encontro de ex-colegas de classe em que a protagonista não consegue responder à pergunta: “Qual foi a coisa mais importante que aconteceu em sua vida?” Mais tarde, ao saberem que ela teve 10 filhos, todos os seus colegas de classe entram em êxtase e dizem que ter e criar filhos é a coisa mais importante em sua vida. Além disso, ela “possui um casamento feliz e continua feminina”.
O prêmio deixou de ser concedido após a queda da URSS. A Rússia moderna criou, mais tarde, a “Ordem da Glória Parental”. Desde 2008, o título passou a ser atribuído aos pais ou a um único progenitor por criarem mais de quatro filhos e, desde 2010, aos pais com mais de sete filhos (em ambos os casos, próprios ou adotados). Um benefício em dinheiro também é entregue juntamente com o prêmio, que, desde 2022, equivale a 200.000 rublos (cerca de 17 mil reais). Ao todo, cerca de 500 famílias chegaram a receber o prêmio.
Por iniciativa do presidente russo Vladimir Putin, o título Mãe Heroína da era soviética foi revivido no último dia 15 de agosto. A honra será conferida às mães (com cidadania russa) que derem à luz e criarem 10 filhos ou mais (que também sejam cidadãos da Rússia).
Agora, as regras de qualificação para o título restituído são semelhantes às soviéticas. Todas as crianças devem estar vivas, embora seja feita uma exceção para aquelas que falecerem ou sejam declaradas desaparecidas no exercício de funções militares, relacionadas ao trabalho ou cívicas, bem como em consequência de atos terroristas ou situações de emergência. As mães recebem o título e a medalha, além de uma recompensa financeira de um milhão de rublos (aproximadamente US$ 85.000).
Abaixo, pode-se ver como é a nova ordem. Inscrito de forma proeminente ao redor de um medalhão de ouro dentro de uma estrela de cinco pontas estão as palavras: Mãe Heroína; e uma águia de duas cabeças – o brasão oficial da Rússia – é estampada em um fundo vermelho esmaltado no centro. A ordem é suspensa pela bandeira tricolor russa (branca, azul e vermelha) emoldurada em ouro e cravejada com um diamante.
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