O primo de Napoleão que convenceu o imperador russo a tomar Paris

Russia Beyond (Foto: Domínio público; Paul Delaroche; Aleksêi Kivchenko)
Charles-André Pozzo di Borgo era inimigo mortal do imperador francês e desempenhou papel significativo em sua queda. Para combater Napoleão, ele chegou até a servir ao tsar russo Alexandre 1º.

“Pozzo di Borgo era o homem que mais odiava e deificava Napoleão”, escreveu o historiador francês Albert Vandal sobre um dos diplomatas russos mais influentes do século 19, primo em quinto grau do imperador da França, Napoleão, e seu inimigo mortal.

Quando já estava na ilha de Santa Helena, Napoleão escreveu em suas memórias que foi justamente o conselho de Pozzo di Borgo ao imperador russo que mudou o destino da França, da Europa e do mundo inteiro.

Do amor ao ódio

Charles-André Pozzo di Borgo pertencia a uma antiga família de Córsega cuja história estava intimamente ligada à da antiga família Bonaparte. As duas famílias, ligadas por um parentesco distante, revezavam, de tempos em tempos, suas atitudes: ora eram aliadas, ora rivais.

Quando criança, Charles-André foi amigo próximo de Napoleão e de sua família, e viveu por algum tempo na casa da família Bonaparte. Os dois meninos sonhavam com a independência de sua ilha natal, que, pouco antes de seu nascimento, quase se tornou livre após lutar contra Gênova, mas perdeu a liberdade com a chegada dos franceses, em 1769.

Charles-André Pozzo di Borgo.

A divergência de opiniões dos amigos começou logo após a partida de Napoleão para estudar na França. Após diversos anos no continente, Napoleão se tornou um verdadeiro francófilo.

A ruptura final ocorreu durante a Revolução Francesa, quando Bonaparte já tinha se tornado um fervoroso oponente da independência da Córsega. Na primavera de 1793, o líder do movimento de libertação nacional da Córsega, Pascal Paoli, anunciou uma ruptura nas relações com Paris e pediu a ajuda dos britânicos. No ano seguinte, o proclamado Reino da Córsega estava sob o protetorado do rei britânico George 3°, enquanto Pozzo di Borgo foi nomeado presidente do Conselho de Estado local.

A família Bonaparte acusou de traição Pozzo di Borgo, que, por sua vez, se tornou o principal iniciador da expulsão de Napoleão da ilha.

Em outubro de 1796, devido às brilhantes vitórias do general Napoleão no norte da Itália, os britânicos foram forçados a evacuar suas tropas da Córsega. Os franceses ocuparam a ilha e, então, o próprio Pozzo di Borgo teve que fugir: Bonaparte riscou, ele mesmo, o nome de Borgo da lista de anistiados.

A serviço dos russos

Depois de passar algum tempo na Áustria e na Grã-Bretanha, Pozzo di Borgo acabou servindo à Rússia em 1804. Ele foi designado ao Colégio de Relações Exteriores, ocupou o posto de Conselheiro de Estado e começou a realizar missões diplomáticas para o imperador russo Alexandre 1º na Europa.

Após a derrota da quarta coalizão anti-francesa e a conclusão do Tratado de Tilsit entre o tsar russo e o imperador da França, em 7 de julho de 1807,  Alexandre 1º recusou-se a entregar Pozzo di Borgo a Napoleão. Porém, Borgo foi forçado a deixar de servir à Rússia.

Pozzo di Borgo voltou a Viena e, depois, a Berlim, continuando, no entanto, a informar, de maneira não oficial, ao tsar russo sobre a situação na Europa. Em conversas com a aristocracia local, que falava com desprezo de Napoleão, Pozzo di Borgo defendia ferozmente seu inimigo: “O que esses pequenos sabem sobre Napoleão? Se soubessem tanto dele como eu, estariam tremendo de medo, como se estivessem com febre. Como esses anões podem se comparar a um gigante!? Eles são ridículos!", dizia Pozzo di Borgo.

Contra Paris

Napoleão Bonaparte.

A invasão do “Grande Exército” francês à Rússia e o início da Guerra Patriótica de 1812 permitiram que Pozzo di Borgo voltasse ao serviço de Alexandre 1º. Ele participou de várias batalhas contra as tropas francesas, voltou a realizar missões diplomáticas e foi promovido a major-general.

Foi Pozzo di Borgo que, em março de 1814, convenceu os hesitantes aliados a entrarem em Paris, algo que acabou por contrariar todos os planos militares de Napoleão e acelerar a sua queda.

Imperador Alexandre 1° da Rússia.

“O objetivo da guerra está em Paris. Enquanto você pensa em batalhas, corre o risco de ser derrotado porque Napoleão sempre fará batalhas melhor do que você. É preciso acabar a guerra não por meios militares, mas por meios políticos. Toque Paris com apenas um dedo e o colossal Napoleão será derrubado: você quebrará a espada que não consegue arrancar dele”, disse Pozzo di Borgo.

Tropas russas entram em Paris.

Diplomata eficiente

Graças aos esforços de Charles-André Pozzo di Borgo, os Bourbons retornaram ao trono francês. Ele conseguiu convencer o tsar russo, que tinha uma opinião ruim desta dinastia, que a única maneira de evitar uma guerra civil no país era permitir que os Bourbons retornassem ao trono. Foi ele quem levou a Luís da Provença (o futuro Luís XVIII) a oferta da coroa da França.

Duque de Wellington em Waterloo.

Após o retorno triunfante de Napoleão ao poder em 1815, Pozzo di Borgo esteve com as tropas do duque de Wellington, onde representou o tsar russo. Ele participou da Batalha de Waterloo, durante a qual foi ferido.

Charles-André Pozzo di Borgo.

No período pós-guerra, Pozzo di Borgo serviu por muitos anos como enviado especial de Alexandre 1° na corte de Luís. O diplomata fez todo o possível para garantir que a França voltasse ao sistema de relações europeias e para que sua conexão com a Rússia nunca enfraquecesse. Ele exerceu enorme influência, tanto sobre Alexandre 1°, quanto sobre os monarcas franceses.

Pozzo di Borgo morreu em 1842, vivendo mais de duas décadas mais que Napoleão.

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